"O que fizeram com as declarações de Costa é uma cobardia, uma canalhice"

Miguel Sousa Tavares comentou, esta segunda-feira, a publicação de um vídeo com o primeiro-ministro a falar com um jornalista em 'off'.

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Notícias Ao Minuto
24/08/2020 23:11 ‧ 24/08/2020 por Notícias Ao Minuto

Política

Miguel Sousa Tavares

Miguel Sousa Tavares analisou, esta segunda-feira, no seu espaço de comentário habitual no 'Jornal das 8', da TVI, a polémica declaração do primeiro-ministro, divulgada nas redes sociais - apesar de ter sido dita em ‘off’ - , onde António Costa se refere aos médicos envolvidos no surto de Reguengos de Monsaraz como “cobardes”.

O escritor começou por dizer que “evidentemente que não é aceitável o que aconteceu em Reguengos de Monsaraz”, onde morreram 18 idosos, relembrando que o próprio primeiro-ministro reconheceu, numa entrevista dada ao Expresso, que “alguma coisa de errada aconteceu” e por isso é que “há o tal relatório do Ministério Público” que está em “segredo de justiça, o que é uma treta”.

“Há responsabilidades a apurar que não foram apuradas. É evidente que a ministra, no mínimo, foi infelicíssima nas declarações que fez. Não sei se a Ordem dos Médicos tem ou não tem competência para fazer um relatório sobre os lares. Não sei se a ARS pediu que os médicos fossem, os médicos não quiseram ir ou foram. Não se sabe. Agora o ataque que o primeiro-ministro faz ao relatório da Ordem dos Médicos é um bocadinho ‘não gosta da mensagem, quer matar o mensageiro’. O ataque é de tal maneira desalmado que não faz grande sentido”, explica Sousa Tavares, acrescentando que a questão de fundo, no caso do lar de Reguengos de Monsaraz “é que os doentes não estavam assistidos medicamente e deviam estar, estiveram 15 dias sem assistência” e não se o documento é viável ou não.

Ainda sobre o relatório da Ordem dos Médicos, o comentador salienta que “não fica bem ao primeiro-ministro” este tipo de reações e diz que o que António Costa devia fazer era “pegar o problema de frente” e revelar quem falhou, “com a certeza de uma coisa: Falhou o Estado português”.

Quanto à frase do Chefe do Governo, dita em ‘off the record’, a um jornalista do Expresso, durante uma entrevista ao jornal, e que acabou por ser partilhada nas redes sociais, Miguel Sousa Tavares diz que “é uma coisa completamente diferente”.

“Toda a gente, primeiro-ministro incluído, tem direito em dizer em particular coisas que não diz em público, porque, se não, vamos andar todos com a mão na boca, com medo dos bufos, orelhudos e microfones. Isto é uma sociedade doente”, frisa o também jornalista.

Mas Miguel Sousa Tavares vai mais longe e recorda que quem divulgou esta conversa ‘off the record’ cometeu um crime.

“Quem o fez seguramente, jornalista ou não jornalista, trabalhava num setor de informação e cometeu um crime deontológico gravíssimo porque aquilo equivale, de facto, a uma escuta ilegal. É pior. O que fizeram com as declarações do primeiro-ministro é uma cobardia, uma canalhice. Não se faz”, atira, aproveitando para lançar criticas também aos médicos.

“Quando a Ordem, o Sindicato e a Federação comentam essas palavras do primeiro-ministro, onde ele chama cobarde aos médicos, fazem duas coisas absolutamente erradas. Primeiro, dizem que ele atingiu a classe toda e não é verdade. Ele referia-se àqueles médicos especificamente. E segundo, que pelo contrário, que os médicos foram lá voluntariamente apesar das condições desumanas em que estavam os doentes. Ora, este apesar das condições desumanas não é coisa que se diga. Quando mais desumanas são as condições dos doentes, maior a necessidade que têm de médicos, maior o dever dos médicos de os acudirem. Este apesar é fatal aqui”, conclui Sousa Tavares.

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