O "documento tem uma página em branco nesta matéria de valorização do trabalho e dos trabalhadores", criticou Jerónimo de Sousa, assinalando que esta é uma "questão central numa perspetiva de justiça social".
O líder comunista falava aos jornalistas no final de uma reunião com o primeiro-ministro, que decorreu na residência oficial, em São Bento (Lisboa), com o objetivo de dar a conhecer aos partidos com representação parlamentar o esboço do Plano de Recuperação e Resiliência, que é um dos instrumentos desenhados a partir da visão estratégica do gestor e professor universitário Costa Silva.
Sobre a reunião, Jerónimo de Sousa indicou que "há áreas onde é possível a convergência", mas também existem "outras áreas onde existem diferenças de opinião, mas não uma diferença insanável".
O comunista pediu "uma evolução positiva" do documento e sublinhou que o Governo pode contar com o PCP, que está empenhado em contribuir "com propostas concretas" para esta discussão e não vai "levantar a dificuldade pela dificuldade".
Questionado se este documento pode ser um mau prenúncio para o Orçamento do Estado para 2021, o líder do PCP respondeu que "pode ser uma resposta curta" mas ressalvou que "são questões separadas", pelo que não quis "fazer antecipações de coisas que não existem".
No final do encontro, o secretário-geral do PCP destacou a "importância do emprego público", assinalando que "faltam profissionais", por exemplo, na saúde, segurança social, justiça, forças de segurança ou nas escolas.
"É necessário esse reforço para dar resposta aos problemas que aí estão", destacou.
Na ótica dos comunistas, esta poderia também ser um "momento para potenciar a economia e os comandos de empresas estratégicas que tanta falta fazem ao país pela sua privatização", através de nacionalizações.
Entre outras "matérias sensíveis", o PCP pediu a "construção de hospitais que há seis anos aparecem sempre nas propostas de Orçamento do Estado e nunca têm sido concretizadas", uma rede pública de creches, maior investimento nos lares de idosos ou ainda o reforço da produção nacional e do investimento público.
"É altura de procurar, através da defesa do interesse nacional, que os fundos sejam aplicados em resposta aos problemas da pandemia" e também às matérias que "têm sido adiadas", advogou.
Por outro lado, destacou o investimento no Serviço Nacional de Saúde e em infraestruturas.
O esboço do Plano de Recuperação e Resiliência prevê um investimento de 12,9 mil milhões de euros em resiliência e transição climática e digital, sendo a maior fatia, 3.200 milhões de euros, destinada a saúde e habitação.
O primeiro-ministro, António Costa, reúne-se hoje em São Bento (Lisboa) ao longo do dia com os partidos com representação parlamentar, a quem está a apresentar as linhas gerais deste plano, dividido em três grandes áreas: resiliência, transição climática e transição digital.
Para a resiliência, que junta as vulnerabilidades sociais, o potencial produtivo e a competitividade e coesão territorial, o Governo prevê um investimento de sete mil milhões de euros, mais de metade do total, sendo que a maior parcela, 3.200 milhões, será aplicado no Serviço Nacional de Saúde, na habitação e em respostas sociais.
Para o potencial produtivo, que agrega o investimento e inovação com qualificações profissionais, estão destinados 2.500 milhões de euros, segundo o documento distribuído aos jornalistas em São Bento.
Já para a competitividade e coesão territorial são previstos 1.500 milhões de euros.
Para a transição climática, o plano prevê um investimento de 2.700 milhões de euros e para a transição digital estão alocados três mil milhões, divididos entre as escolas, as empresas e a administração pública.
A primeira versão deste plano, que é um dos instrumentos desenhados a partir da visão estratégica de Costa e Silva, vai ser apresentado em 14 de outubro no parlamento, e no dia seguinte será apresentado à Comissão Europeia.
O Plano de Recuperação e Resiliência enquadra-se no Plano de Recuperação Europeu.