"Emergiram novos tipos de desafios com o aumento da utilização de videoconferências. Tivemos sempre conscientes e alertámos para o facto de as videoconferências serem vulneráveis do ponto de vista de segurança", refere à Lusa fonte do Secretariado Geral do Conselho Europeu, a instituição encarregada de assegurar a segurança das comunicações entre os parceiros europeus.
Frisando que a capacidade do Conselho aumentou significativamente desde o início da pandemia -- no princípio, o Conselho tinha apenas capacidade para duas reuniões por videoconferência por dia com o máximo de 30 participantes, e atualmente "opera com frequência mais de vinte reuniões por dia, incluindo reuniões ministeriais, de grupos de trabalho e em trílogos" --, a mesma fonte sublinha que a multiplicidade dos sistemas de videoconferência utilizados pelos Estados-membros aumenta a vulnerabilidade do sistema.
"O Secretariado do Conselho não opera ou gere um único sistema de videoconferência entre todos os Estados-membros. Cada departamento dos Governos nacionais conecta-se ao 'hub' [rede central] do Conselho, usando os seus próprios sistemas, o que acrescenta, claro, uma [nova] camada de complexidade e também de riscos", frisa o Concelho.
Devido à vulnerabilidade da videoconferência, o Secretariado sublinha assim que "as videoconferências não são reuniões formais do Conselho e nenhum assunto classificado pode ser discutido" em formato virtual.
A este cenário, Irene Plank, diretora de comunicação estratégica no Ministério de Relações Externas da Alemanha, acrescenta também a dificuldade em comunicar através de um formato virtual.
Sublinhando, em entrevista à Lusa, que a presidência alemã tinha planeado uma "presidência normal", com "reuniões presenciais, conferências de imprensa e fotos de pessoas a saírem das cimeiras", a partir de abril tornou-se claro que "a maioria da presidência teria de ser digital", o que Plank qualifica de mudança "massiva".
"Tivemos de encontrar novas maneiras [de comunicar] e o nosso objetivo foi o de criar um espaço público europeu onde podíamos falar sobre a maioria dos assuntos e onde poderíamos chegar a mais pessoas do que caso tivéssemos mantido o formado habitual", refere Irene Plank.
Face à vulnerabilidade decorrente do formato virtual, a responsável alemã refere que a presidência colaborou com vários parceiros internacionais para aumentar a capacidade de resposta.
"Estamos a trabalhar com o Serviço Europeu de Ação Externa (SEAE) e com os Estados-membros numa espécie de 'rede de reação rápida' para que nos tornemos todos mais conscientes da maneira como a desinformação funciona e para que desenvolvamos estratégias para contrariá-la. Estabelecemos também ligações com o grupo do G7 com o mesmo objetivo, e estamos igualmente a falar com a NATO", frisa Plank.
Oito meses de pandemia e de combate a ciberataques e desinformação fizeram com que a UE desenvolvesse uma maior resiliência em termos de segurança.
Nesse âmbito, o Secretariado Geral do Conselho refere à Lusa que "a presidência portuguesa irá ter ao seu dispor um serviço que, com base na experiência, terá sido melhorado e estará melhor adaptado às necessidades do Conselho e da Presidência".
Também o SEAE, em nota à Lusa, refere que a pandemia impulsionou a criação de uma 'Covid-19 Cyber Task Force' para "cooperar e coordenar questões ligadas aos ciberataques" entre a Comissão, a Europol, o SEAE e a Agência Europeia para a Segurança das Redes e da Informação (ENISA, na siga em inglês).
"O SEAE mantém contactos contínuos com outras instituições europeias relevantes e agências, assim como com a presidência do Conselho da UE, para prevenir, desencorajar dissuadir e responder a ciberatividades maliciosas", refere fonte do SEAE à Lusa.
Hanna Smith, diretora de investigação e análise no Centro Europeu de Excelência para Combate às Ameaças Híbridas, sublinha, no entanto, que, ainda que a preparação da UE esteja a um "bom nível" para este tipo de ameaças, muitas vezes estas "não podem ser contrariadas" porque os atores procuram criar um clima de "preocupação ou medo" que "extenue" o lado adverso.
"A preparação está a um bom nível quando nos referimos aos aspetos técnicos: os níveis de deteção são bons e a sensibilização também o é. Agora é uma questão de termos uma paciência estratégica para esta batalha e assegurar-nos de que não ficamos exaustos demasiado cedo", salienta a investigadora em entrevista à Lusa.