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Seis contra um no debate final. Marcelo à defesa em ataque concertado

Depois dos debates frente-a-frente, chegou o debate final, com todos os candidatos à Presidência da República. Seis em estúdio e Marcelo em videoconferência, por indicações da DGS, após ter tido um teste à Covid-19 com resultado positivo e dois negativos.

Seis contra um no debate final. Marcelo à defesa em ataque concertado
Notícias ao Minuto

22:16 - 12/01/21 por Natacha Nunes Costa

Política Presidenciais

Os candidatos que estão na corrida a Belém participaram, esta terça-feira, dia 12 de janeiro, no único debate a sete.

Nos estúdios da RTP estiveram seis dos candidatos à Presidência da República. Marcelo Rebelo de Sousa participou por videoconferência, a partir de casa, por recomendação das autoridades de saúde, após ter tido um teste à Covid-19 com resultado positivo e dois negativos.

O debate começou com um dos temas que mais questões tem levantado esta semana: A realização das eleições presidenciais. Posteriormente, o jornalista questionou os sete sobre a estabilidade do SNS, num ano tão atípico como 2020 em que a Saúde Pública foi colocada à prova; sobre a relação que o Presidente da República deve manter com o Governo e restantes instituições; sobre a economia; e ainda sobre as suas mais-valias como possíveis Chefes de Estado.

Faz sentido haver eleições a 24 de janeiro, com o país a viver uma crise pandémica tão grave ou estas deviam ser adiadas?

André Ventura - "A questão é complexa. Ninguém desejaria ter eleições neste contexto. A abstenção pode ser muito marcante, devido ao contexto em que vivemos. O Governo não preparou devidamente um ato que já se sabia, há um ano, que ia ter lugar por força das normas constitucionais. É evidente que será mau para todos o que está a acontecer. Posto isto, o que deveria ter sido feito era uma revisão constitucional. Politicamente, não há aqui ninguém que dissesse: 'não, eu quero eleições agora'. Mas a questão não é essa".

Ana Gomes - "Pedi que isso fosse ponderado pela Assembleia da República e pelo Presidente da República porque hoje houve dados novos que não havia no passado. Os especialistas previram a triplicação dos casos Covid para o fim deste mês. Portanto, isto vai determinar o confinamento geral, afetar a campanha e as eleições [...]. Eu não desejo o adiamento, eu disse é que ele devia ser ponderado. Porque quando há vontade política há sempre soluções".

João Ferreira - "Neste momento é uma evidência que vão haver eleições e é útil nos concentrarmos, enquanto candidatos, em criar as condições para que nos dias que temos até às eleições se possa fazer um trabalho de informação, de esclarecimento, de mobilização das populações dentro daquilo que são as regras sanitárias imprescindíveis num momento como aquele que estamos a viver [...]. Era importante, da parte das autoridades e do Governo, garantir que tudo está a ser feito, desde agora, para que as pessoas possam ir votar. Não devem contribuir para uma sensação de alarmismo".

Marcelo Rebelo de Sousa - "Eu hoje, ao ouvir os partidos a cerca da renovação do Estado de Emergência coloquei outra vez a questão da revisão constitucional e não houve nenhum que tivesse defendido a ideia de uma revisão constitucional e, portanto, o adiamento das eleições. E, portanto, percebendo as razões, cheguei à conclusão de que não há condições para a Assembleia da República avançar para uma revisão que previsse o adiamento [...]. Votando em qualquer um dos sete candidatos, o que interessa é que votem"

Tiago Mayan Gonçalves - "Estão reunidas as condições que temos. O problema aqui é que o Governo trouxe-nos a um ponto de não retorno neste assunto. Daqui a cinco dias vamos ter pessoas a votar. A impreparação e a incapacidade de previsão deste Governo para o que ia acontecer neste contexto é que nos trouxe a um ponto de não retorno. É impossível, agora vamos ter que fazer com as condições que temos".

Marisa Matias - "No contexto de pandemia, no contexto que estamos a viver atualmente, um bocadinho de humildade não nos faz mal. Estamos a aprender com a própria pandemia. Afeta as eleições, mas é nossa obrigação fazer a melhor campanha com as condições que temos, no sentido de esclarecer as pessoas. Também é obrigação do Governo criar condições para que as pessoas possam votar em segurança".

Vitorino Silva - "Se eu fosse eleito Presidente da República tinha vergonha de tomar posse num país em que metade não foi às urnas eleitorais"

SNS. Robusto ou com escassez de meios?

João Ferreira - "Há uma enorme lição que temos de retirar desta pandemia. Quando rebentou a Covid-19 percebemos todos que é com o SNS que podemos contar. Aqueles que, ao longo dos anos, foram fazendo negócio com a saúde, foram fazendo negócio com a doença, imediatamente, naquele momento de aperto puseram-se ao fresco. [O desinvestimento no SNS obrigou] o Estado, nos últimos meses, a gastar 750 milhões de euros a unidades Privadas para assegurarem respostas que o SNS não estava em condições de dar".

Tiago Mayan Gonçalves - "Há uma total incongruência entre quem há meses dizia que o setor social e privado não era necessário e agora clama por ele. É a primeira incongruência que aponto. É uma evidência que todos já reconhecem neste momento que há mortes por Covid e não Covid por não se ter recorrido aos privados".

Ana Gomes - "O problema não é de gestão, é de falta de recursos. A Alemanha gasta 9% do PIB em Saúde, o que é que nós não faríamos se gastássemos isso em reforço do SNS?! Uma boa fatia, em 2019, ia para os Privados, porque o Estado subcontratava aos Privados. Nós temos de ter boa gestão, reforço e articulação da rede hospitalar com a rede de cuidados primários, com a rede de cuidados continuados integrado, para que não se passem situações como as que vimos dos 3 mil lares ilegais [...]. A fantasia dos seguros não serve a saúde pública. O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa tem dado a mãos aos Privados, chamou-os a Belém quando a ministra estava a tentar negociar os tais acordos a um custo justo. A maior parte deles não querem doentes Covid, só aceitam doentes não Covid".

Marcelo Rebelo de Sousa - Eu penso que esta pandemia permitiu algumas lições. O SNS é a coluna vertebral da saúde em Portugal, é insubstituível. É preciso investir mais no SNS. O Orçamento para 2020 previa mais investimento, que ficou claramente prejudicado pela pandemia. O Orçamento para 2021 e para os anos seguintes tem de investir mais no pessoal da saúde, no seu estatuto, nos investimentos no SNS [...]. Outra conclusão desta crise é que é preciso que haja um entrosamento, uma relação maior entre a Segurança Social e a Saúde [...]. O Público é essencial, na Constituição aparece em primeiro lugar, obviamente, o Social cumpre uma missão, muitas vezes apoiado pelo Público e o Privado tem o seu espaço e o Público pode recorrer ao Privado em casos específicos, como aconteceu na vigência do Estado de Emergência".

André Ventura - Uma das leis que Marcelo Rebelo de Sousa devia ter vetado e não vetou foi esta lei das bases da Saúde que permitiu que esta falta de doseamento fosse colocada. Nós hoje temos problemas enormes no SNS e os enfermeiros, por exemplo, têm sido muito mal tratados por este Governo. Não podemos é partir daqui para dizer que a Saúde Privada é uma desgraça. Isso é um preconceito ideológico contra o Privado"

Marisa Matias - "O SNS sofreu um enorme desinvestimento. Tem sido maltratado. Foi particularmente maltratado durante o Governo do PSD/CDS. O que eu quero é que, precisamente, os cortes que existiram deixem de existir e que seja reforçado o investimento no SNS [...]. É um mito que o SNS seja mais caro. O SNS custa menos aos portugueses e é mais eficiente. Quando começou a pandemia, os Privados queriam cobrar 13 mil euros por cada doente com Covid".Vitorino Silva - "Se estivesse a morrer, não ia escolher ser tratado por um médico do Público ou do Privado. Eu queria era ser salvo. A vida não tem preço. Prefiro ser tratado no Público, mas se não tivesse vaga onde está o meu povo eu queria ser tratado".

Relação do PR com as instituições e com o Governo

Tiago Mayan Gonçalves - Entre Marcelo e Costa já não se sabe onde acaba um e onde e começa o outro. Isso tem-se verificado ao longo deste mandato. Marcelo Rebelo de Sousa, por opção pessoal de busca de popularidade, tomou uma decisão estratégica de estar ao lado deste Governo para colher os louros desta popularidade. E sempre que vê sondagens a flutuar no sentido contrário reage para reaver essa popularidade"

Marisa Matias - A relação entre Marcelo e o Governo foi correta, com algumas exceções, nomeadamente, quando decidiu reunir com o diretor da PSP. Em questões como saúde, combate à precariedade ou na relação banca, a parceria entre Governo e Marcelo criou bloqueios. Não creio que deste ponto de vista a relação do Presidente tenha sido a de desbloquear para resolvermos os problemas e sim no sentido de manter esses bloqueios".

Vitorino Silva - "Se eu fosse Presidente da República e fosse visitar uma fábrica da AutoEuropa não dava confiança ao primeiro-ministro para dizer 'candidate-se, para ser ele a anunciar a minha candidatura".

André Ventura - "Aquele senhor que está naquela câmara tem o apoio do PS. Não há ninguém de Direita que possa votar Marcelo Rebelo de Sousa. Marcelo Rebelo de Sousa permitiu a substituição da procuradora-geral da República, por exemplo. É o candidato do PS, elogiou Mário Centeno, elogiou António Costa[...]. António Costa faz o que faz porque sabe que Marcelo nunca o vai enfrentar".

João Ferreira - "Os afetos de Marcelo Rebelo de Sousa são assim como a riqueza nacional: Existem, mas estão muito mal distribuídos. O Presidente da República deve tomar a Constituição como um programa para a sua ação".

Ana Gomes - "Um(a) Presidente da República deve ser um garante da estabilidade, mas não da estabilidade do bloco central de interesses que tem sido nefasto para o país. Um Presidente da República não é um Rei de Espanha, tem de cuidar de Portugal e dos portugueses e tem de influenciar no sentido de combater a precariedade, combater as alterações climáticas, apoiar quem perdeu o emprego, as mulheres que trabalham no setor social e que fazem milagres com salário mínimo"

Marcelo Rebelo de Sousa - "Uns e outros queriam um Presidente mais alinhado à Direita ou mais alinhado à Esquerda. Ora o papel de um Presidente é ser um fator de integração, de unidade. A estabilidade está ligada ao compromisso, à unidade, está ligada à ideia da proximidade que vai criando condições para as instituições funcionarem. Prometi isso há cinco anos e cumpri. Ninguém foi defraudado. O sistema para não ficar coxo, precisa de uma Direita forte e de uma Esquerda forte. As democracias que melhor funcionam são de estabilidade e compromisso".

O que está a falhar para sermos ainda um país pobre?

Ana Gomes - "Desde logo está a falhar a própria organização administrativa do país e o professor Marcelo Rebelo de Sousa tem sido há décadas um grande obstáculo ao processo de regionalização que está previsto na Constituição e que nós temos de iniciar para não continuar a perder oportunidades. Precisamos também de encarar os desafios da transição energética. Esta é uma matéria que o professor Rebelo de Sousa nunca falou"

Tiago Mayan Gongalves - É preciso deixar claro uma coisa. Estamos aqui hoje devido a um percurso de décadas que esteve sempre entregue à mesma visão, à visão estatista e socialista. Quando me vêm falar de papões neoliberais… A Dra. Ana Gomes só consegue produzir a palavra neoliberal, nem explica como foi aplicada em Portugal porque nunca o foi. Nem liberal nem neoliberal. O que não quero é o desenvolvimento preconizado pelo atual Presidente. Orgulha-se de ter sido autarca durante 20 anos do concelho mais pobre do país e de o ter deixado pobre. Se Marcelo Rebelo de Sousa for reeleito, vai terminar o mandato como presidente do país mais pobre da Europa. É esta a perspetiva de futuro que temos"

João Ferreira - "Nós somamos com esta pandemia problemas económicos e sociais que o país arrasta à muitos anos, há décadas. Entre estes problemas está uma injusta produção da riqueza, uma insuficiente criação da riqueza, está um enfraquecimento de serviços públicos, agravaram-se as desigualdades. Nós temos de aproveitar este momento para relançar o país, respondendo não só a situações de emergência, mas a situações estruturais".

André Ventura - "Temos hoje uma classe médica sufocada em impostos. Há mais de 4 mil taxas. Isto mostra o cancro em que vivemos. Quem quer investir e criar emprego, está amarrado. Tudo permitido por Marcelo Rebelo de Sousa [...]. Esta geringonça perdeu a cabeça em matéria da despesa".

Marisa Matias - "Precisamos de apostar em áreas tão importantes como a transição ecológica, energética, a criação de emprego, o combate à precariedade e na nova relação com a banca. A prioridade é travar as desigualdades e tratar dos problemas estruturais do país. As desigualdades não são uma exceção, são o centro da política. O país vale todo o mesmo e as pessoas são todas iguais”, acrescenta a candidata a Belém".

Marcelo Rebelo de Sousa - Estamos em vésperas de tomar uma decisão sobre o confinamento geral. Quanto mais tempo durar a pandemia, mais tempo dura a crise. A prioridade imediata é ultrapassar a pandemia, acelerando a vacinação e criando condições sanitárias e também criando apoios económicos e sociais para que a atividade económica não morra e as desigualdades não se tornem ainda mais insuportáveis [...]. Não acreditar numa bazuca milagrosa que vem aí, mas sim fazer tudo para que tudo o que é financiamento europeu, venha mais cedo do que tarde e de uma forma consistente e não às pinguinhas, nem de forma esporádica".

Vitorino Silva - Eu oiço falar muito de milhões e milhões e milhões e temos boas universidades que ensinam os milhões. Eu nunca vi explicarem é o que é o zero. Há pessoas que utilizam os milhões que não são deles e depois é só buracos. E o que é o zero? O zero é o que separa entre o deve e o haver. Sempre ouvi dizer que se deve guardar a semente, porque quem a come não chega ao fruto.

Se for Presidente, Portugal vai ser diferente em...

Vitorino Silva - "Diferente na luz. Vai haver muito mais luz, mais brilho, e tenho a certeza que vamos ter um povo mais feliz. No fundo, é isso que os portugueses querem, que lhes falta e tenho a certeza que é isso que vai acontecer".

Marisa Matias - "Um país que se orgulha de quem aqui trabalha. Que se orgulha das lutas, que as assume, que quer que este país seja um local de justiça social e económica. Um país que não fica no passado, mas que responde aos desafios intergeracionais. Não podemos nem abandonar os mais velhos, nem os mais novos. Creio que esse é o país que merecemos".

João Ferreira - "Esperança, trabalho com direitos, igualdade entre homens e mulheres, perspetivas de realização para os jovens, cultura, um ambiente ecologicamente equilibrado, ou seja, fazer cumprir o Portugal que está inscrito nas páginas da Constituição, mas que tem sido esquecido por aqueles que juraram defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição".

Tiago Mayan - "Se eu for Presidente, Portugal terá de ser as 10 milhões de visões, anseios, esperanças, desejos, ambições de todos os portugueses e de todos os que cá viverem. É isso que quero para Portugal".

André Ventura - "Se for Presidente, não vamos ter o país em que metade trabalha para a outra metade continuar sem fazer nada. Não vou ser o Presidente que permitirá que uma grande parte do país continue a sentir que só existe Estado para uns e não existe para outros, que uns têm de trabalhar e outros podem viver à conta de quem continua a sustentar o Estado, a pagar os impostos e a sentir que sai todos os dias de casa para sustentar o país. Não vou ser o Presidente daquela metade que prefere viver à conta do trabalho dos outros".

Marcelo Rebelo de Sousa - "O fundamental é que os portugueses gostem ainda mais de Portugal, gostem ainda mais de serem portugueses e é isso o sonho de um Presidente da República".

Ana Gomes - "Um Portugal que tenha justiça, que a justiça funcione e haja justiça social, justiça fiscal para combater as desigualdades e para fazer o país andar para a frente. Um país com futuro para os jovens, com futuro para os mais idosos. Um país com esperança e que seja relevante na Europa porque há questões que só podemos resolver na Europa. Nós podemos fazer a diferença e eu, como Presidente da República, posso fazer a diferença".

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