Ferro Rodrigues admite "perplexidade" quanto a aspetos de gestão da crise

O presidente da Assembleia da República reconheceu críticas pontuais "legítimas" e admite a sua própria "perplexidade" quanto a certos aspetos no combate à pandemia.

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Sílvia Abreu
14/01/2021 12:00 ‧ 14/01/2021 por Sílvia Abreu

Política

Ferro Rodrigues

Eduardo Ferro Rodrigues foi o convidado do Podcast do Partido Socialista 'Política Com Palavra', desta quinta-feira. Questionado sobre o impacto da pandemia na política, o presidente da Assembleia da República reconheceu que é normal a existência de "críticas pontuais" ao combate da crise sanitária e admitiu que ele próprio teve a oportunidade de manifestar a sua "perplexidade" face a alguns aspetos.

Sobre o facto de nesta nova renovação do Estado de Emergência os partidos terem sido mais críticos do Executivo, em relação ao que foram no decreto do primeiro estado, Ferro Rodrigues afirma que faz parte "do jogo democrático" e dos "interesses que cada grupo parlamentar considera que tem de proteger".

"Era bom que os partidos pensassem sobretudo no interesse nacional, mas temos que compreender que há partidos que vivem momentos muito difíceis e têm de mostrar a sua diferenciação política, mesmo em momentos graves como este. Por isso, não vejo com grande surpresa nem amargura, o facto de não haver 100% de votos a favor do Estado de Emergência", admitiu.

Questionado especificamente sobre a posição do principal líder de oposição, que numa primeira fase da pandemia considerou que nem seria patriótico não aprovar o estado de exceção e que atualmente tem vindo a fazer críticas ao Executivo, o presidente da Assembleia da República refere que "do ponto de vista fundamental da pandemia, não considera que exista uma mudança acentuada por parte do PSD, ou de Rui Rio".

"Há críticas, vindas do setor do PSD, do CDS e também de pessoas individualmente, mesmo da nossa área política, à forma como alguns aspetos desta crise pandémica foram geridos. Eu próprio, embora não fosse para ser divulgado publicamente, porque era numa parte da reunião que deveria ser fechada à comunicação social, tive a oportunidade de manifestar a minha perplexidade, que continua devo dizer, sobre o facto de, depois de uma primeira onda, em que houve tantas vítimas, não se ter visto uma ação organizada, quase militarizada de apoio às pessoas que trabalham nos lares e de controlo das famílias nas visitas, com testes rápidos", reconheceu.

Ferro Rodrigues considera que críticas a aspetos pontuais são completamente "legítimas" e que "existem em todos os países", acrescentando que, até os próprios cientistas e especialistas "andam um pouco à nora", tendo alguns confessado "que o [aumento exponencial de casos] que aconteceu nos últimos 15 dias era completamente inesperado".

O líder do parlamento acrescenta ainda que a questão fundamental está "nesta arbitragem que tem de haver entre economia e sociedade por um lado, e combate à doença por outro", algo que "é muito difícil", explicou.

Eleições? "Seria uma aventura se Marcelo não continuasse como Presidente"

Sobre as eleições presidenciais que decorrem no dia 24 de janeiro, Ferro Rodrigues admitiu a possibilidade de a situação pandémica contribuir para uma maior taxa de abstenção, mas considerou "muito importante que os portugueses, que têm dado lições de resposta coesa aos desafios da pandemia, mostrassem de forma massiva que não deixam que a pandemia interrompa a democracia".

"Esperemos que seja uma votação ao nível da que aconteceu nas últimas eleições", disse.

Assumidamente adepto do papel de Marcelo Rebelo de Sousa enquanto Presidente da República, Ferro Rodrigues recordou o "comportamento exemplar" do chefe de estado perante a "coligação informal, chamada de geringonça" que levou o país a bom termo durante quatro anos.

"Um presidente que vem da Direita, uma direita social democrata diria, porque as suas preocupações sociais são bem visíveis e a transparência com que sempre tratou o Governo de António Costa são motivos mais do que suficientes para que continue. Seria, do meu ponto de vista, uma aventura que Marcelo Rebelo de Sousa não continuasse como Presidente da República neste contexto", vincou, referindo que nestas eleições não é um problema de esquerda contra direita, mas sim de ter alguém na Presidência da República que, em cooperação com o Governo, "faça avançar o país e sair desta crise tremenda".

Leia Também: Ferro Rodrigues questiona necessidade de reforço do programa da Comissão

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