Maria Matias, candidata a Belém apoiada pelo Bloco de Esquerda, já reagiu aos primeiros resultados eleitorais das presidenciais, num momento em que a contagem de votos ainda está a decorrer. A dirigente partidária assumiu a derrota e foi a primeira candidata a falar nesta noite eleitoral.
"Os resultados eleitorais estão à vista. Não são o que esperávamos, não são os que esperei e estão longe do objetivo traçamos", começou por lamentar a eurodeputada, em conferência de imprensa, a partir de Coimbra.
Mas, ainda que assumindo a derrota, Marisa Matias deixou um aviso: "Há um dado muito preocupante nestas eleições, a direita está em reconfiguração e muitos dos eleitores de direita deste país votaram num candidato de extrema direita".
A bloquista também aproveitou o momento para agradecer a todos os que tiveram consigo nesta campanha, que "confiaram o seu voto", e garantir que vai continuar "como sempre, com mais energia que sempre", a trabalhar nas "lutas comuns".
"Dei neste combate o melhor de mim. O resultado não é o que desejava. Não é o que mereciam as pessoas que me acompanharem", reiterou.
Marisa Matias adiantou que já enviou "a Marcelo Rebelo de Sousa as felicitações pela sua vitória" e falou também com Ana Gomes para lhe dizer como gosta "de ver a sua frontalidade e solidariedade acima das aldrabices e do ódio de André Ventura".
É ao PS que se deve perguntar porque "é que a esquerda não somou mais nesta eleição"
Questionada pelos jornalistas sobre se não teria sido mais benéfico desistir em favor da candidatura de Ana Gomes, a candidata presidencial defendeu que é ao PS que se deve perguntar porque "é que a esquerda não somou mais nesta eleição" para a Presidência da República.
"As candidaturas à esquerda somaram. Creio que se alguma das candidaturas da esquerda, que existiram, tivesse desaparecido, a esquerda tinha somado menos. Agora também lhe digo se a pergunta é sobre porque é que a esquerda não somou mais nesta eleição, essa pergunta terá que a dirigir ao PS e não a mim", criticou.
E reiterou: "Claro que há um aviso à esquerda, basta olharmos para os resultados e o que eu disse mantenho: estamos a assistir a uma reconfiguração da direita em Portugal".
Marisa Matias fez ainda questão de deixar claro que "este resultado não é também uma falta de comparência".
"Hoje, como ontem, amanhã como hoje, cá estarei para todas as lutas, para ganhar e para perder, como fiz sempre e faz toda a minha gente", assegurou.
2016? "Contextos eleitorais incomparáveis"
Questionada sobre para quem pensa ter perdido mais votos - se para Marcelo Rebelo de Sousa se para Ana Gomes - Marisa Matias respondeu que, mesmo sendo socióloga, tem "dificuldade em fazer análises tão profundas já neste momento".
"Estamos a falar de uma candidatura [de Marcelo] que já reunia votos muito para além do seu espaço político no momento que se apresentou a eleições", acrescentou.
Confrontada com a sua perda de votos em relação a 2016 - nessa altura teve cerca de 470 mil votos e nestas eleições, ainda sem resultados fechados, está nos cerca de 164 mil - a dirigente e eurodeputada bloquista começou por referir que se trata de "contextos eleitorais incomparáveis".
"A reeleição de um presidente e porque estamos a viver uma crise pandémica e uma crise económica e social profunda e estamos pela primeira vez a ter de enfrentar o crescimento da extrema-direita em Portugal. Tudo isso condiciona os resultados", elencou.
Marcelo Rebelo de Sousa foi reeleito Presidente da República nas eleições de domingo, com 60,70% dos votos, segundo os resultados provisórios apurados em todas as 3.092 freguesias.
Segundo os dados da Secretaria-Geral do Ministério de Administração Interna - Administração Eleitoral, Ana Gomes foi a segunda candidata mais votada, com 12,97%, seguida de André Ventura (11,90%), João Ferreira (4,32%), Marisa Matias (3,95%), Tiago Mayan Gonçalves (3,22%) e Vitorino Silva (2,94%).