A noite eleitoral deste domingo, dia 24 de janeiro de 2021, foi de emoções, mas sem grandes espantos. Marcelo Rebelo de Sousa renovou o mandato à primeira volta, Ana Gomes e André Ventura disputaram até à última o segundo lugar, a Esquerda (Marisa Matias e João Ferreira) deu um trambolhão, Tiago Mayan Gonçalves foi a grande surpresa destas eleições e Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans, ficou em último.
Contudo, o resumo destas Presidenciais não se faz em apenas quatro linhas. Os portugueses decidiram renovar a confiança em Marcelo Rebelo de Sousa com 60,70% dos votos. Aliás, deram-lhe mais cerca de oito pontos percentuais do que quando o ‘professor’ foi eleito Presidente da República pela primeira vez, em 2016, com 52%, e ao contrário do que aconteceu com os seus antecessores Cavaco Silva e Jorge Sampaio. Mais, o ex-líder do PSD conquistou a vitória nos 308 concelhos de Portugal, o que aconteceu pela primeira vez na história de Portugal.
Já Ana Gomes e André Ventura disputaram o segundo lugar até à última e durante horas. Foi preciso esperar pelo final do apuramento, pelos resultados dos grandes certos urbanos, em Lisboa, Porto e Setúbal, para desfazer as dúvidas. Já passavam das 22h30, quando se soube que Ana Gomes tinha ficado em segundo lugar por uma unha negra, que é como quem diz, por apenas um ponto percentual (12,93% contra 11,90%).
Apesar da luta renhida, a antiga eurodeputada fez história, tornando-se na mulher mais votada de sempre em Portugal e a primeira a conseguir um segundo lugar numas eleições presidenciais.
Por sua vez, André Ventura, que tinha afirmado que se demitia da liderança do Chega, caso ficasse atrás da diplomata socialista, cumpriu a promessa. Mas, poucos minutos depois, anunciou a sua recandidatura ao cargo de presidente do partido que criou.
Os grandes trambolhões da noite chegaram em 4.º e 5.º lugares, com João Ferreira, apoiado pelo PCP, a não ultrapassar os 4,32% dos votos e Marisa Matias, apoiada pelo Bloco de Esquerda, a conseguir apenas 3,95%.
Tiago Mayan Gonçalves foi, como já muitos disseram, o grande imprevisto deste sufrágio. O ‘desconhecido’ candidato apoiado pela Iniciativa Liberal conseguiu conquistar 3,22% dos portugueses que se dirigiram às urnas este domingo.
Em sétimo e último lugar ficou Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans, com apenas 2,94% dos votos, menos quase um ponto percentual do que em 2016, quando se candidatou, pela primeira vez, a Belém.
Quem não faltou a estas eleições foi também a abstenção. Dos 9,3 milhões de eleitores inscritos em território nacional, apenas 4,2 milhões exerceram o seu direito. Portugal atingiu assim um novo máximo de abstenção para a escolha do Chefe de Estado.
As reações dos candidatos aos resultados eleitorais
Após uma campanha em Estado de Emergência, em que andou sozinho, foi também sozinho que Marcelo Rebelo de Sousa se apresentou para o discurso de vitória na Reitoria da Faculdade de Direito de Lisboa para recusa a ideia de que a vitória é um "cheque em branco".
“Deixem-me dizer de coração aberto como me sinto profundamente honrado pela confiança em condições tão mais difíceis que as de 2016”, declarou o Presidente da República, no seu discurso da vitória.
Já Ana Gomes admitiu a derrota, mas afirmou que se não tivesse entrado nesta disputa, “estaríamos hoje a lamentar ainda mais a progressão da extrema-direita. Durante o discurso, a candidata deixou ainda recados à direção do PS.
Por sua vez, André Ventura deixou um aviso ao PSD. "Não há segundas-vias depois desta noite. Hoje ficou claro em Portugal e para a Europa e para o Mundo que não haverá Governo em Portugal sem que o Chega seja parte fundamental. Não há volta a dar. PSD, ouve bem, não haverá governo em Portugal sem o Chega!", gritou.
João Ferreira, um dos derrotados da noite, disse estar “convencido” que a sua candidatura “trouxe a estas eleições um contributo singular que irá perdurar para lá dos dias de hoje”, enquanto Marisa Matias assumiu que os resultados eleitorais não são os que esperou e “estão longe do objetivo".
Já Tiago Mayan Gonçalves agradeceu a todos os que o acompanharam nesta corrida e salientou que “o resultado desta noite é uma janela de esperança para todos os liberais”.
Por fim, Vitorino Silva mostrou-se “orgulhoso” na sua campanha” e desejou que Marcelo visite Rans e “faça um mandato diferente” do dos últimos cinco anos.
As reações dos partidos (e de António Costa) ao resultado das eleições presidenciais
O primeiro-ministro felicitou “calorosamente” Marcelo Rebelo de Sousa, via Twitter, enquanto Ana Gomes discursava.
“Felicito calorosamente Marcelo Rebelo de Sousa pela reeleição, com votos das maiores felicidades na continuidade do mandato presidencial, em proximidade com os portugueses, em defesa da Constituição e do prestígio internacional de Portugal, em profícua cooperação institucional”, escreveu António Costa.
Felicito calorosamente Marcelo Rebelo de Sousa pela reeleição, com votos das maiores felicidades na continuidade do mandato presidencial, em proximidade com os portugueses, em defesa da Constituição e do prestígio internacional de Portugal, em profícua cooperação institucional.
— António Costa (@antoniocostapm) January 24, 2021
O PS, que não apoiou nenhum dos candidatos, mas vários dirigentes dividiram-se entre Ana Gomes e Marcelo, defendeu que "graças aos eleitores socialistas, a democracia venceu na primeira volta" e "o extremismo de direita foi derrotado" no país, destacando o papel da ex-diplomata.
Já o líder do PSD destacou a vitória “do candidato moderado, do candidato de Centro” Marcelo Rebelo de Sousa” e o “esmagamento da Esquerda”. “Se há alguém derrotado é o PS, por falta de comparência”, disse ainda Rui Rio no final da noite eleitoral.
Francisco Rodrigues dos Santos, o líder centrista, reclamou vitória do CDS nas eleições de domingo, argumentando que todos os objetivos do partido "foram conseguidos".
Por sua vez, o porta-voz do PAN saudou o "resultado fantástico" da candidata Ana Gomes, que considerou também uma vitória do seu partido, e defendeu reflexão sobre a elevada abstenção e o crescimento de "movimentos inorgânicos e não democráticos".
A coordenadora do BE, Catarina Martins, agradeceu a "coragem de Marisa Matias" e, admitindo que o resultado não foi o esperado, considerou que a candidata presidencial conseguiu "abrir caminhos e fazer pontes". E secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, considerou que João Ferreira "merecia mais" e atribuiu uma eventual perda de votos da candidatura comunista à "dramatização" perpetrada por Marcelo Rebelo de Sousa em relação à segunda volta.
Por fim, o presidente da Iniciativa Liberal (IL), João Cotrim Figueiredo, afirmou que a candidatura de Tiago Mayan conseguiu, acima de todas as expectativas, fazer uma "campanha notável" e atingir um resultado que "ninguém diria à partida".
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