Rui Rio admitiu, esta segunda-feira, que não pondera pedir a demissão do Governo, que motivaria uma crise política durante a crise pandémica e isso "era o pior que podia haver agora. Nem me ocorre fazer uma coisa dessas". Depois de, nos meses iniciais da pandemia, o PSD ter deixado de lado o papel de oposição, os sociais-democratas mantêm agora o apoio ao Executivo, quando necessário, mas com um "sentido crítico".
Em entrevista a Miguel Sousa Tavares, na antena da TVI, o líder partidário recordou que, na primeira vaga da pandemia, a "postura" do partido se focou em "colocar a oposição de lado e ser pura e simplesmente cooperação. Se estivesse no lugar do Governo, na aquela altura, não tenho a certeza se sabia fazer melhor".
Quase um ano depois, a tática dos sociais-democratas mudou, admitiu Rio. "Mantenho a cooperação naquilo que o Governo precisa, mas tenho de ter o sentido crítico porque posso exigir que o Governo faça melhor porque temos 'know-how'. A postura correta é votar a favor de todos os estados de emergência porque, se votássemos contra, não havia Estados de Emergência. Podia abster-me, mas prefiro votar a favor, comprometendo-me, porque acho que essa é a minha obrigação", vincou.
Face às críticas que o Governo aponta ao PSD, Rio admite que acha "uma ingratidão e uma tática política errada". Porém, reconhece o parlamentar, "não posso ter estados de alma, o interesse nacional está acima. Não posso ser vingativo em relação ao PS. Se tenho sentido de Estado, não posso fazer vingança quando estão em causa coisas maiores".
"Se os portugueses não quiserem um governo liderado pelo PS, só há o PSD. Só há esta alternativa. Como partido alternativo ao PS, tenho de ter essa responsabilidade. Espero que os portugueses reconheçam isso", acrescentou.
Quanto à posição que o PSD assume no hemiciclo, Rio tem "consciência que, no momento em que vivemos, de profundo desagrado da pessoas, se começar a insultar, entre aspas, o Governo acabo por fazer aquilo que a maior parte das pessoas quer que se faça que é gritar contra o Governo. Devo fazer as críticas, mas não devo aproveitar essa onda para criar um caos ainda maior e criar mais dificuldades ao país em matéria sanitária e económica".
"Nas vacinas não há planeamento"
Ao analisar a performance do Governo, Rui Rio não tem dúvidas que este Executivo "peca fortemente por falta de planeamento. Nas vacinas não há planeamento. Quando vejo esta bagunça, pergunto: como é possível? Sobram vacinas como? Não compreendo. É uma aselhice de todo o tamanho numa matéria vital".
Questionado se demitiria a ministra com a pasta da Saúde, Rio vacila e vira o pendor da conversa: “Como primeiro-ministro não tenho dúvidas que teria demitido a ministra da Justiça”. Quanto ao papel que Marta Temido tem desempenhado, o líder dos sociais-democratas critica apenas a falta de articulação com os privados, no cenário de pandemia, devido a "tabus ideológicos".
Rio não poupou igualmente críticas à forma como foi definida a vacinação dos detentores de cargos políticos contra a Covid-19, detalhando que recusou ser vacinado devido ao "enquadramento que foi dado".
O líder democrata pondera, porém, mudar de opinião se os critérios forem revistos e se passe a vacinar um "pequeno grupo considerado vital" para o funcionamento da Assembleia da República. Nesse caso, "ainda que pudesse discordar ligeiramente, não seria chico esperto e aceitava".
Chega? "Enquanto for bazófias, estamos bem"
Convidado a responder às declarações de André Ventura na noite eleitoral, Rui Rio foi perentório: "Enquanto for assim com essas bazófias nós, os portugueses, estamos bem relativamente à extrema-direita".
Cenário diferente é aquele que se vive em Espanha, na Alemanha ou em França, onde os líderes da extrema-direita "não andam com essas bazófias nem vivem com esses clichés. Têm pensamento estruturado e a probabilidade de conquistarem eleitorado firme é grande”.
O Chega não tem um pensamento estruturado? "Nem de longe, nem de perto", assegura Rui Rio. O Chega, defende, "é uma federação de descontentes. Une-se pela negativa. Ninguém consegue ser um partido forte quando é pela negativa". Só se afirmando "como um partido pela positiva, com ideias e recursos humanos", é que o arco da governação teria de se "acautelar".
Quanto a possíveis acordos com o Chega no futuro, Rui Rio exclui esse cenário "nos termos daquilo que o Chega neste momento é. Se fizer caminho de moderação, podemos conversar". Mas há uma certeza: "Não aceitamos nada que fira os nossos princípios".
O líder político aproveitou a oportunidade para enviar 'farpas' aos que lhe apelam que tenha um discurso que permita ao PSD ir buscar o eleitorado que votou em André Ventura: "O papel do PSD é captar as pessoas para as minhas ideias, não vou fazer um discurso oportunista".
"Se me mantiver no meu sítio, com um discurso mais moderado, a conquista ao centro pelo lado do PS aparecerá naturalmente face ao descalabro da governação do PS que me dá ideia que pode melhorar, mas nunca mais vai ao sítio. Intervenho com os meus ideais e princípios", vincou.
Analisando o primeiro mandato de Marcelo Rebelo de Sousa enquanto Presidente da República, Rio considera que a 'leitura' deve ser feita à 'luz' da pandemia. É natural que o chefe de Estado tenha "de dar institucionalmente mais a mão ao Governo", mas salientou que, passada a crise pandémica, "gostava de ver o Presidente da República no seu segundo mandato um pouco mais crítico e mais exigente com o Governo".
Ainda assim, Rui Rio defendeu que demitir o Governo seria "uma completa irresponsabilidade no quadro em que o país está", considerando que agora é necessário que todos remem "para o mesmo lado e ajudar o país".
"De forma crítica, é certo, mas não criar boicotes. Não está na hora de eu tentar por cascas de banana ao Governo a ver se a coisa corre mal para eu ganhar votos com isso, não é para isso que eu estou aqui", acrescentou, advogando que "uma coisa é o Presidente da República ser mais exigente com o Governo, outra é o Presidente da República provocar uma crise e atirar com o Governo abaixo".
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