O líder do CDS-PP, que foi reconduzido com 54% dos votos num Conselho Nacional extraordinário do partido, este fim de semana, esteve esta segunda-feira nos estúdios da TVI, onde deu uma entrevista a Miguel Sousa Tavares.
Francisco Rodrigues dos Santos começou por salientar que, na qualidade de líder do CDS, não quer "perder um segundo com querelas ou fraturas internas", quer sim corresponder às expetativas de "todos os portugueses que esperam de um partido de direita social, como o CDS, uma posição firme a este Governo com uma proposta alternativa".
Apesar de afiançar que a sua vitória "ocorreu há um ano, em Aveiro", e não este domingo durante a moção de confiança, o líder dos centristas revelou que pretende "escutar todas as sensibilidades do partido" para perceber, "de uma vez por todas", o que está a dividir o partido.
"Preciso de contar, neste momento, com todos os militantes do CDS. Se o ambiente público está intoxicado sempre com querelas, com informações de que dão conta que o CDS está dividido e com fontes, em off, dentro do próprio partido, que querem desqualificar a liderança, é óbvio que não vamos conseguir singrar lá fora", sublinhou, admitindo que nem sempre se sentiu aceite pelos parceiros.
"Senti, ao longo deste ano, que a minha vitória no Congresso foi difícil de digerir em algumas franjas dentro do CDS e quero, de uma vez por todas, sentir-me legitimado para confirmar este mandato e cumprir até ao final", atirou.
Confrontado com o facto de se terem demitido 15 membros do CDS desde que assumiu a liderança do partido, 'Chicão', como é tratado pelos mais próximos, refutou que apenas se demitiram 12 e justificou as demissões com o facto de ter tentado "estabelecer pontes com outros grupos organizados" dentro do partido e, incluído, com "pessoas que não estavam afetas" ao seu projeto original.
"95% das pessoas que se demitiram agora participavam num outro grupo que entendeu retirar-se da Comissão Política Nacional do partido. Eu compreendo e não ignoro que alguns tenham decidido abandonar o projeto, mas há uma certeza que tenho: Há muitas mais [pessoas] que continuam a acreditar neste programa que eu tenho para o país e muitas outras que se querem juntar", argumentou.
"Sinto que em Portugal o mérito vale pouco"
Durante a mesma entrevista, o presidente do CDS reiterou, por várias vezes e de diferentes formas, que o partido "não está morto" e que a sua liderança foi minada.
A certa altura, Francisco Rodrigues dos Santos garantiu que tem consigo "gente altamente qualificada na direção", mas que não tem "as mesmas armas para projetar a sua mensagem e os seus protagonistas" que outras direções.
"Há aqui um défice de comunicação. Oiço muitas vezes esse argumento de que não são caras conhecidas. Não são porque não tiveram a oportunidade de se mostrarem. Em Portugal, infelizmente, nós combatemos muitos preconceitos, existe uma desconfiança crónica com os mais jovens. Acham que não são capazes, não são qualificados, não têm experiência e nunca se perguntam como é que os jovens chegaram a lugares cimeiros na nossa sociedade. Um jovem tem de ser avaliado pelo mérito, pela competência, pelas provas dadas e eu sinto que em Portugal o mérito vale pouco. Olha-se mais para um número que é a idade do que se ele tem ou não condições", defendeu.
"Estou circunstancialmente na política"
Já sobre se a sua sobrevivência dentro do partido depende dos resultados das eleições Autárquicas, o jovem político natural de Coimbra afirmou que está "circunstancialmente na política".
"Não estou dependente da política nem de nenhum resultado eleitoral. Estou dependente da minha consciência e dos meus valores que são inegociáveis e como qualquer líder de um partido em Portugal está sempre dependente da avaliação dos resultados eleitorais", realçou, deixando claro que assim que os resultados que obtiver "não forem satisfatórios" e sentir que não tem "mais nada a oferecer ao país", será o primeiro a ir embora.
Francisco Rodrigues dos Santos recusou ainda que o CDS esteja a morrer, porque "tem alma" e 47 anos de história, mas indicou que não ignora "o descontentamento que existe na sociedade" e defendeu que esse descontentamento é combatido que "soluções razoáveis", que sejam alternativa a "partidos radicais e extremistas" com soluções "tresloucadas e abjetas".
No que toca ao futuro de Portugal, o líder do CDS quer um país "competitivo do ponto de vista fiscal e económico", e defendeu medidas como baixar as tabelas de IRS e o IRC (para 19%), maior flexibilização laboral, a diminuição do "tamanho da administração pública", a limitação do mandato dos deputados e a defesa da vida.
Há duas semanas, o ex-vice-presidente do CDS Adolfo Mesquita Nunes escreveu um artigo de opinião no qual defendeu a realização de um congresso eletivo antecipado. Em resposta a este desafio, o líder do CDS apresentou uma moção de confiança à sua Comissão Política Nacional, que foi aprovada pelo Conselho Nacional na madruga de domingo com 144 votos a favor (54,4%), 113 votos contra (42,6%) e oito abstenções (3%).
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