PSD e CDS consideram que saída de Fidesz do PPE era inevitável
O PSD e o CDS consideram que a saída do Fidesz do Partido Popular Europeu (PPE), a que pertencem, era inevitável, porque o partido do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, tinha-se afastado dos valores que definem o partido.
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Política Fidesz
"É sinal de que o Fidesz era totalmente incompatível com a visão do PPE. (...) Com tudo o que se está a passar na Hungria desde 2012 - redução da liberdade de imprensa, da liberdade de expressão, da liberdade de ensino académico, da separação de poderes e independência dos tribunais - evidentemente que não havia espaço para isto", diz à Lusa o vice-presidente do PPE e líder da delegação do PSD no Parlamento Europeu (PE), Paulo Rangel.
Referindo que a expulsão do Fidesz era algo pelo que "o PSD lutava há bastante tempo", Rangel reconhece que o PPE "atuou tardiamente", por terem havido partidos que não queriam expulsar o partido húngaro por considerarem que, fora da maior família política europeia, "ficava com as mãos livres para fazer pior".
"Eu julgo que esse argumento não funcionou. O que se verificou foi que ele [Orbán] foi sempre pisando linhas vermelhas atrás de linhas vermelhas. E, portanto, a circunstância de até esses partidos que, no passado, quiseram estabelecer algumas pontes na esperança de evitar, digamos, uma derrapagem maior, até esses foram completamente solidários nisto porque compreenderam que, realmente, as linhas vermelhas estão mais do que ultrapassadas", refere.
Também o eurodeputado do CDS, Nuno Melo, afirma à Lusa que as "opções políticas do Fidesz afastaram-no enquanto partido político daquilo que são os critérios de referência imperativos do PPE", tornando a sua saída "mais ou menos inevitável".
No entanto, Nuno Melo tem "pena" que, durante um processo de divórcio que durou vários anos, "não tivesse sido possível" fazer com que o Fidesz e Viktor Orbán voltassem a adotar "práticas antigas, que eram do PPE", evitando assim a sua "radicalização".
Nesse âmbito, o eurodeputado do CDS considera que a dificuldade em ver a UE como um "mosaico" e em "ler, interpretar e relevar" as diferenças que a constituem afastam os países do leste da Europa.
"Eu acredito que, institucionalmente, a maior fratura na UE já não é uma fratura norte-sul, é uma fratura a leste relativamente ao resto do nosso espaço comum. Os países que saíram do julgo soviético, comunista (...) são países que, tendo reconquistado a sua independência há muito pouco tempo, não estão propriamente disponíveis para trocar o centralismo de Moscovo pelo centralismo de Bruxelas e um dos motivos que tem justificado muito dessa fratura, e em larga medida potenciou o 'Brexit', tem sido uma vontade forçada no sentido de um federalismo", aponta.
A vontade de "vários representantes e partidos, também no PPE", de transformarem "a Comissão Europeia num futuro Governo europeu, e os comissários em futuros ministros europeus", afasta assim, segundo Nuno Melo, "muitos representantes de muitos países" do "sonho europeu".
"O que eu espero é que a UE e os partidos do dito arco do senso comum, tenham uma capacidade de não quererem radicalizar soluções federalistas que, aí sim, potenciarão outras decisões destes países na União Europeia", salienta.
Já Paulo Rangel rejeita a ideia de que o facto de o Fidesz ter saído do PPE pelo seu próprio pé em vez de ter sido expulso pelo partido 'manche' a imagem da principal família política europeia, por considerar que "são as instituições europeias que têm os instrumentos jurídicos para pressionar o governo húngaro".
"O que mancha a UE é o Conselho [da UE] nunca ter feito nada e, portanto, eu desafio o primeiro-ministro, António Costa, na presidência do Conselho, a ativar o artigo 7.º porque ele não precisa de unanimidade, pelo menos para os primeiros passos. (...) É que, mesmo quando chegar o momento e for preciso unanimidade e esta não existir, ao menos existe um sinal político", salienta.
Interrogado ainda sobre se a saída do Fidesz pode enfraquecer o 'peso' do PPE no Parlamento Europeu -- tendo em conta que a delegação do partido húngaro representa 12 eurodeputados --, Rangel considera que "perder 11 ou 12 deputados é sempre mau" mas, neste caso, "é bom".
"Isto aqui não é uma batalha aritmética, é uma batalha por valores e princípios e, felizmente, isso foi finalmente compreendido. (...) A questão é que se ganha muito mais do que o que se perde, porque isto é uma questão de civilidade aos valores do PPE, enquanto um partido que é um adepto inabalável da democracia liberal, dos valores da democracia cristã", realça.
Já Nuno Melo considera que a saída do Fidesz do PPE "é uma notícia muito pior para a Europa e para o PE, do que propriamente dito para o PPE, porque o PPE sobreviverá tendo em conta que continua a ter um grupo relevantíssimo, o maior do Parlamento Europeu".
"Tudo o que signifique um crescimento das franjas não é uma má notícia apenas para o PPE, é uma má notícia para o Parlamento Europeu e uma má notícia para o projeto europeu tal e qual nós acreditamos nele. E esse é que é o dado relevante porque a saída de um partido como o Fidesz do PPE eventualmente para a Identidade e Democracia [grupo político de extrema-direita], aumenta as franjas eurocéticas e antieuropeístas e essa é que é a má notícia", sublinha.
O PPE adotou na quarta-feira um novo regulamento interno, com 84% dos votos, que permite a suspensão de delegações inteiras, o que teve como efeito imediato a saída do Fidesz.
Ainda a reunião do grupo parlamentar decorria quando o líder parlamentar, Manfred Weber, anunciou que, na sequência da adoção do novo regulamento interno, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, lhe comunicou a saída do Fidesz, o seu partido, do PPE.
Na missiva dirigida a Weber, à qual a Lusa teve acesso, Orbán considera que as alterações ao regulamento interno do PPE constituem "claramente uma jogada hostil contra o Fidesz", partido que deixa assim o grupo com efeitos imediatos.
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