Na apresentação do texto no plenário da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, que decorre na Horta, o deputado centrista Rui Martins, autor do voto, recordou que o eurodeputado afirmou que o "Governo dos Açores é uma frente de oposição ao Governo no continente", a propósito do processo de vacinação contra a covid-19.
Para o parlamentar do CDS-PP, tais declarações, transmitidas pela Rádio Campanário, "merecem o veemente repúdio, tanto mais que as relações entre os dois governos, da República e Regional, se devem pautar no estrito campo da colaboração e cooperação institucionais e nunca no campo das lutas político-partidárias".
Rui Martins salvaguardou que, "em abono da verdade", "nunca o Governo Regional dos Açores solicitou um qualquer regime de benefício em prejuízo de outros" no processo de vacinação.
Em 18 de março, o presidente do Governo dos Açores (de coligação PSD/CDS-PP/PPM), José Manuel Bolieiro, insistiu, no Comité das Regiões, na necessidade de "uma majoração na atribuição das vacinas" contra a covid-19" aos Estados-membros com regiões ultraperiféricas, onde há ilhas que não possuem hospital (no caso dos Açores existem seis ilhas sem hospital).
Posteriormente, na segunda-feira, Artur Lima, vice-presidente do executivo regional, pediu ao ministro dos Negócios Estrangeiros para que o Estado português "invoque o Acordo de Cooperação e Defesa entre a República Portuguesa e os Estados Unidos da América, nomeadamente o artigo VI e o anexo J, artigo III do Acordo Técnico, a fim de estabelecer cooperação com as autoridades dos EUA para a vacinação dos açorianos contra o vírus SARS-Cov-2".
Hoje, no plenário do parlamento açoriano, o deputado socialista Berto Messias considerou que se está perante um "delito de opinião" e que o voto de protesto "serve o propósito político de desviar as atenções das contradições entre o presidente do Governo Regional e o vice-presidente" no âmbito do processo de vacinação, no quadro da União Europeia e das relações bilaterais com os Estados Unidos.
Berto Messias, cujo partido votou contra o voto de protesto, considerou ainda ser "fundamental saber estar na diplomacia e nas relações externas", declaração que mereceu o repúdio do líder do PPM/Açores, Paulo Estevão, que considerou ser a União Europeia um "eixo fundamental de afirmação dos Açores", tal como os Estados Unidos.
De acordo com o deputado monárquico, as posturas assumidas pelo presidente do Governo Regional, junto de Bruxelas, e do seu vice-presidente, no quadro das relações bilaterais com os norte-americanos, são "complementares e não divergentes".
"A União Europeia e o Estado não estão a resolver o problema [da vacinação] e o Governo dos Açores teve que ter espírito de iniciativa", declarou Paulo Estevão, ressalvando que diplomacia "não é andar de pantufas no palácio" e que outros países e regiões têm-se queixado do processo.
O deputado único da Iniciativa Liberal/Açores, Nuno Barata, salientou que "o Governo Regional tem que fazer oposição ao Governo de Lisboa sempre que se justifique, e não ser subserviente, como o PS foi nos últimos quatro anos", recordando que nos Açores há ilhas que "não estão a três ou quatro horas de um hospital", como no continente.
António Lima, líder do BE/Açores, que se absteve na votação, considerou que a declaração de Carlos Zorrinho é a opinião de alguém que "não pertence ao Governo da República" e que o voto de protesto é "politiquice entre a coligação e o PS".
Pelo PSD, Bruto da Costa declarou que o voto de protesto dos centristas é "absolutamente essencial na afirmação da defesa dos açorianos", sublinhando que "esta não é uma visão pedinchona, mas reivindicativa" do Governo Regional.
Além disso, acrescentou, esta posição visa a "rápida involução dos Açores", sendo que a "defesa do presidente do Governo Regional não é contra ninguém, mas a favor dos açorianos".
O líder do Chega/Açores, Carlos Furtado, declarou que "separadamente, mas em conjunto, o presidente e vice-presidentes do Governo estiveram bem porque apenas estão a cumprir com aquilo que para o qual são pagos", que é, "acima de tudo, defender os Açores e não alinhar com as políticas dos centralistas".
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