A líder da bancada parlamentar do PS considerou uma "tremenda injustiça o ataque feito por José Sócrates à direção do partido e ao próprio António Costa, considerando-o como um traidor".
"O PS nunca apagou a história do seu partido, felizmente. Sabe que José Sócrates deu a primeira e a única maioria absoluta ao PS, foi secretário-geral, foi primeiro-ministro e, desde o início do processo, quase há sete anos, sempre disse que deixaria o processo correr na justiça", defendeu Ana Catarina Mendes, no espaço de comentário Circulatura do Quadrado, na TVI.
Sublinhando não ter nada contra o facto de a estação ter entrevistado Sócrates, a líder da bancada parlamentar do PS considerou que "há momentos em que se exige o recato".
"E o recato aconselhava a que, de facto, nós não estivéssemos aqui também numa nova sessão de justificação ou de tentativa de explicar coisas", fez sobressair.
No entender de Ana Catarina Mendes, no momento em que o processo passou mais uma fase, ao ser conhecida a decisão instrutória, "o ataque ao PS não é correto", reforçou, frisando estar convencida de que o fim do processo ainda está longe do fim.
Em muitos momentos da vida do partido tentei contactar José Sócrates. Portanto, ninguém abandonou, deixaram foi fazer o trabalho que a justiça tem que fazer
"Fui secretária-geral-adjunta do PS nos últimos quatro anos, recebi a carta de desfiliação de José Sócrates. Em muitos momentos da vida do partido tentei contactar José Sócrates. Portanto, ninguém abandonou, deixaram foi fazer o trabalho que a justiça tem que fazer".
"O que o PS fez foi não fazer pressão e deixar que a justiça corra nos seus trâmites e por isso mesmo acho injusto", disse, acrescentando apenas que "os termos em que Sócrates se dirigiu a algumas pessoas que enunciou e outras que não enunciou, são injustos e Sócrates sabe que são injustos".
"Eu ouvi essas declarações e ouvia-as com a devida repugnância. Mas concentremo-nos no essencial, porque o essencial não é esse personagem, o essencial é quem o manda dizer isso. Falemos, portanto, do mandante", reagiu José Sócrates, que foi secretário-geral do PS entre 2004 e 2011.
De acordo com o antigo primeiro-ministro, "o mandante" de Fernando Medina "é a liderança do PS e a sua direção".
"Essas declarações dizem tudo sobre o que realmente pensa a direção do PS. Portanto, a direção do PS acha que pode e deve fazer uma condenação sem julgamento, fazer uma condenação sem defesa, esquecendo até o princípio da presunção da inocência base do direito moderno", declarou José Sócrates.
Mas o antigo líder socialista foi ainda mais longe nas suas críticas, considerando que essas declarações "são de uma profunda canalhice".
"Isto para mim é penoso, mas quero responder. O PS deveria ter vergonha por desconsiderar direitos, liberdades e garantias fundamentais. Valores que fizeram a cultura política do PS quando lutou pela liberdade em 1975", disse.
José Sócrates aproveitou ainda para dizer que o fundador do PS, antigo Presidente da República e primeiro líder dos socialistas, Mário Soares, esteve sempre ao seu lado, mesmo durante o processo Operação Marquês.
"Mesmo aí, quando expressou esse companheirismo comigo, por razões não apenas pessoais, mas entendendo que era o seu dever, mesmo aí tentaram desvalorizar essa posição. Tentaram insinuar que ele [Mário Soares] valorizava demasiado a amizade", alegou.
José Sócrates, em estilo de conclusão, disse que continua a entender que fez bem em abandonar o PS em 2018.
"Já não aguentava mais o silêncio. Grande parte desses que dizem essas coisas estão a ajustar contas com a sua própria covardia moral. Não disseram uma palavra quando fui detido no aeroporto [de Lisboa], com televisões, e com base no argumento do perigo de fuga. Hoje, isso parece ridículo, mas fui preso 11 meses sem acusação", acrescentou.
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