Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, acusou Vasco Lourenço, responsável pela Associação 25 de Abril, de se achar "dono da liberdade" por ter recusado a presença da Iniciativa Liberal (IL) no desfile comemorativo do 25 de Abril, alegando questões de saúde pública.
"As coisas quando começam mal, raramente acabam bem. Este é um caso onde as coisas começaram muito mal. Desde logo com aquilo que foi a posição de Vasco Lourenço acerca desta questão", começou por considerar o autarca no seu espaço de comentário na TVI24.
Também sobre o Capitão de Abril, Rui Moreira defendeu que a postura de Vasco Lourenço - de querer ser 'detentor da revolução' - não é de agora.
"Vasco Lourenço quer ser o proprietário da pureza ideológica da revolução de abril. Esta posição dele, note-se, é uma posição que dura há muitos anos. Dura quase desde o 25 de abril", sublinhou.
O presidente da Câmara apontou também que por mais que Vasco Lourenço esteja intimamente ligado à revolução do 25 de abril, "não pode ficar com a liberdade toda para ele". "Isto fere todos os que gostam da liberdade (...) Tudo isto é financiado pelos portugueses", acrescentou.
Ainda sobre o presidente da Associação 25 de Abril, Rui Moreira recordou o episódio considerado infeliz por muitas figuras públicas aquando a morte de Diogo Freitas do Amaral. Na altura, Vasco Lourenço divulgou um comunicado no qual criticava alguns meios de comunicação social por tratarem o fundador e primeiro líder do partido do Centro Democrático Social (CDS) como "um dos pais da democracia" em Portugal.
Mas as críticas do autarca foram mais longe. Para Rui Moreira, as autoridades de saúde também não estão a ter a ação desejada no que diz respeito à organização do desfile do 25 de Abril, tendo em conta a pandemia.
"Por que é que esta manifestação só pode ter este número de participantes? Por que é que a Direção-Geral da Saúde (DGS) só aceita estes números de participantes neste desfile quando, anteriormente, assistimos a outras manifestações de caráter político onde não houve esta limitação?", questionou.
Importa recordar que a comissão promotora do desfile comemorativo do 25 de Abril decidiu ontem abrir o evento na Avenida da Liberdade, em Lisboa, à participação de todas as entidades interessadas, embora estabelecendo regras por causa da pandemia.
Em comunicado, a comissão pediu a "todos os interessados" na participação no desfile "que não estejam integrados nas organizações que constituem a comissão promotora" que cumpram as regras sanitárias impostas pela DGS.
Na passada sexta-feira, antes de ser conhecida a decisão final da comissão, a IL anunciou a realização de um desfile próprio para comemorar o 25 de Abril, que também descerá a Avenida da Liberdade, em Lisboa, recusando "ceder a manobras" e garantindo o cumprimento das regras sanitárias devido à pandemia.
Durante a semana passada, alguns partidos que integram a organização lamentaram a exclusão da IL e do Volt Portugal do desfile, como a líder parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes, que defendeu que a decisão mostrou "falta de sensibilidade" e "inabilidade política", rejeitando discursos divisionistas sobre a data e o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, que citou o cantor de intervenção Zeca Afonso: "sejam bem-vindos aqueles que vierem por bem". O Livre chegou mesmo a oferecer quatro lugares da sua comitiva aos dois partidos excluídos.
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