"Importa que o Estado não ignore o sentimento generalizado de descrença dos portugueses, muitas vezes justificado, relativamente à justiça, urge reformá-la e o combate à corrupção é necessário e indispensável, terá de ser uma das prioridades", afirmou o centrista na sua intervenção na 47.ª sessão solene comemorativa do 25 de Abril, no parlamento.
O deputado assinalou que, "se o 25 de Abril abriu as portas da liberdade, começou a construir o caminho da democracia, consolidada a 25 de Novembro, também alentou a esperança da justiça", mas ressalvou que "esta esperança, no sentimento do povo português, ainda não está totalmente concretizada".
"Como não foi concretizada, há 25 anos, quando esta mesma câmara decidiu amnistiar os elementos da mais sangrenta organização terrorista da história da nossa democracia, as FP-25 de Abril", criticou igualmente.
Pedro Morais Soares sublinhou também que "evocar o dia em que se comemora a liberdade ganha um simbolismo acrescido tendo em conta o último ano que o país e o mundo atravessou" e afirmou que "hoje em dia o ataque à liberdade é concretizado por um inimigo invisível, insidioso e perigoso, que já nos causou perto de 17 mil mortos diretos".
"Este inimigo obrigou-nos a abdicar de direitos que jamais pensaríamos que seria possível nos nossos dias. As verdadeiras restrições de liberdade a que fomos sujeitos, quer seja liberdade de circulação, liberdade de estarmos com as nossas famílias, ou liberdade para trabalharmos, deve levar-nos a pensar quantas vezes utilizamos em vão e de forma despropositada a ideia de que não temos liberdade", frisou.
Pedindo que os sacrifícios e as dificuldades que os portugueses atravessaram "tenham sentido", o deputado democrata-cristão considerou que "a grande questão que se coloca" é se os governantes vão conseguir "estar à altura do que se lhes impõe".
Apontando que o "Estado tem de saber responder" a três pandemias - de saúde pública, social e económica - Pedro Morais Soares indicou que "o país não aguenta mais nenhuma falha de resposta em qualquer uma delas".
"As respostas que foram dadas este ano levam-nos a seremos muito cautelosos quanto ao que podemos esperar das soluções que o Governo pretende protagonizar. Os sucessivos programas e planos anunciados e apresentados levam-nos a desconfiar do caminho", salientou o parlamentar, sublinhando que "não bastam meras palavras e anúncios de medidas, que, na prática, não chegam às famílias, não chegam às empresas".
No que toca às respostas sociais, "também se esperava mais apoio aos portugueses, das mais diversas áreas, que viram os seus postos de trabalho perdidos ou os seus rendimentos baixarem abruptamente", disse Pedro Morais Soares.
E criticou que "não só faltaram, e faltam, respostas, como também falta rumo, estratégia e coordenação e coragem", salientando que "não se vislumbra um planeamento, navega-se à vista, não sendo, assim, possível, qualquer tipo de confiança".
O deputado pediu ainda ao parlamento que não deixe "o sonho por realizar", a "justiça por concretizar", a "democracia por efetivar" e a "liberdade por cumprir", destacando que "os portugueses, nomeadamente as novas gerações, esperam, e merecem" que não falhe.
O centrista, que é também presidente da Junta da União de Freguesias de Cascais e Estoril, defendeu ainda a necessidade de "outra visão do poder local" e pediu um "reconhecimento público" aos autarcas que estão na linha da frente, destacando que "quando as pessoas mais precisavam e o Estado central parou, o Estado central fechou, e se não fossem as câmaras municipais e juntas de freguesia, que nunca fecharam portas, as consequências teriam sido bem piores".
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