Zmar. Da realidade "degradante" à "precipitação" do Governo
Francisco Louçã defende que o Governo se precipitou no caso Zmar e que este processo deveria ter sido conduzido com mais "cordialidade" e mais "tranquilidade". Quanto aos partidos que 'abriram a porta' para a saída de Cabrita, o comentador considera que se trata de um "jogo" sem "significado político".
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Política Zmar
O caso Zmar levou alguns partidos à Direita a pedirem a demissão do ministro da Administração Interna. No habitual espaço de comentário na antena da SIC Notícias, Francisco Louçã acredita que "todo este jogo da Iniciativa Liberal, do CDS, do Chega é uma pequena concorrência" e não crê "que tenha um significado político para além disso".
"O ministro já teve momentos de grande dificuldade, a morte do Ihor [Homeniuk] nas instalações do SEF é talvez um ponto culminante, mas neste caso acho que há erros do Governo de precipitação, de falta de esclarecimento. É possível conduzir com mais cordialidade, com mais tranquilidade este processo", defendeu, esta sexta-feira.
Sobre a providência cautelar interposta pelo advogado de proprietários de casas no Zmar que o Supremo Tribunal Administrativo admitiu hoje, o comentador político esclareceu que ainda não houve "nenhuma deliberação". Sobre o caso, o bloquista defendeu que "a grande parte das pessoas tem tido uma atitude prudente e era bom que o país respondesse também baixando a escala deste conflito, ajudando na reinstalação destas pessoas e evitando que haja continuação da exploração".
No fundo, a requisição do complexo turístico Zmar Eco-Experience, que nasceu no concelho de Odemira em 2009, "demonstrou uma realidade conhecida, talvez não com a crueldade que agora as reportagens vieram sublinhar. Há 20 mil trabalhadores, sobretudo asiáticos, que são traduzidos por intermediários que lhes cobram esta viagem e que os colocam a trabalhar em condições desumanas, de intensidade de trabalho, de salários muito baixos, de proibição de se deslocarem porque não têm documentos. E estes são explorados por proprietários de habitações que colocam 20 pessoas a pagar 2 mil euros/mês".
No entendimento de Louçã, há "um canal de exploração [que] foi muito vantajoso para estes intermediários, para os proprietários que têm mão de obra barata e que não conseguiriam noutras circunstâncias". Toda esta realidade é, pois, "insustentável, inaceitável do ponto de vista humano, degradante do ponto de vista do trabalho, um abuso no limite da criminalidade na exploração destes trabalhadores".
Este cenário, apesar de conhecido, só agora 'explodiu' "porque evidentemente eram focos de contaminação intensos". Recorde-se, aliás, que as freguesias de Longueira-Almograve e São Teotónio, no concelho de Odemira, estão em cerca sanitária desde a semana passada por causa da elevada incidência de Covid-19 entre os imigrantes que trabalham na agricultura na região.
Defende o ex-líder partidário que "houve muitos setores económicos" a beneficiar da contratação destes imigrantes, "dos intermediários, aos proprietários de casas, aos proprietários de explorações que beneficiaram intensamente ao longo destes anos. As Câmaras conheciam este problema, enquanto que as autoridades de trabalho tinham de conhecer e aparentemente não fizeram nada".
Não há aqui, por isso, "nenhuma surpresa, há a confirmação deste desastre social e desta vergonha humana. Mesmo na primeira vaga, já tínhamos tido alguns alertas porque já tinha havido focos. O que agora se acentua é o contraste com o país, que já está numa situação muito melhor".
Recorde-se que o Governo determinou "a requisição temporária, por motivos de urgência e de interesse público e nacional", da "totalidade dos imóveis e dos direitos a eles inerentes" que compõem o complexo turístico Zmar Eco Experience, na freguesia de Longueira-Almograve, para alojar pessoas em confinamento obrigatório ou permitir o seu "isolamento profilático".
Um total de 49 imigrantes que trabalham na agricultura no concelho de Odemira, no distrito de Beja, todos com testes negativos para o novo coronavírus SARS-CoV-2, que provoca a Covid-19, foram realojados, tendo uns sido colocados no Zmar e outros na Pousada da Juventude de Almograve, na quinta-feira de madrugada.
Mas a admissão da providência cautelar determinou a suspensão imediata da requisição civil.
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