"Que melhor cooperação internacional poderia o Governo português promover se, por exemplo, na Organização Mundial do Comércio tivesse alinhado com a maioria dos países que neste momento não têm acesso a uma única vacina, se tivesse alinhado com esses países para defender que as vacinas não podem ser propriedade privada, que a vacina contra a covid, no meio de uma pandemia, não pode ser instrumento para realização de riqueza", defendeu hoje o deputado Moisés Ferreira.
Na sessão internacionalista sob o mote "Salvar vidas, não os lucros", que decorreu no Centro de Congressos e Desportos de Matosinhos (distrito do Porto), na véspera da XII Convenção Nacional do partido, o deputado aproveitou para reagir às palavras do primeiro-ministro no discurso na Cimeira da Saúde Global do G20.
António Costa advertiu esta tarde que o mundo tem de preparar-se melhor para enfrentar futuras pandemia, defendendo uma reforma para reforçar a Organização Mundial da Saúde, um Regulamento Sanitário Internacional e um tratado mundial sobre pandemias, e atacou o nacionalismo nas vacinas.
"Devemos agora concentrar-nos em promover o acesso generalizado às vacinas, aumentando as capacidades de produção, prevenindo obstáculos na cadeia de fornecimento e removendo as restrições à exportação. Temos de acelerar a produção e a distribuição de vacinas para todos, encarando a imunização como um bem público global", disse, advogando que, em matéria de cooperação mundial, a União Europeia "está a fazer a sua parte, liderando no apoio à pesquisa e desenvolvimento de vacinas e na produção e distribuição".
Moisés Ferreira considerou que o mesmo primeiro-ministro "não quer massificar a produção de vacinas porque se recusa a defender o levantamento das patentes", medida que tem sido uma das reivindicações do BE durante a pandemia, e acusou o Governo de alinhar "com os países fortes, com os países ricos e com a indústria farmacêutica contra o levantamento das patentes".
O deputado bloquista apelou ainda aos socialistas que, quando o assunto voltar a ser discutido no parlamento, larguem "essa imensa coligação negativa que o PS fez, que vai do PS ao Chega, passando pelo PSD, CDS e Iniciativa Liberal, que se juntaram para derrubar a proposta do BE para que o Governo" fosse uma "voz ativa na União Europeia" na defesa do levantamento das patentes.
No mesmo sentido, o eurodeputado José Gusmão apontou que o problema é que "nenhum Estado, nenhuma empresa, nenhum laboratório vai investir no aumento da capacidade de produção de vacinas se não tiver a tecnologia necessária" e recorreu a uma analogia: "ninguém vai investir em comprar panelas ou em produzir mais ingredientes para fazer esta sopa se não souber a receita".
Já a investigadora Teresa Summavielle afirmou que Portugal tem "toda a capacidade instalada, científica, para poder produzir com sucesso estas vacinas" mas falta a infraestrutura para as produzir.
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