"É preciso que a UE perceba que tem uma matriz à luz de março de 2020"
A ex-secretária de Estado Ajunta e da Saúde defende que a matriz que avalia o risco da situação pandémica deve incorporar a realidade da população flutuante, argumentando que o cenário de hoje é diferente do de março de 2020, quando as fronteiras entre os Estados-membros estavam encerradas e havia zero mobilidade.
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Política Covid-19
Em entrevista ao Notícias ao Minuto, a deputada socialista Jamila Madeira, anterior secretária de Estado Adjunta e da Saúde, alerta que um "dos grandes problemas" da forma como estamos a encarar a possível quarta vaga da pandemia da Covid-19 prende-se com o facto de "não estarmos a olhar para a realidade como ela é" a nível europeu.
A ex-governante lembra que a matriz de risco que foi desenhada em termos europeus, e que serve de referência a Portugal, "é uma matriz de risco vista à luz de março de 2020" e que, nessa altura, o cenário era outro: fronteiras fechadas e zero mobilidade entre Estados-membros.
"Neste momento, não é assim. Temos vacinação em curso, certificado digital em curso e mobilidade. E o que fazemos é que, independentemente de termos mais ou menos casos e termos mais resposta em termos da capacidade do SNS e dos outros serviços de saúde europeus, o impacto destes números na matriz é claramente diverso", sublinha.
Advogando uma atualização da matriz em termos europeus, Jamila Madeira explica que atualmente o nível de risco tem apenas em conta que o universo com que o número de casos se relaciona é o universo da população daquela freguesia, daquele concelho, daquele país. Ora, "o universo que está ali em causa, para além de estar vacinado e de ter certificado digital, é um universo muito maior" tendo em conta a recuperação da mobilidade no espaço europeu.
"O que é preciso mesmo é que a Europa perceba que neste momento tem uma matriz que está vista à luz de março de 2020 e não à luz das fronteiras abertas", insiste, assinalando que, embora com restrições aqui e acolá (como é agora o caso da decisão alemã de colocar Portugal na lista vermelha), "as pessoas circulam, há milhares de turistas por todo o lado, há milhares de mobilizações".
"E essa realidade da população flutuante tem de ser incorporada na matriz, sob pena de estarmos a medir níveis de risco como se o universo da população estivesse estático como esteve quando foi o confinamento. Se na UE o quadro de mobilidade entre os Estados-membros está reposto, não há nenhuma razão para não ser incorporado na matriz de risco", argumenta, alertando que este é um problema que impacta sobre zonas onde a mobilidade, sobretudo em tempo de férias, é maior. É o caso de Portugal, Grécia, Itália e Espanha, que são zonas de destino.
"Se o universo não se adequar ao espírito da mobilidade, apenas teremos os casos positivos a aumentar o nível de risco, não teremos a repercussão na população flutuante que isso implica", remata.
O número de infeções em Portugal tem vindo a aumentar nas últimas semanas. Lisboa e Vale do Tejo (LVT) concentra a maioria dos novos casos, numa altura em que a situação pandémica no Algarve também se está a agravar.
No último Conselho de Ministros, na semana passada, o Governo anunciou que, estando o país na zona vermelha da matriz de risco (que combina a incidência por 100 mil habitantes e a transmissibilidade), não há condições de Portugal avançar para a próxima etapa do desconfinamento. Lisboa e Albufeira recuaram, juntando-se a Sesimbra. Outros 17 concelhos (a maioria em Lisboa e no Algarve) estão em risco de verem as restrições a apertar na próxima avaliação.
Devido ao aumento das infeções, sobretudo por causa da variante Delta, as autoridades sanitárias da Alemanha colocaram Portugal na 'lista vermelha', uma decisão que vigorará a partir desta terça-feira e que obrigará todos os viajantes provenientes do território português a uma quarentena de 14 dias.
De acordo com o último relatório de monitorização das linhas vermelhas, o número de novos casos de infeção por SARS-CoV-2 por 100 mil habitantes, acumulado nos últimos 14 dias, foi de 142 casos, com tendência crescente a nível nacional.
O valor do Rt apresenta valores superiores a 1 ao nível nacional (1,14) e em todas as regiões de saúde, indicando uma tendência crescente. Esta tendência crescente é mais acentuada na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) e Algarve, que apresentam um Rt de 1,17 e 1,34, respetivamente, frisa o documento da DGS e do INSA.
Mantendo-se esta taxa de crescimento, o tempo para atingir a taxa de incidência acumulada a 14 dias de 240casos/100 mil habitantes será entre 15 e 30 dias para o nível nacional e inferior a 15 dias na região do Algarve, um limiar que já foi ultrapassado em LVT.
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