Logo no arranque do seu discurso no encerramento das jornadas parlamentares dos centristas, que decorreram na segunda-feira e hoje em São João da Madeira (distrito de Aveiro), Francisco Rodrigues dos Santos considerou que "faz todo o sentido que o partido observe o futuro e coloque a importância na necessidade" de estar "na liderança da oposição do PS".
O líder quer que o CDS "se afirme como uma componente fundamental na alternativa política em Portugal", numa altura em que o "pano de fundo" é "um cercear cada vez maior das liberdades por parte do Governo socialista, e em que os seus métodos de governo são cada vez mais totalitários e radicais".
"Tenho a certeza absoluta que esta é a única reflexão que se impõe a todo o partido, e sobretudo a um instrumento fundamental da ação política do CDS-PP, como é a nossa bancada parlamentar", salientou, indicando que esse "é o grande tema" que o levou às jornadas parlamentares.
"E é para isso que eu convido todos intransigentemente a fazer", disse, afirmando que conta com os deputados para essa oposição.
Apesar de não se ter referido às críticas deixadas na noite passada pelo deputado ao Parlamento Europeu e líder da distrital de Braga do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos referiu o nome de Nuno Melo quando falou do caso dos dois irmãos de Famalicão, "a terra de Nuno Melo", que reprovaram o ano na escola por não terem frequentado as aulas de cidadania.
Num longo discurso centrado na crítica ao Governo e ao PS, a partir do mote de que "a liberdade está ameaçada", o líder centrista referiu-se individualmente ao trabalho de cada um dos cinco deputados e, no final da sua intervenção, teceu ainda um elogio ao deputado e candidato a presidente da Câmara Municipal de São João da Madeira, João Almeida (que foi também seu opositor na corrida à liderança no último congresso).
Rodrigues dos Santos disse que João Almeida tem pela frente um "desafio difícil", mas considerou que é "a pessoa indicada para liderar o centro direita a uma vitória eleitoral", garantindo que conta com a direção na campanha para as eleições autárquicas de 26 de setembro.
No que toca ao role de críticas ao Governo, o presidente do CDS-PP disse que a classe média "é escravizada com impostos" , que existe uma "cartilha ideológica" nas escolas por causa das aulas de cidadania, e acusou o PS de tratar o "Estado como se fosse a sua casa", de querer "controlar órgãos que têm de ser independentes e isentos", considerando ainda que "há sempre empregos bem pagos para amigos do PS".
Quando o presidente do CDS-PP chegou ao hotel e à sala onde decorreram as jornadas, acompanhado de membros da direção, foram notórios alguns momentos de silêncio, e no final do seu discurso, o líder apreçou-se a sair, tendo recusado também falar aos jornalistas.
Antes do discurso de Francisco Rodrigues dos Santos, o presidente do Grupo Parlamentar disse que não encomendou "discurso a ninguém", mas salientou que pediu a todos os oradores que "dissessem o que pensavam" e "que todos cumpriram".
Também referindo a candidatura de João Almeida, Telmo Correia salientou a importância destas autárquicas para o partido.
Na segunda-feira, num jantar no âmbito das jornadas em que foi convidado para falar sobre "Os desafios da Oposição", o eurodeputado centrista acusou a direção do partido de "entrincheiramento" e de "atacar os seus", e defendeu que o esforço para agregar o partido tem de partir "do topo para a base".
Nuno Melo falou num "entrincheiramento diretivo" e defendeu que "um partido não pode desvalorizar saída de militantes, um partido não pode estar concentrado em ajustes de contas e purgas para dentro tendo a pretensão de ser simultaneamente eficaz para fora", numa crítica à reação do presidente do partido à desfiliação do antigo deputado Francisco Mendes da Silva.
O eurodeputado disse ainda que já combatia o socialismo "quando muitos" dos que criticam os dirigentes ligados à anterior direção "ainda estavam sentados nos bancos da escola".
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