Alexandre Poço, deputado social-democrata na Assembleia da República e líder da Juventude Social Democrata (JSD), é o candidato do PSD à presidência da Câmara Municipal de Oeiras.
A dias de fechar o programa eleitoral para a próxima corrida às urnas, o candidato de 29 anos adiantou, em entrevista ao Notícias ao Minuto, que as suas principais bandeiras nesta campanha vão estar centradas na sustentabilidade, na mobilidade e no Estado Social Local.
Ainda que reconhecendo que destronar o atual presidente é "um desafio difícil", Alexandre Poço revelou que mantém-se disponível para formar uma coligação com o CDS, mas garantiu que, independentemente de acordos, vai "'arregaçar as mangas' e demonstrar o caminho" para um novo futuro em Oeiras.
Quanto ao futuro do PSD pós-autárquicas, Alexandre Poço defendeu que o partido deve estar, neste momento, totalmente focado no combate eleitoral, remetendo uma avaliação dos resultados e da liderança de Rui Rio para as eleições diretas e o Congresso do PSD, que se seguirão à corrida às urnas.
Quando é que ficou decidido que seria o candidato do PSD à presidência da Câmara Municipal de Oeiras e o que é que o fez aceitar este desafio?
Quando o presidente do partido Rui Rio me desafiou para ser candidato, ponderei e depois decidi aceitar, sobretudo, por dois motivos. O primeiro prende-se com o facto de não querer virar a cara ao meu concelho, a terra onde nasci, cresci, estudei, onde vivo e que marca a minha identidade. E, por outro lado, por não querer também virar a cara a um desafio difícil.
Recentemente, David Justino anunciou que é candidato à Assembleia Municipal de Oeiras. A integração do vice-presidente do PSD na sua lista é uma forma de o partido demonstrar um compromisso e uma aposta forte na sua candidatura, considerando que, como referiu, estas eleições em Oeiras são "um desafio difícil"?
O convite que enderecei ao professor David Justino tem uma justificação clara. O professor David Justino é uma personalidade ímpar nas áreas da Cidadania e da Cultura e é professor catedrático com uma carreira feita, além de ser um oeirense de gema com um conhecedor profundo do nosso concelho.
Aliás, o professor David Justino já desempenhou funções muito relevantes no município, tendo em conta que foi vereador da Cultura e da Habitação Social [1994-2001] e que teve um papel muito importante no desenvolvimento económico e social de Oeiras, nomeadamente, no âmbito da Habitação, com o realojamento de milhares de pessoas que viviam em barracas e que passaram a ter uma habitação condigna. Esta é uma marca que também está no currículo do professor David Justino e que me levou, juntamente com o facto de também ser vice-presidente do partido, a convidá-lo para me acompanhar neste desafio autárquico.
O professor David Justino traz a experiência para esta candidatura com o seu reconhecido percurso académico, profissional e político e eu trago a frescura da juventude e a vontade de criar um concelho pujante e dinâmico"
Pode dizer-se que veio complementar a sua candidatura com a confiança da experiência?
Sim, é também uma das características que penso que fortalece a nossa candidatura. Ou seja, o professor David Justino traz a experiência para esta candidatura com seu reconhecido percurso académico, profissional e político e eu trago a frescura da juventude e a vontade de criar um concelho pujante e dinâmico. Penso que estas duas personificações enriquecem a candidatura porque se estabelece como alternativa para os oeirenses que conta com todas as gerações e que conjuga o melhor da inovação com o melhor da experiência.
Quando David Justino anunciou que o ia acompanhar nestas autárquicas afirmou que "não basta fazer obra" em Oeiras e que "é urgente fazer melhor". O que é fazer melhor do que Isaltino Morais?
Entendemos que é tempo de mudar Oeiras. Mais do que fazer obra, é agora preciso começar a trabalhar em algumas dimensões para o futuro, que considero que a nossa candidatura irá oferecer aos oeirenses. Reconhecendo aquilo que tem sido o trabalho desenvolvido no município durante décadas, acredito que, contudo, é tempo de olhar para frente, o que se traduz em ter, por exemplo, uma visão muito clara na área da sustentabilidade.
Essa será, portanto, uma das suas bandeiras?
Um dos meus principais compromissos políticos é tornar Oeiras numa das localidades mais sustentáveis da Europa. Mas, mais do que palavras, irei dar o exemplo nesta candidatura. Adianto já que irei plantar uma árvore em Oeiras por cada voto que tiver nestas eleições. Esta minha iniciativa deve ser entendida como um sinal claro dos objetivos a que me proponho nesta candidatura. Quero que os oeirenses saibam que, quando votarem no PSD, estão a votar numa alternativa de futuro preocupada com a qualidade de vida e com a criação de um concelho mais sustentável e verdadeiramente verde.
A implementação de um pacto verde é também uma das principais bandeiras da sua adversária Carla Castelo, candidata independente que se coligou com o BE, Livre e Volt. No que é que se diferenciam as suas propostas ambientais e de sustentabilidade?
Para já, mais do que falar, quero que a minha candidatura dê o exemplo. Não quero só debater ideias, quero 'arregaçar as mangas' e demonstrar o caminho, como, por exemplo, como vou fazer com esta iniciativa de ir plantar árvores pelos votos que tiver. Sinceramente, não estou muito preocupado com o facto de outras candidaturas também defenderem políticas relacionadas com a sustentabilidade, pactos verdes ou com o combate às alterações climáticas, pois acredito que estas matérias devem ser transversais a qualquer proposta política.
No entanto, ainda não vi nenhuma candidatura a assumir um compromisso prático como o que acabei de revelar, sobretudo da parte daquelas candidaturas que se posicionam logo como as únicas e exclusivas a defender políticas ambientais. Não tenho essa arrogância de dizer que só eu é que quero um concelho verde ou sustentável. Acredito que outros também o querem, mas parto já para uma ação muito concreta que ainda não vi nenhum dos meus outros adversários a fazer. Mais tarde, na apresentação do programa político, vamos, naturalmente, avançar com mais propostas no âmbito da sustentabilidade.
Tenho quase o tempo de vida que Isaltino tem como autarca"
E quanto a Isaltino Morais. Qual diria que é a grande diferença entre a sua visão de Oeiras e a do atual presidente da Câmara?
Há uma grande diferença geracional que me diferencia de Isaltino Morais. Quando nasci, Isaltino Morais já era presidente da Câmara Municipal de Oeiras há seis anos. Tenho quase o tempo de vida que Isaltino tem como autarca. Ou seja, esta diferença geracional é importante. Hoje a minha ambição é a ambição de alguém que tem menos de 30 anos e que se candidata contra Isaltino Morais acreditando que este concelho, após ter tido um desenvolvimento infraestrutural que decorreu nas últimas décadas, deve agora projetar-se em algumas áreas com uma nova visão. Esse futuro que tenho para Oeiras passa muito por apostar na sustentabilidade, no sentimento de pertença ao concelho e por ligar e interligar várias áreas da localidade que ofereçam uma maior qualidade de vida à população.
Quando fala de interligação está a referir-se a políticas para a mobilidade? Tem alguma proposta que possa adiantar?
Uma das propostas que defenderei nesta candidatura é a da criação de autocarros escolares 100% elétricos dedicados ao transporte de alunos em todo o concelho. Um modelo, aliás, que já é comum em várias cidades europeias e norte-americanas, mas que seria pioneiro a nível nacional.
Esta é, por exemplo, uma medida que acredito ser muito positiva, tanto ao nível da mobilidade como da sustentabilidade. Esta rede de autocarros que proponho poderá contribuir para a redução do tráfego automóvel, oferecer uma maior qualidade de vida às famílias - assegurando que as suas crianças vão em segurança para escola ou para casa - e criar o hábito saudável, desde cedo, em todas as crianças e jovens de se deslocarem em transportes públicos sustentáveis. Uma medida que é interclassista, disponível para qualquer criança e jovem, independentemente do seu contexto social e familiar. Por outro lado, é também uma proposta que reforça uma aposta na Educação.
E já tem alinhadas algumas ideias para medidas de apoio económico ou social considerando a crise provocada pela pandemia?
Oeiras destacou-se, nos últimos anos, por ser um concelho atrativo para as grandes empresas. Contudo, considero que ainda há um longo caminho a percorrer na área do empreendedorismo. Aquilo que defendo é a continuação de uma Oeiras que aposta no desenvolvimento económico das grandes empresas, mas também nos projetos individuais das pessoas que querem criar o seu emprego, que investem no comércio local, que têm startups ou que são nómadas digitais. Além do concelho das grandes empresas, quero que Oeiras passe também a ser reconhecida como o concelho dos grandes empreendedores. Daqueles que arriscam e que criam o seu negócio com um município que é seu parceiro, que promove essa mentalidade e que apoia esse esforço. Considero importante que se pense em medidas, quer do ponto de vista das taxas municipais, quer do apoio inicial para a criação de negócios.
Acredito que esta é mais uma forma de trazer um novo futuro para Oeiras e também de responder a esta crise económica e social que vivemos, olhando para as necessidades específicas de que cada cidadão necessita para começar uma nova etapa e sair, por exemplo, de uma situação de desemprego ou para concretizar os seus objetivos e sonhos.
Na área da saúde tem alguma proposta definida?
Também considero que é importante que Oeiras possa desenvolver uma resposta própria de Estado Social Local, nomeadamente, ao nível da saúde. Ou seja, defendo a criação de uma resposta a nível local que seja disponibilizada a toda a população em várias áreas da saúde, sobretudo num momento em que sabemos que o Estado Social está a ser maltratado por parte dos socialistas. Por isso, quero que o concelho possa ter uma resposta própria, por exemplo, no âmbito da saúde oral, saúde ocular e da saúde mental, que é um problema urgente e que a pandemia veio agravar.
Uma das medidas que quero implementar é a realização, todos os anos, de rastreios auditivos e visuais às crianças quando entram no primeiro ciclo do ensino básico e rastreios regulares de saúde mental a todos os alunos que já estão nos ciclos do ensino básico mais tardios ou que frequentam o ensino secundário. Estas são algumas das ideias que apresento para todos aqueles que não querem votar em Isaltino Morais e que querem começar um novo capítulo em Oeiras.
Há mais futuro em Oeiras do que Isaltino Morais. Oeiras não é só Isaltino Morais"
Sente que os oeirenses estão preparados para virar a página de Isaltino Morais? Que feedback é que tem recebido dos eleitores?
Sinto que há uma grande vontade por parte dos oeirenses em participarem na sua vida coletiva, na sua comunidade e de melhorarem o sentimento de pertença comum ao concelho. Todos sabemos que Isaltino Morais é o favorito, que se candidata a um nono mandato à frente da autarquia. Por isso, seria presunçoso da minha parte dizer aquilo que os oeirenses irão decidir. Mas, o que posso dizer, é que, embora reconheça que o contexto é difícil para outras candidaturas, tenho muita vontade de representar a tal alternativa de futuro.
Há mais futuro em Oeiras do que Isaltino Morais. Oeiras não é só Isaltino Morais. É verdade que o concelho tem um passado de décadas com este autarca, mas é tempo de olhar para frente e acredito que o PSD fez uma aposta clara com a minha candidatura, dizendo aos oeirenses que o futuro de Oeiras passa pelo PSD.
Então, mesmo que não vença estas eleições, pode dizer-se que já está a preparar em Oeiras o terreno político para o futuro?
Embora ninguém possa prever o futuro, estarei sempre disponível para o meu concelho. Não direi que desta água não beberei. Mas, neste momento, o meu foco está em garantir nestas eleições autárquicas que os oeirenses percebem que a alternativa em 2021 é a minha candidatura, a do PSD. Como diz o nosso sábio povo 'o futuro a Deus pertence', mas eu também acredito que o futuro pertence às pessoas e, portanto, a única coisa que posso dizer é que estarei sempre disponível para Oeiras.
Considerando que se apresenta como uma alternativa a Isaltino Morais, com uma visão diferente para Oeiras do atual presidente, como é que justifica que a concelhia do PSD tenha apoiado Isaltino Morais e que o partido tenha, inicialmente, estabelecido negociações com o seu adversário?
Esse é um dossier que está encerrado. Os partidos na sua vivência interna, através dos seus fóruns e espaços de discussão e decisão podem e devem ter várias opiniões e análises em confronto. Houve um debate democrático sobre a matéria dentro do PSD, mas, no fim, houve também uma decisão, neste caso, tomada pelo presidente Rui Rio, que considerou que o PSD devia ter uma alternativa e uma candidatura própria em Oeiras. Sublinho que não é um assunto do qual eu queira fugir, mas a minha preocupação agora não é essa.
Então, mas falando do futuro, se o atual presidente for reeleito, admite ficar numa vereação no executivo de Isaltino Morais?
Essa é uma questão que se coloca a seguir às eleições. Não é uma preocupação que tenha e não perco um minuto a pensar nisso. Naquilo em que me concentro é no combate que tenho para travar e coloco todas as minhas energias, pensamentos e reflexões em tudo o que tenho de fazer para apresentar a melhor candidatura possível e a melhor alternativa para defrontar nas urnas Isaltino Morais.
Se vencer as eleições, não tem pena de deixar já o Parlamento?
Como disse, neste momento, estou empenhado nesta candidatura e não perco mesmo um minuto a pensar no pós 26 de setembro. Ainda que o meu foco esteja nesta campanha, claro que não esqueço ou descuro os outros compromissos que tenho relacionados com as minhas outras funções, as quais tenho muita honra em desempenhar.
Falando de empenho, recentemente, a concelhia de Oeiras do CDS adiantou que o partido vai apresentar uma candidatura própria, acusando-o de falta de proatividade nas negociações para a formação de uma eventual coligação. A Iniciativa Liberal (IL), a quem também propôs um acordo, avançou também com uma candidatura. O que é que impossibilitou a criação de uma coligação à direita?
Até à data de hoje, da parte do PSD, esse esforço ainda não terminou e penso que ainda temos algum tempo para que os partidos possam conversar. Da minha parte, tenho todo o gosto em ter o CDS, mais pessoas e mais movimentos a apoiarem uma coligação liderada por mim. Estou totalmente disponível e com a mesma vontade de fazer essa coligação e, por isso, não irei comentar essas declarações dos dirigentes locais do CDS. A IL decidiu apresentar uma candidatura própria, mas com o CDS reitero que mantenho a minha disponibilidade e vontade.
Mas estão a decorrer conversas entre o PSD e o CDS neste momento?
Não vou responder a essa questão, mas estou certo de que os partidos, se quiserem que haja uma coligação, saberão as formas de chegar a esse entendimento.
Ainda sobre a sua candidatura, tem pensadas formas de mitigar os obstáculos que certamente irá enfrentar durante a campanha eleitoral devido à pandemia?
É um desafio que se coloca a todos e que também a minha candidatura está a procurar responder. Naturalmente, vamos, acima de tudo, respeitar e cumprir as orientações da Direção-Geral da Saúde (DGS), nomeadamente, nas ações de rua e nas reuniões ou encontros com cidadãos, empresas, associações e outras entidades. Ainda assim, hoje há outras ferramentas que a minha candidatura irá utilizar para chegar às pessoas, como, por exemplo, os meios digitais, nos quais estamos a apostar muito, especialmente, nas redes sociais.
Além destas plataformas, a minha organização de campanha é baseada numa rede que tem centenas de voluntários que estão preparados para fazer chegar as propostas a bom porto. Mas, importa reforçar que não queremos despejar ideias para cima das pessoas, queremos apostar em novas formas de interagir, falar e de nos relacionarmos com os oeirenses.
Numa perspetiva mais lata destas eleições, considera que uma oposição menos agressiva apontada a Rui Rio pode ter consequências negativas nos resultados globais do PSD?
Percebo a relevância da questão, mas penso, mais uma vez, que aquele que deve ser o meu foco e o dos meus colegas no PSD é estarmos totalmente empenhados nestas eleições para conseguirmos aumentar a nossa representatividade local e estabelecermos o PSD como principal alternativa ao PS. Temos de traçar o caminho passo a passo. Agora, o objetivo deve ser direcionado para a conquista de mais mandatos e reconquista das Câmaras que já eram sociais-democratas, só depois é que devemos pensar na construção da tal alternativa.
Mas foi o próprio presidente do partido que trouxe para o espaço público, recentemente, previsões sobre o impacto destas eleições na liderança do PSD, afirmando que, se os resultados do partido fossem piores do que os registados em 2017, seria "um encontrão para cair". Concorda com esta análise de Rui Rio?
Essa é uma análise do presidente do partido que só a Rui Rio diz respeito.
Sabemos que partimos de uma situação difícil de 2017, mas, ainda assim, é difícil estabelecer com uma 'regra e esquadro' o que é um bom resultado para o PSD nestas eleições"
Mas, no seu entendimento, o que seria um bom resultado para o PSD nestas autárquicas?
O PSD tem sempre a ambição de ser um partido maioritário, seja a nível local ou nacional. Agora, sabemos que partimos de uma situação difícil de 2017, mas, ainda assim, é difícil estabelecer com uma 'regra e esquadro' o que é um bom resultado para o PSD nestas eleições, considerando que tem de haver, para além de uma análise quantitativa, uma avaliação qualitativa dos resultados.
Claro, que queremos ter mais mandatos, mas não o queremos para mandar por mandar. Queremos ter mais força política local porque acreditamos que assim temos mais capacidade para desenvolver as nossas propostas e, consequentemente, o país. Ambição é o que se pede aos candidatos do PSD, mas tem de ser uma ambição realista, reconhecendo os diferentes pontos de partida do PSD em cada um dos municípios e sabendo que a nossa diferença face ao partido socialista é significativa. Acima de tudo, não podemos baixar os braços e permitir que o PS esteja permanentemente no poder.
Concorda que, perante os objetivos que apontou, a liderança de Rui Rio seja avaliada depois destas eleições?
A seguir às eleições autárquicas, pelo próprio decorrer do calendário político do partido, teremos a realização de eleições diretas e do Congresso do PSD. Nessa altura, estou certo de será feito um balanço das eleições autárquicas e do percurso que o PSD fez nos últimos anos, nomeadamente, neste mandato de liderança de Rui Rio.
Mas, reforço, neste momento, o foco do partido deve estar a 100% concentrado nas eleições autárquicas e não nas diretas do partido para não prejudicarmos o trabalho que temos pela frente. Aquilo em nos devemos apenas focar - independente de com quem estivemos no passado e com quem podemos pensar estar no futuro - é em pensar no dia 26 de setembro porque só assim garantiremos o crescimento do partido no futuro, aconteça o que acontecer.
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