Da "generosidade" à "liderança militar". As reações à morte de Otelo
As opiniões sobre Otelo Saraiva de Carvalho não são consensuais. Apesar do seu papel no 25 de Abril, há quem não esqueça que esteve associado às FP-25 e que chegou a ser condenado. Recorde aqui as principais reações e homenagens ao estratega militar da Revolução dos Cravos.
© Global Imagens
Política Otelo Saraiva de Carvalho
A morte de Otelo Saraiva de Carvalho, um dos símbolos do 25 de Abril, aos 84 anos, na madrugada de domingo, desencadeou uma série de homenagens e agradecimentos ao coronel que arquitetou o plano de operações militares da revolução.
As reações chegaram de todos os quadrantes políticos e das principais figuras do Estado.
O Presidente da República destacou "a importância capital" de Otelo Saraiva de Carvalho no 25 de Abril, evocando-o como o capitão "protagonista cimeiro num momento decisivo da história contemporânea portuguesa".
"O que sobressai é o capitão de Abril, no seu papel essencial, naquilo que constituiu um momento decisivo da história contemporânea do nosso país, que foi o 25 de Abril e a viragem que trouxe na ditadura, através da revolução para a democracia", afirmou, mais tarde, aos jornalistas, à margem da participação no Dia do Município de Celorico.
O Primeiro-ministro elogiou a capacidade estratégica do coronel, a dedicação e a generosidade determinantes para uma Revolução dos Cravos "sem derramamento de sangue".
Costa endereçou ainda, em nome do Governo, as "mais sentidas condolências à sua família, assim como à Associação 25 de Abril".
O presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, referiu-se a Otelo Saraiva de Carvalho como "o maior símbolo individual do Movimento das Forças Armadas", que concretizou o sonho de todos os que "ansiavam por viver em liberdade".
Também o ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, enalteceu a "liderança militar" e a "capacidade estratégica", na revolução.
Por parte dos partidos, as reações foram desde o agradecimento à crítica.
O presidente do PSD, Rui Rio, reconheceu "o papel corajoso e decisivo" de Otelo Saraiva de Carvalho no 25 de Abril, mas considerou que será a história, com isenção, que avaliará o que "fez de bom e de mau".
O PCP registou o papel do militar no 25 de Abril, considerando que o momento da sua morte "não é a ocasião para registar atitudes e posicionamentos que marcam o seu percurso político".
O Bloco de Esquerda agradeceu o "contributo imprescindível" de Otelo Saraiva de Carvalho na revolução que trouxe a liberdade a Portugal, considerando que foi um "construtor do 25 de Abril".
Por parte do CDS, o vice-presidente do partido, Miguel Barbosa, considerou tratar-se de um dia "agridoce", ao lembrar a ação do mentor da Revolução dos Cravos na conquista da liberdade e, em simultâneo, "as atrocidades" das FP-25.
Já o Chega criticou o "papel perverso e destrutivo" de Otelo no pós-25 de Abril, defendendo que deveria "ter cumprido a sua pena numa prisão portuguesa" e nunca ter recebido um indulto.
Otelo Saraiva de Carvalho, militar e estratego da "Revolução dos Cravos", morreu ontem de madrugada aos 84 anos, no Hospital Militar, em Lisboa.
Nascido em 31 de agosto de 1936 em Lourenço Marques, atual Maputo, Moçambique, Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho teve uma carreira militar desde os anos 1960 e fez uma comissão durante a guerra colonial na Guiné-Bissau, onde se cruzou com o general António de Spínola, até ao pós-25 de Abril de 1974.
No Movimento das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano, foi ele o encarregado de elaborar o plano de operações militares e, daí, ser conhecido como 'estratego do 25 de Abril'.
Depois do 25 de Abril, foi comandante do COPCON, o Comando Operacional do Continente, durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), surgindo associado à chamada esquerda militar, mais radical, e foi candidato presidencial em 1976.
Na década de 1980, o seu nome surge associado às Forças Populares 25 de Abril (FP-25 de Abril), organização armada responsável por dezenas de atentados e 14 mortos, tendo sido condenado, em 1986, a 15 anos de prisão por associação terrorista. Em 1991, recebeu um indulto, tendo sido amnistiado cinco anos depois, uma decisão que levantou muita polémica na altura.
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