Ilda Figueiredo é, pela segunda vez consecutiva, a candidata do CDU à Câmara do Porto. Uma aposta que leva em conta a forma como a candidata defende os valores do partido e que a própria diz ser o resultado de um trabalho de proximidade que pretende dar voz aos cidadãos da cidade do Porto.
Aos 72 anos, a antiga eurodeputada candidata-se com um programa que promete dar continuidade às propostas apresentadas em 2017 e que pretende dotar a cidade de uma nova gestão municipal, onde a habitação volte a ser uma prioridade.
Trazer as pessoas de volta ao Porto, dando-lhes condições de habitabilidade que estão ao seu alcance financeiro, é o principal objetivo da vereadora, que não poupa críticas a Rui Moreira pela especulação imobiliária na cidade.
Ilda Figueiredo considera que a pandemia “veio tornar mais claro que as propostas que a CDU tem vindo a fazer para o Porto são ainda mais urgentes” e que “exige uma outra dinâmica e uma gestão alternativa da cidade”.
Sem querer fazer prognósticos sobre aquele que será o resultado das eleições no próximo dia 26 de setembro, Ilda Figueiredo assume que um “resultado ótimo” para o partido seria vencer a liderança da autarquia. Não acontecendo, recorda que a presença da CDU na cidade é essencial.
Confira na entrevista que se segue a visão da candidata do PCP à Câmara da Invicta, as suas propostas e a forma como analisa o trabalho que foi desenvolvido na cidade nos últimos anos.
Candidata-se à Câmara Municipal do Porto pela segunda vez. A sua escolha enquanto candidata, refere o partido, demonstra o reiterar da confiança por quem defende “bem alto" o lema da coligação: Trabalho, Honestidade e Competência. De que forma se revê, enquanto candidata, nestas palavras de confiança?
Revejo-me com muita honra, por ser novamente escolhida para liderar a lista à Câmara Municipal do Porto, na realidade ser candidata a presidente da Câmara do Porto, porque é disso que se trata também. É algo que acontece na sequência da defesa dos princípios e do trabalho que foi sendo desenvolvido ao longo dos anos e, em concreto, neste último mandato com a presidência da Câmara de Rui Moreira, com maioria absoluta na autarquia, e onde demonstrámos no dia-a-dia que é necessária uma gestão municipal alternativa, que dê prioridade aos interesses e direitos das populações, às suas reivindicações. Isto foi conseguido através de um diálogo permanente com as pessoas, seja indo aos locais, e foram centenas as visitas a as reuniões durante o mandato com diversas instituições, organizações da cidade, mas igualmente recebendo sempre à segunda-feira à tarde, no gabinete da CDU na Câmara, todas as pessoas e organizações que lá quiseram deslocar-se para levantar os seus problemas. Na sequência disso, não só denunciámos o que estava errado, e que as populações também nos transmitiram, como apresentámos propostas concretas.
Foram muitas as posições alternativas que defendemos para dar resposta aos problemas que a cidade estava a viver. Algumas propostas foram aprovadas e depois metidas na gaveta ou apenas executadas parcialmente, outras foram rejeitadas, mas há um manancial de propostas que também estão na base do programa que estamos a preparar.
Quais são as principais propostas da CDU para a cidade? Há mudanças em relação ao projeto que o partido tinha para a cidade em 2017 ou mantém as suas prioridades na gestão municipal, na melhoria da habitabilidade e mobilidade da cidade?
Temos um trabalho que ainda está a decorrer de diálogo com os candidatos da CDU à Câmara, à Assembleia Municipal, às freguesias, que inclui não só o Partido Comunista Português, o Partido Ecologista Os Verdes, mas muitos independentes que estão a trabalhar connosco, que estão a fazer propostas para incluirmos também no nosso programa. Ele está a ser ultimado, mas desde já posso adiantar que, naturalmente, esses temas continuam a ser temas centrais da cidade. A questão da habitabilidade, a questão da melhoria das condições de habitação, porque a cidade continua a perder população.
Nas últimas décadas, o Porto perdeu dezenas de milhares de habitantes. Nos últimos censos a população da cidade diminuiu em mais 5.600 pessoas, apesar de terem vindo para a cidade muitos emigrantes, que é uma área que tem de ser tida em conta pela Câmara Municipal. Mas é preciso estancar este fenómeno da saída de pessoas da cidade. E isso passa por uma profunda alteração de políticas no domínio da habitação, no domínio social, no domínio da intervenção da gestão municipal e também no apoio ao movimento associativo, na cultura, no desporto, na criação de equipamentos sociais e de proximidade das populações.
Estancar a saída da população passa por garantir que se aumenta a habitação pública na cidade, e nós estamos num momento especial em que há uma estratégia local de habitação que precisa de ser revista tendo em conta este objetivo. Mas também há uma lei de bases da habitação que tem mecanismos, como a carta municipal de habitação, e há um Programa de Recuperação e Resiliência [PRR], que a Câmara deve reivindicar que venha também uma parte substancial para a cidade do Porto com este objetivo. No próximo mandato queremos que sejam construídas ou reabilitadas três mil habitações para responder aos casos mais graves de falta de habitação – há uma lista de cerca de 900 pessoas na Domus Social – mas há mais de duas mil famílias que vivem em condições inadmissíveis, e depois há a necessidade de atrair para a cidade aqueles que tiveram de sair por causa das rendas especulativas e os que queiram voltar. Por isso, achamos que a Câmara deve lançar outro programa de mais três mil fogos habitacionais para conseguir recuperar a habitação na cidade. Mas queremos que esta habitação pública seja disponibilizada com rendas apoiadas ou com rendas controladas, sempre de acordo com os rendimentos das famílias. Verdadeiramente acessíveis, não é o regime renda acessível que o Governo criou. Mas também é necessário que a Câmara melhore o seu parque habitacional, e não é fazer só obras de fachada que os moradores contestam, porque nem sequer foram tidas em conta as suas propostas e reivindicações. Queremos verdadeiras obras do parque habitacional municipal, onde vive mais de 13% da população da cidade. E não só das casas mas também de todo o espaço envolvente, do apoio que é preciso ter para estas pessoas.
Valeu de tudo nesta cidade para correr com os moradores, sobretudo da zona do centro histórico, mas não só, e esse assédio alargou-se a outras zonas centrais. Só a pandemia é que pôs cobro a isso e o nosso receio é que volte
E o que é preciso mudar para que tudo isso seja possível?
Precisamos de ter uma gestão autárquica completamente diferente, uma gestão de proximidade, que crie equipas multidisciplinares nos bairros municipais e urbanizações, que tenha gabinetes de apoio à família, que tenha equipas interdisciplinares nas áreas da cultura e do desporto, com animadores culturais e desportivos de apoio às associações, que tenham o movimento associativo popular como uma componente central na defesa e desenvolvimento da cidade. A CDU ao longo deste mandato apresentou propostas com esse objetivo, alguma coisa foi melhorando graças a essa intervenção permanente, mas muito insuficiente. É necessário, no mínimo, duplicar esses apoios ao movimento associativo popular, é necessário ter outro plano municipal que dê esse apoio diário.
São necessários novos equipamentos. É preciso criar novas piscinas municipais. Há muitos anos que não se constrói nenhuma piscina municipal na cidade, e mesmo uma das piscinas municipais está fechada para obras. Achamos que é necessário construir três ou quatro novas piscinas em sítios densamente povoados onde não existe nenhuma piscina municipal, e posso dar alguns exemplos, como Aldoar, Bonfim, Paranhos ou Ramalde. Mas não só piscinas, outros equipamentos também. Estão previstos alguns pavilhões gimnodesportivos, um ou outro foi iniciado, mas é necessário muito mais. E a Câmara tem condições financeiras. É preciso notar que o saldo orçamental do município foi superior a 100 milhões de euros. Como isto podia ter sido investido na cidade e hoje estaríamos bem melhor!
Achamos que é necessário melhorar a vida na cidade, nomeadamente garantindo aquele princípio que nos parece muito importante de que nenhuma família precisa de andar mais de 10, 15 minutos a pé para encontrar um espaço verde, equipamento de lazer, um espaço de convívio, porque isso ajudará a integrar as pessoas na cidade e a terem uma qualidade de vida superior.
O que pretende fazer para travar a especulação imobiliária, que na apresentação da sua candidatura identificou como um dos grandes problemas da cidade e uma das falhas na gestão de Rui Moreira?
Tal como disse na altura, nós por diversas vezes procurámos que fosse aprovada a contenção do alojamento local na zona do centro histórico. Isso foi sendo rejeitado até ao limite. Muitos moradores foram obrigados a sair, sendo que a famigerada lei Cristas sobre o arrendamento urbano também contribuiu e ajudou a que isso acontecesse. Viveram-se épocas de assédio aos moradores na cidade, como se sabe. Os incêndios, as pressões, os arrombamentos. Valeu de tudo nesta cidade para correr com os moradores, sobretudo da zona do centro histórico, mas não só, e esse assédio alargou-se a outras zonas centrais. Só a pandemia é que pôs cobro a isso e o nosso receio é que volte.
Mas como dizia, só quando se provou que em algumas ruas mais de 50% dos moradores tinham sido obrigados a ir embora e as casas estavam destinadas ao alojamento local, a hostels e a hotéis, é que a Câmara aceitou condicionar o alojamento local e esse tipo de construções nessa zona. No entanto, mal passou o período mais grave da pandemia mesmo essa contenção acabou. Já tentámos retomar, porque receamos o que vem a seguir, mas a verdade é que não aceitaram e estamos neste momento sem esse mecanismo de contenção. E achamos que deve ser posto em funcionamento o mais rápido possível. Como também achamos que não devem ser autorizados novos hostels e hotéis sem um levantamento rigoroso do que já existe e das necessidades previsíveis. Achamos ainda que esse mecanismo de contenção deve ser alargado às zonas centrais do Porto.
O problema da habitação afeta o Porto, tal como outras grandes cidades do país. Isso vai gradualmente alterando o tecido social do centro histórico do Porto e afasta os jovens para os arredores da cidade. O que pode ser feito para alterar de uma forma imediata este ciclo?
Disponibilizando no imediato habitação pública para todos. Aliás, a Câmara criou algumas medidas temporárias de transformar o alojamento local, mas está a aplicar rendas que não são acessíveis à generalidade dos jovens da cidade. Mesmo com o complemento do apoio solidário não são acessíveis para a maioria dos jovens. É urgente disponibilizar habitação a preços acessíveis. Há um princípio que diz que não se deve gastar mais de 30% do rendimento da família no pagamento da habitação. Ora, nós temos na Câmara propostas de rendas nesse tipo de alojamento que a SERU, a Sociedade de Reabilitação Urbana, criou e que na prática levavam a maioria ou até a totalidade do ordenado dos jovens. Isto não pode ser. Não pode ser só para certas camadas da população.
No Porto, há muita habitação que está desocupada. Nós achamos que é urgente que o Governo permita a utilização desta habitação, e que a Câmara possa utilizar essa habitação que está desocupada para a disponibilizar.
O Porto tem outra particularidade que são as inúmeras ilhas e bairros operários, onde ainda vivem milhares de pessoas. Outras estão semi-ocupadas. É preciso rapidamente encetar a reabilitação, fazer a reconversão destas ilhas e bairros operários, eliminando o que é insalubre, mas recuperando, reabilitando e reconvertendo tudo o que é passível de reconversão ao serviço dos seus moradores e de acordo com os seus moradores numa perspetiva de futuro.
A pandemia veio demonstrar que é muito mais urgente avançar com estes problemas. O que exige uma outra dinâmica e uma gestão alternativa da cidade que não esta que tivemos até agoraE como criar mais habitação de qualidade para milhares de famílias no Porto face à atual dinâmica do mercado imobiliário na cidade?
Para isso a Câmara tem de usar os instrumentos que tem à sua disposição. É uma autarquia e não pode ter uma posição de deixar que seja o mercado a resolver o problema da habitação. Não pode. Mesmo sendo verdade que a autarquia não é a principal responsável pela carência na habitação, o Governo ou os governos que ao longo de mais de dez anos não fizeram qualquer investimento na habitação pública no Porto têm enormes responsabilidades, e a autarquia também. No sentido da exigência, dos instrumentos necessários para a reivindicação destes projetos.
Outra das suas prioridades passa por melhorar a qualidade de vida nos bairros sociais do Porto. Quais as suas propostas para reduzir a discrepância da qualidade de vida nesses bairros face a outros da cidade?
Em primeiro lugar, é necessário que haja um programa de reabilitação desta habitação municipal, feito em diálogo com os moradores e feito de uma forma diferente do que sucede com a Domus Social. É preciso criar equipas multidisciplinares que estejam atentas aos pequenos problemas, criar gabinetes de apoio à família, que ajudem na sua integração, na dinamização e no apoio à infância, aos idosos, é preciso recuperar os espaços públicos envolventes, criar equipamentos indispensáveis como creches e parques infantis, zonas de convívio e de desporto e de dinamização e intervenção cultural. A Câmara foi criando um ou outro instrumento por proposta e com grande pressão da CDU, como por exemplo o Desporto no Bairro. Só que nós temos 49 bairros na cidade e este abrange 16. Então e os outros todos? E, além disso, abrange apenas durante algum tempo do ano e nós queremos atividades permanentes.
A pandemia trouxe novos desafios socioeconómicos, ambientais e de planeamento. O que mudou no Porto e de que forma é que este novo contexto pandémico veio alterar aquilo que são as vossas políticas para a cidade?
Veio tornar mais claro que as propostas que a CDU tem vindo a fazer para a cidade são ainda mais urgentes, e tornam-se fundamentais para enfrentar este momento. O apoio efetivo ao movimento associativo popular, a criação destes gabinetes de apoio à família, esta ligação estreita bairro a bairro aos moradores da cidade, e quando digo isto não me refiro só aos moradores do bairro, falo de uma cidade onde o conceito de bairro deve abranger toda a cidade e incluir uma ligação estreita da autarquia para levar à participação dos moradores na sua própria gestão.
A pandemia veio demonstrar que é muito mais urgente avançar com estes problemas. O que exige uma outra dinâmica e uma gestão alternativa da cidade que não esta que tivemos até agora.
PRR? A Câmara deve ter uma estratégia permanente de reivindicação
Tendo em conta a emergência cada vez maior dos fenómenos causados pelas alterações climáticas, quais são as propostas da CDU para tornar o Porto numa cidade mais sustentável?
Uma questão central é a melhoria e o reforço do transporte público e por isso a CDU propõe um verdadeiro programa de mobilidade sustentável. Isto está ligado também ao problema da área metropolitana e sobretudo aos concelhos limítrofes, de onde vem uma parte importante da população que trabalha na cidade. Por isso, alterar a questão da habitação é importantíssimo para melhorar o ambiente na cidade. O ambiente sustentável está ligado à habitação, ao transporte público de qualidade e tendencialmente gratuitos, para incentivar o seu uso, mas também de transportes alternativos, como a partilha de bicicletas.
Na mobilidade, por exemplo, é preciso um programa e um planeamento que tenham em conta claro toda a área metropolitana, porque o Porto não é uma ilha, na área do transporte está ligado a outros municípios. Mas o Porto tem alguns instrumentos próprios, como a STCP, que é aqui operador único e que, aliás, devia ser na área metropolitana um operador interno. Temos o metro, o elétrico. É preciso expandir e ter uma posição reivindicativa forte, e depois criar outros equipamentos alternativos. Criar um programa municipal de partilha de bicicletas. Resolvendo o problema da habitação estamos a criar condições para que a mobilidade das pessoas seja menor na vinda para o trabalho. Uma boa parte dos trabalhadores do Porto vêm de fora, porque não têm habitação a preços acessíveis na cidade do Porto. Há outras medidas que propomos, como pôr fim à concessão privada para o estacionamento na cidade e que abrange zonas residenciais onde não era necessário haver qualquer tipo de parqueamento.
Mas também é necessário melhorar outras acessibilidades como a ponte D. Maria Pia, o Ramal da Alfândega, e criar mais espaços verdes. Renaturalizar as ribeiras da cidade, criando corredores verdes em redor, melhorar jardins que temos, alguns estão abandonados. Fizemos muitas propostas concretas com esse objetivo, algumas foram aprovadas mas ainda não saíram do papel. No Plano Diretor Municipal amputaram o que estava previsto para aumentar o parque oriental da cidade. Mas achamos que é necessário rever tudo isso.
Depois, claro, é possível dizer que a redução da poluição sonora, da poluição atmosférica, tudo isso é possível com estas medidas. Como também defendemos a alteração dos transportes, seja da Câmara ou da STCP, para equipamentos elétricos.
Defende que a cidade não deve ficar dependente apenas do turismo, a nível económico. Quais os planos para essa área?
Nós vamos certamente organizar de forma diversa este nosso programa para salientar que também é necessário trazer para a cidade novas atividades económicas, não ficar tão dependente do turismo, e mesmo esse turismo deve ser alargado a outras zonas da cidade e não ficar tão concentrado como acontecia antes da pandemia. Pensamos também que isso pode ser feito na base da defesa da própria identidade do Porto, do seu movimento associativo, da sua cultura, do seu património material e imaterial, com circuitos alternativos em que haja essa ligação profunda à vida, à história e à memória da cidade. Das suas lutas, das suas gentes que ajudaram a construir a cidade que temos hoje.
A TAP é indispensável para a cidade (...) Discordamos da visão de Rui Moreira que quer dar prioridade a empresas de transporte aéreo privadas
Jerónimo de Sousa acusou recentemente o Governo de tardar na concretização do Programa de Recuperação e Resiliência, bem como de estar a dirigir o PRR para o sítio errado - ou seja, para a capital. De que forma é que o partido pretende inverter essa situação e de que forma se compromete a usar estes fundos em prol da recuperação da cidade do Porto?
Seja na área da habitação, do ambiente, da própria cultura, da captação de atividades económicas para o Porto, a Câmara deve ter uma estratégia permanente de reivindicação. É fundamental que esse PRR seja utilizado para estas áreas, e que a Câmara demonstre que tem projetos e capacidade de execução desses projetos, e que o dinheiro deve vir com maior urgência.
Se avaliarmos o trabalho de Rui Moreira da perspetiva de quem defende a especulação imobiliária, ele certamente foi um bom gestor
Muito se tem falado sobre a presença da TAP e as suas ligações no aeroporto Sá Carneiro, havendo quem considere que a região é ignorada pela companhia aérea. Qual é o seu entender sobre este assunto: a TAP é dispensável ou não para a cidade, como defendeu Rui Moreira?
A TAP é indispensável para a cidade e a CDU tem defendido isso nas reuniões da Câmara, mas também no plano nacional. Discordamos da visão de Rui Moreira que quer dar prioridade a empresas de transporte aéreo privadas. Achamos que deve ser a TAP, como empresa maioritariamente pública, que deve manter na cidade do Porto não só um grande centro de operacionalidade, para servir desde logo a comunidade de emigrantes espalhados por essa Europa e pelo mundo, mas também com os países de língua oficial portuguesa, a própria Europa e a generalidade do mundo. Não deve ser necessário ir a Lisboa para poder chegar ao Brasil ou a África, ou onde quer que seja. A TAP deve fazê-lo como serviço público que é e como empresa de bandeira que o país precisa, para não ficar dependente de algumas transportadoras aéreas privadas que funcionam quando isso lhes interessa e lhes dá lucro, mas que fora isso, como aconteceu durante a pandemia, acabou.
Como avalia a liderança de Rui Moreira?
A minha avaliação naturalmente tem a ver com esta gestão que não deu resposta aos problemas essenciais da cidade, e que se mostrou até indiferente e alheia a problemas graves que se estão a viver. A falta de diálogo com os moradores, com as associações, e a sua incapacidade de assumir uma gestão que fosse ao encontro destas necessidades prioritárias e que foi tão visível no período da pandemia, porque vieram mais para cima da mesa as fragilidades que a cidade tem. Por isso, demonstrou essa incapacidade de dar resposta de uma forma integrada, com prioridade para os problemas sociais, habitacionais, para os problemas do urbanismo ao serviço dos moradores e não da especulação imobiliária.
A apreciação da gestão de Rui Moreira tem a ver com os interesses de classe que se defendam. Se for visto da perspetiva de quem defende a especulação imobiliária, ele certamente foi um bom gestor. Se for visto da perspetiva de quem defende os interesses dos moradores, de uma cidade progressista, desenvolvida, solidária, ele foi um mau gestor.
Ilda Figueiredo frisa que a "alteração profunda da gestão municipal exige que a CDU tenha um bom resultado na cidade" nas autárquicas© Global Imagens
A CDU tem-se mantido à parte das críticas que envolvem Rui Moreira no caso Selminho e que tem sido um dos maiores escândalos do autarca portuense ao longo do seu mandato. Porquê essa posição?
Essa é uma visão errada da nossa posição. O caso Selminho se existe foi porque a CDU apresentou uma queixa no Ministério Público quando surgiram na comunicação social os primeiros indícios de que haveria um problema com a Selminho, a família de Rui Moreira, e tomadas de posição no seu anterior mandato. Foi a CDU quem denunciou, foi a CDU que exigiu a sua clarificação, foi a CDU quem levou ao MP todas as suas dúvidas e pediu que fosse investigado. Agora, a CDU não se substitui ao tribunal. Se pediu ao Ministério Público que analise, se pronuncie e reaja, então, aguarda que o tribunal o faça e não se substitui a ele.
É a nossa diferença em relação aos outros, que não tomaram nenhuma posição quando o deviam ter feito, que em alguns alguns casos até deram alguma cobertura, e que agora se envolvem tanto a dizer que são os arautos desse processo e que a CDU não. A CDU foi quem denunciou e tomou as medidas quando eram necessárias, mas não se substitui aos tribunais no julgamento.
E face a esse caso, como analisa a recandidatura de Rui Moreira. Esperava que ele tomasse esta posição?
Sobre isso já disse muito claramente: a CDU não se substituiu aos tribunais, não faz julgamentos na praça publica. E cabe ao próprio decidir se tem condições ou não de se recandidatar.
Temos uma posição de oposição construtiva. Não somos aquele tipo de oposição que apenas diz que não está de acordo e que depois abandona os moradores e as associações à sua sorte
O que pode a Ilda Figueiredo trazer de diferente se for eleita como presidente da Câmara Municipal do Porto?
Nós temos um programa claro com objetivos que são, do nosso ponto de vista, fundamentais para a gestão municipal e para dar prioridade aos moradores, instituições da cidade, a começar pelo movimento associativo popular, e para ter um diálogo com toda a gente - escolas, universidades, diversas instituições da cidade e com as outras forças políticas. Sobre pelouros ou a sua distribuição, essa é uma questão que deve ficar para depois da população da cidade do Porto se pronunciar.
Não queremos substituir-nos aos cidadãos que vão votar a 26 de setembro, porque vão ser eles a decidir a Câmara que querem e quem deve ser o ou a presidente da Câmara e, em segundo lugar, se tem ou não condições para um diálogo maior para com todas as forças políticas. Nós defendemos um diálogo com todos os que forem eleitos para a Câmara, como sempre fizemos, porque temos uma posição de oposição construtiva. Não somos aquele tipo de oposição que apenas diz que não está de acordo e que depois abandona os moradores e as associações à sua sorte. Nós não fazemos isso. Como ao longo deste mandato tornámos claros – e noutros anteriores – nós apresentámos permanentemente propostas em reuniões de Câmara e quer fossem aprovadas ou rejeitadas nós íamos ter com os moradores e associações, íamos dialogar e ver o que podíamos fazer para com que os seus problemas fossem resolvidos. E nunca desistimos e nem vamos desistir, qualquer que seja o resultado eleitoral.
Afirmou, na apresentação da sua candidatura, que o "ótimo para o Porto seria ter uma presidência da CDU", acredita que isso é possível ou, tendo em conta também resultados anteriores, está ciente de que não será uma realidade?
Vou esperar pelos resultados, não quero à partida tomar posição sobre aquilo que vai acontecer no dia 26. Temos uma equipa capaz, trabalhadora, competente, honesta, com capacidades diversas e temos um programa, que vamos apresentar brevemente, que dá continuidade a todo um trabalho anterior e que assenta nestas linhas gerais de que já falei. E por isso vamos, naturalmente, aguardar pelo veredito popular. Os portuenses vão ter oportunidade de dizerem o que querem e a CDU espera pelo veredito. Mas isso não impede de continuar a dizer que a alteração profunda da gestão municipal exige que a CDU tenha um bom resultado na cidade.
E o que seria um bom resultado para a CDU no Porto?
Nós lutamos pelo ótimo, que é a presidência da Câmara.
Nas eleições autárquicas de 2017, a CDU registou o pior resultado de sempre em número de câmaras. Este ano aposta forte em recuperar alguns dos bastiões que perdeu. É essencial ter um resultado positivo e reconquistar alguns desses bastiões?
Diria que é essencial para os moradores, para as populações desses municípios, que a CDU volte a ter a presidência da Câmara. É essencial, tendo em conta o trabalho, a capacidade, a honestidade, a envolvência e o diálogo com os moradores, a abrangência da nossa posição e a nossa resposta aos problemas que se agravaram nessas cidades e que precisam que a CDU volte a ter a presidência dessas autarquias.
As negociações do próximo Orçamento do Estado para 2022 estão ao virar da esquina, e o PCP quer ganhar força nas autárquicas para impor linhas vermelhas na negociação. Que linhas são essas?
O PCP e a CDU não confundem as coisas. Nós concorremos para as eleições autárquicas numa coligação que tem a CDU, PCP, PEV e, eu diria, que por todo o país milhares e milhares de pessoas independentes que estão com a CDU e que aceitaram participar nas suas listas para estas autárquicas. Não vamos confundir eleições autárquicas com o trabalho na Assembleia da República e de cada um destes partidos no diálogo que também aí deve ser feito.
Mas esse resultado favorável dá, de certa forma, alguma margem negocial.
O resultado da CDU nas eleições vai ser decisivo para a melhoria das condições de vida das populações de cada concelho e freguesia onde esse resultado melhorar e, naturalmente que no seu conjunto, também no país.
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