"Nasceu para ser um lutador e a causa foi uma: a liberdade na igualdade"

Numa declaração ao país, o Presidente Marcelo destacou que apesar de poder "ter-se resignado ao caminho mais fácil do jurista respeitado, da quietude da sua origem social, do natural ascendente da sua cultura, do seu pensamento e da sua oratória", Jorge Sampaio "escolheu o caminho mais ingrato".

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Notícias ao Minuto
10/09/2021 11:03 ‧ 10/09/2021 por Notícias ao Minuto

País

Presidente Marcelo

"Acabei de exprimir à família do Presidente Jorge Sampaio, em dor, o pesar de todos vós". Após a morte de Jorge Sampaio, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa fez, ao final da manhã desta sexta-feira, uma declaração ao país sem direito a perguntas. 

"Lutando, mas serenamente, nos deixou hoje o Presidente Jorge Sampaio. Lutando serenamente, como sereno foi o seu testemunho de vida ao serviço da Liberdade e da igualdade. Sereno na sua luminosa inteligência, sereno na sua profunda sensibilidade, sereno na sua paciente mas porfiada coragem", acrescentou. 

O Presidente da República lembrou ainda o percurso de Sampaio "no movimento estudantil no início dos anos 60" e "na defesa, em tribunais plenários, dos presos políticos durante a ditadura", assim como "na construção de pontes, década após década, entre formações diversas no seu hemisfério político e fora dele".

"Jorge Sampaio nasceu e formou-se para ser um lutador e a causa da sua luta foi uma: a liberdade na igualdade"

Marcelo Rebelo de Sousa salientou também a "adesão ao PS", partido no qual "viria a ser deputado, líder parlamentar e líder nacional", e a importância de Sampaio na "formação da primeira e mais vasta pré-coligação eleitoral de Esquerda da nossa História democrática".

A presidência da Câmara Municipal de Lisboa não foi, assim, esquecida, com o chefe de Estado a sublinhar "a rara campanha de ideias, com visão estratégica, prioridade aos mais pobres e excluídos, preocupação com as pessoas, os seus sonhos, os seus dramas e a sua realidade". 

Marcelo prosseguiu salientando a "devotada e prestigiante presidência de Portugal" que Sampaio realizou, recordando a Cimeira de Arraiolos, a fundação da COTEC e a recriação das "presidências abertas do antecessor".

"Podendo ter-se resignado ao caminho mais fácil do jurista respeitado, da quietude da sua origem social, do natural ascendente da sua cultura, do seu pensamento e da sua oratória, escolheu o caminho mais ingrato: o da solidariedade para com os que mais sofriam, do convívio com o concreto", asseverou. 

Rebelo de Sousa destacou ainda "os meses sem dormir passados nesta casa, em Belém, por causa de Timor-Leste, a oposição à intervenção no Iraque" e, do período que se seguiu ao exercício do cargo de Presidente da República, "a dedicação à saúde pública global, herança do magistério paterno, e ao diálogo entre religiões, culturas e civilizações" e "o exemplar acolhimento dos refugiados sírios, fugidos das tragédias das guerras".

"E, sempre, as lágrimas genuínas do homem bom, porque era um homem bom, na partilha da alegria, tal como da dor alheias", acrescentou.

Sampaio, nas palavras do Presidente da República, "deixou-nos hoje com um duplo legado". "Duplo porque feito de liberdade, mas também de igualdade. Porque feito de inteligência, mas também de sensibilidade. Porque provou que se pode nascer privilegiado e converter a vida na batalha pelos não privilegiados, sempre lutando, mas com serenidade".

"A corajosa serenidade de um grande senhor da nossa democracia, de um grande senhor da nossa pátria comum", terminou.

Reveja aqui a declaração do Presidente Marcelo:

Jorge Fernando Branco de Sampaio, que nasceu em Lisboa em 1939, foi Presidente da República durante dois mandatos, entre 1996 e 2006. Em 1989, foi eleito líder do Partido Socialista e na mesma altura foi eleito presidente da Câmara de Lisboa, tendo sido reeleito em 1993.

Após a passagem pela Presidência da República, foi nomeado em 2006 pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas enviado especial para a Luta contra a Tuberculose e entre 2007 e 2013 foi alto representante da ONU para a Aliança das Civilizações. 

Já mais recentemente, presidia à Plataforma Global para os Estudantes Sírios, fundada por si em 2013 com o objetivo de contribuir para dar resposta à emergência académica que o conflito na Síria criara, deixando milhares de jovens para trás sem acesso à educação. 

[Notícia atualizada às 11h24]

Leia Também: Personalidades e entidades prestam homenagem a Sampaio nas redes sociais

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