Paulo Rangel formalizou a sua candidatura à liderança do PSD a semana passada. Hoje, vários dias depois de ter feito o anúncio, deu uma entrevista à TVI24.
Apesar de, para si, as "tentativas de enfraquecer politicamente" e de impedir a sua candidatura à presidência do PSD serem "um capítulo arrumado", o eurodeputado assumiu que, em julho, "houve duas ou três investidas, até com várias dimensões" neste sentido.
Recusando tecer mais comentários sobre o que considera ser a sua vida pessoal, o social-democrata disse apenas que o assunto se "resolveu bem".
Já sobre se considera ser 'normal' um político, em pleno século XXI, ter de assumir a sua orientação sexual, Paulo Rangel salientou que "normal não será, mas ainda é necessário", acrescentando que também não vê "mal nenhum nisso".
"Para unir o PSD não é importante o apoio desta ou daquela personalidade"
Questionado sobre o alegado apoio de Passos Coelho, o social-democrata disse que não faz ideia se conta ou não com esse suporte. Contudo, revelou que, praticamente todos os meses, enquanto esse era primeiro-ministro e líder do PSD o chamou "para falar de política europeia e nacional" e, portanto, "criou-se aí uma relação de bastante à vontade".
Hoje em dia, deixou escapar Rangel, as conversas entre ambos acontecem "frequentemente, algumas vezes por ano". Apesar disso, a decisão de se candidatar à liderança do PSD não teve influência nem deste nem de outro político. "Foi uma decisão individual", confessou o advogado.
"Para unir o PSD não é importante o apoio desta ou daquela personalidade. No PSD há várias sensibilidades e várias correntes que, normalmente, estão organizadas em torno de ideias [...]. Eu julgo que tenho todas as condições para agregar, portanto, não preciso da tutela de ninguém, seja de quem for, para conseguir aquilo que considero ser o primeiro objetivo de um líder do PSD: Fazer a agregação, fazer a unidade, a congregação destas várias correntes", sublinhou, acrescentando que, desde 2019, que "isto" não é feito.
"O meu primeiro desafio, o eixo da minha candidatura é: Unir todas as pessoas das diferentes sensibilidades, incluindo aqueles que venham a ser meus adversários. O meu objetivo é convidá-los, agregá-los. No fundo, mostrar um PSD unido", reiterou.
"Não compete ao PSD aprovar o Orçamento"
Sobre uma eventual crise política, na sequência da proposta do Orçamento de Estado para 2022 (OE2022), Rangel deixou claro que, na sua opinião, "não compete ao PSD aprovar o Orçamento".
"O PSD é oposição e este Orçamento é um mau Orçamento. Nós não podemos aprovar um Orçamento que é mau do ponto de vista que é a corrente de pensamento que o PSD representa", frisou, relembrando que o OE2022 tem "como principal bandeira a utilização dos fundos europeus". "E esgota-se nisso", afirmou Rangel.
Apesar disso, o eurodeputado admitiu que "não é desejável entrar numa crise política" e que para isso "o Partido Socialista tem de negociar com aqueles que são os seus parceiros de coligação, o PCP e BE".
Ainda sobre o mesmo tema, Rangel disse não acreditar que a proposta do OE2022 gere uma crise política, mas mesmo que isso aconteça, o PSD não deve alterar o seu voto contra o documento.
"Acho que é pouco provável que haja uma crise política, mas mesmo que houvesse isso em nada alteraria a necessidade do PSD continuar o seu curso de fazer uma clarificação interna", esclareceu.
Rui Rio? "Tenho respeito pessoal e político"
Sobre o atual presidente do PSD, Rangel garantiu que não tem "nenhum estado de alma" quanto a Rui Rio, por quem tem "respeito pessoal e político".
Apesar de ter sido candidato às europeias através do líder do PSD, a quem conhece há mais de 20 anos, "não deixou de fazer as críticas em privado e nos órgãos nacionais" quando discordava dele.
"Tínhamos diferenças na questão da Justiça e na questão da liberdade de imprensa e do papel da comunicação social, tivemos sempre posições bastante distantes", reconheceu.
“Governo tem instintos controleiros"
Já sobre o Governo de António Costa, Rangel pensa que este "tem instintos controleiros em toda a sociedade, procura dominar toda a sociedade de uma forma preocupante, seja nas áreas da comunicação social, nas áreas da Justiça, seja no domínio da agenda".
Rangel recusa acordos com o Chega
Antes da entrevista terminar, Rangel recordou que "o PSD nunca esteve nem estará fechado a fazer acordos, seja com o CDS, um parceiro preferencial, seja eventualmente, se for caso disso, com a Iniciativa Liberal". Contudo, recusou qualquer aliança com o Chega.
"O PSD é um partido de vocação maioritária e está aberto a fazer coligações com CDS-PP e Iniciativa Liberal. Precisamos de dar esperança aos portugueses. Maioria absoluta não é nenhuma impossibilidade. Nunca se ganharam eleições sem ir buscar votos ao centro e ao centro-esquerda [...]. O governo do PSD nunca fará coligação é com um partido radical, à direita ou à esquerda", concluiu.
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