Esta reunião acontece cinco dias antes da votação na generalidade da proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2022 e no final de uma semana em que as negociações entre executivo, PAN e partidos à esquerda do PS registaram escassa evolução em termos de perspetiva de acordo.
Saliente-se que também hoje o ministro de Estado e das Finanças, João Leão, é ouvido na Comissão parlamentar de Orçamento e Finanças, no âmbito da apreciação na generalidade do Orçamento do Estado para 2022 (OE2022).
Na quarta-feira, no Parlamento, o primeiro-ministro considerou que, na sequência das reuniões desta semana, o Governo e os partidos com quem está a negociar o Orçamento ficaram mais próximos do que antes, mas salientou também que não há um acordo final.
Perante os jornalistas, o líder do executivo socialista minoritário deixou mesmo um alerta: "O Presidente da República definiu uma consequência muito exigente para a inexistência de um Orçamento".
António Costa referiu então que esse aviso de Marcelo Rebelo de Sousa de dissolução do parlamento e convocação de eleições legislativas antecipadas "é uma coisa em se que deve meditar".
"Todos temos de meditar. Acho que a última coisa que alguém deseja é acrescentar à crise social, económica, pandémica e à crise energética ainda uma crise política", acentuou.
Já o presidente do PS, Carlos César, foi mais duro em relação à atuação do Bloco de Esquerda e do PCP ao longo das negociações do Orçamento para 2022, dizendo que estas forças políticas têm de esclarecer "o que os move" e se preferem fazer oposição a um Governo de direita ou fazer acordos com um Governo de esquerda.
Por sua vez, pela parte do PCP, o líder parlamentar, João Oliveira, em declarações à agência Lusa, sustentou na quinta-feira que "não serve de nada" viabilizar a discussão na especialidade de uma proposta orçamental que "não responde aos problemas do país" e indicou que faltam "sinais" do Governo quanto às pensões e salários.
Já no Bloco de Esquerda, o presidente da bancada parlamentar, Pedro Filipe Soares, considerou que o primeiro-ministro parece não ter vontade política de "chegar a bom porto negocial".
O Bloco de Esquerda reúne no domingo a sua Mesa Nacional, o órgão máximo entre convenções, para analisar o Orçamento do Estado para 2022. Uma reunião que acontecerá um dia depois de uma reunião prevista entre o partido e o primeiro-ministro no âmbito das negociações para a viabilização do Orçamento.
Entre os dirigentes do PS contactados pela agência Lusa, o cenário de eleições legislativas antecipadas, na sequência de uma situação em que a esquerda política se revela incapaz de se entender em torno de um Orçamento do Estado, é encarado com elevada apreensão.
António Costa, nas declarações que fez aos jornalistas ao longo desta semana, tem procurado salientar a abertura do Governo para negociar medidas com o Bloco e PCP, designadamente nas áreas da saúde e revisão da legislação laboral.
Mas, em paralelo, António Costa também tem colocado sempre como linha vermelha o equilíbrio das contas públicas e a continuação do processo de consolidação orçamental em 2022.
"Ter as contas certas é chave para manter as taxas de juro baixas, para preservar a confiança e a credibilidade internacional do país. Esse é um bem inestimável que em circunstância alguma nós podemos perder ou pôr em risco, porque isso significa mesmo sacrificar o nosso futuro", declarou na terça-feira num encontro com a JS em Lisboa.
No dia seguinte, no parlamento, o primeiro-ministro reforçou essa mensagem.
"Estamos totalmente empenhados para que haja um acordo, vamos fazer tudo para que esse acordo exista, mas é um acordo que tem de contentar todas as partes. Esse acordo tem de contentar os outros partidos, mas o Governo também tem de se sentir confortável no sentido de poder assumir a responsabilidade daquilo que assina e daquilo com que se compromete", declarou.
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