Em conferência de imprensa, o deputado e dirigente do PEV, José Luís Ferreira, anunciou que tal como "afirmámos que o OE tal como está não teria pernas para andar", e depois de o Governo ter acolhido apenas "uma das nossas propostas" e de ter mostrado "abertura para acolher mais duas, sem uma palavra sobre dois eixos fundamentais para nós", "face a este quadro, o Governo não está a querer arranjar soluções e acabou por não nos dar alternativa ao voto contra".
Acrescentando que o documento apresentado pelo Governo, e que vai ser votado na generalidade na quarta-feira está "muito longe" de responder aos problemas que o país tem, o deputado lamentou que o Executivo socialista "tenha desistido de procurar soluções" com o Partido Ecologista 'Os Verdes' e que apenas tenha acolhido uma das propostas do partido e apresentado disponibilidade para considerar outras duas.
Já sobre os "eixos" para o desenvolvimento do país que o PEV considerou imprescindíveis, não houve "uma palavra" do Governo sobre o combate à pobreza e o reforço dos investimentos nos transportes públicos na resposta que o partido recebeu no domingo, "já muito tarde", cerca da meia-noite, sustentou.
O deputado considerou que "mais grave" do que a hora a que chegou a resposta do Governo às reivindicações do PEV - já que o partido tinha "o compromisso" do executivo de a receber no sábado para ser deliberada na reunião da Comissão Executiva - "é o próprio conteúdo".
Questionado sobre se haverá possibilidade de o PEV alterar o sentido de voto até à votação, José Luís Ferreira, ladeado pela deputada Mariana Silva, referiu que "'até ao lavar dos cestos ainda é vindima'", mas tem "muitas dúvidas de que isso venha acontecer".
"Se não conseguimos aferir a disponibilidade do Governo entre julho e outubro... Em dois dias, ou um dia e meio, será difícil que isso venha a acontecer, mas se o Governo der abertura para acolher as nossas propostas, certamente que teremos disponibilidade" para alterar o sentido de voto, acrescentou.
Interpelado também sobre a possibilidade de eleições legislativas antecipadas que está em cima da mesa agora que o 'chumbo' está preanunciado, o deputado ecologista apontou que "as eleições não são o único caminho".
"O nosso quadro constitucional tem soluções que não apontam apenas para o caminho das eleições, portanto, só teremos eleições se o Presidente da República e o Governo assim o entenderem. Há outras soluções que não passam por eleições. Mas se esse for o caminho, lá estaremos para as enfrentar", sustentou, vincando que da parte do Governo faltou "flexibilidade", apesar de o país estar a recuperar e a sair da pandemia e de as previsões apontarem para o crescimento da economia portuguesa.
O PEV junta-se assim a PCP e Bloco de Esquerda que hoje e ontem, respetivamente, anunciaram o seu sentido de voto: contra.
Apenas as deputadas não-inscritas Joacine Katar Moreira e Cristina Rodrigues se mostraram disponíveis para viabilizar, com abstenções, a proposta de OE2022.
Face a este cenário à Esquerda, o primeiro-ministro António Costa convocou, para esta noite, uma reunião de urgência do Conselho de Ministros.
De acordo com o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, esta reunião extraordinária do Governo "servirá para avaliar a situação em que o Executivo minoritário socialista se encontra do ponto de vista político e a preparação do debate da proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2022", que se inicia na terça-feira.
[Notícia atualizada às 17h36]
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