No arranque do debate na generalidade do Orçamento do Estado, Rui Rio considerou que o país vive uma fase "de profunda instabilidade política", não apenas pelo anunciado chumbo do documento por BE e PCP.
"Mesmo que passe, está à vista que a maioria parlamentar que o apoiou se desfez por completo. Para passar o OE, vai ter de andar à pesca a linha e mudar o isco no anzol consoante o peixe que quer pescar", criticou.
Para o líder do PSD, se no ano passado a chamada 'geringonça' já "estava coxa, hoje não tem pernas para andar".
"Está sentada numa cadeira de rodas, à espera que alguém a empurre", afirmou.
Rio fez questão de citar o fundador do PS Mário Soares, que "estabeleceu uma linha vermelha, porque percebeu que nunca podia ficar nas mãos do PCP e, neste caso, do BE".
"Inverteu toda a lógica de Mário Soares e, mais, agravou quando disse que quando precisasse dos votos do PSD para aprovar o Orçamento, o seu Governo acabaria", disse.
Neste Orçamento, considerou, "ainda deu mais ao PCP e BE, só que desta vez não chegou".
"Porque o senhor primeiro-ministro colocou-se de tal modo nas mãos deles que agora quem mandam são eles", acusou.
Na resposta, Costa manifestou "muito orgulho" por, em 2015, "ter rompido com um mito da política, que era o mito do arco da governação, que estabelecia um muro de Berlim, onde do lado de cá estavam PS, PSD e CDS, e do outro todos os excluídos da participação em responsabilidades executivas".
"Tenho muito orgulho de ter derrubado esse muro e ainda mais com o apoio do então vivo dr. Mário Soares", afirmou.
Costa considerou ainda que Rio seria "a última pessoa que imaginava" a falar em estabilidade política.
"Que estabilidade tem vossa excelência a oferecer?", questionou, numa referência indireta às eleições internas do PSD, marcadas para 04 de dezembro.
António Costa considerou "fundamental para a democracia que existam alternativas claras", frisando que tanto ele próprio como Rui Rio SEMPRE recusaram "soluções de bloco central, que empobrecem a democracia".
"É a manutenção dessa clareza política que é absolutamente fundamental para que país possa ter democracia viva e dinâmica", afirmou.
No debate com o primeiro-ministro, o presidente do PSD considerou que o resultado dos últimos seis Orçamentos do Estado aprovados à esquerda foi colocar Portugal "na cauda da Europa", já ultrapassado por parceiros recentes na União Europeia como Estónia ou Lituânia e, em termos de salário médio, apenas estar à frente da Bulgária.
Rio defendeu que os executivos de Costa beneficiaram de "uma conjuntura favorável", referindo-se à política do Banco Central Europeu sobre os juros ou os dividendos do Banco de Portugal.
"O que fez? Aumentou impostos com este dinheiro todo, chamou o PCP e BE e distribuiu o que quiseram para aprovar o OE e estamos cada vez mais na cauda da Europa", criticou.
Na perspetiva de Rio, o Orçamento para o próximo ano - o PSD votará contra o documento - não responde "nem aos problemas estruturais, nem aos conjunturais", como o aumento do preço dos combustíveis ou a crise temporária no turismo e na restauração.
Costa contrariou esta visão, dizendo que foi o seu Governo que "permitiu que Portugal interrompesse 16 anos de divergência com a União Europeia".
O primeiro-ministro acusou ainda o líder do PSD de incoerência, acusando-o de se preocupar com a despesa, mas, no passado, se ter juntado a outros partidos "em maiorias negativas que aumentaram a despesa pública".
"Quando fala em receita, tão depressa diz que devíamos aumentar o IVA da restauração, para criar uma folga para um momento de necessidade, como a seguir vem dizer que é necessário baixá-lo", criticou ainda.
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