Mesquita Nunes sai do CDS. "O partido em que me filiei deixou de existir"
Após 25 anos de militância, o anúncio da saída foi feito, este sábado, através de uma publicação nas redes sociais. "É o mais difícil ato político da minha vida", afirmou.
© Maria João Gala /Global Imagens
Política CDS
Adolfo Mesquita Nunes anunciou, este sábado, a sua saída do CDS. "O partido em que me filiei deixou de existir", começou por escrever numa longa publicação de Facebook, admitindo ser o "mais difícil ato político" da sua vida.
"Nunca pensei pedir a desfiliação do partido em que milito há 25 anos, a quem tanto devo e a quem entreguei boa parte da minha vida, do meu empenho e do meu entusiasmo. E se o faço hoje, no que provavelmente é o mais difícil ato político da minha vida, é porque o partido em que me filiei, o CDS das liberdades, deixou de existir", continuou o antigo secretário de Estado.
Segundo Mesquita Nunes, a saída assenta "na convicção de que o CDS é hoje, estruturalmente, um partido distinto" daquele em que se filiou e "um partido que quer afastar-se do modelo de partido" que serviu como dirigente.
"Quando, em 2011, me sentei na bancada parlamentar do CDS, senti orgulho e sentido de dever. Ali estava, ao meu lado, do mesmo lado, um espelho da direita das liberdades que o CDS se propôs representar no seu Programa. Nas nossas diferenças, tínhamos e temos tanto em comum: o humanismo, o personalismo, o Homem como princípio e fim de toda a ação política, a liberdade individual e a igualdade perante a lei", recordou, acrescentando que espelhavam "a diversidade do eleitorado de direita, as contemporâneas formas de entender esses valores e de lutar por um país de oportunidades, de liberdades, de justiça social".
Mesquita Nunes garantiu ainda: "Não nos passou pela cabeça eliminar as nossas diferenças, porque delas vinha a nossa força. Não nos passou pela cabeça relativizar o que tínhamos em comum, porque daí vinha a nossa convicção. Não nos passou pela cabeça desqualificar a nossa história, porque nenhum de nós se sentia intérprete único do partido".
Mas... "os tempos são outros, agora", pois "essa diversidade é vista como fraqueza, perda de identidade, como se só houvesse uma única e legítima forma de ser do CDS", atirou.
"Nunca me imaginei em discussões sobre se alguém do CDS pode não gostar de touradas, se pode ser vegetariano, se pode divorciar-se, se pode amar quem quiser, se pode não ser crente. Mas essas discussões vieram para ficar e dão bem conta das novas prioridades do partido"
“Diz-se, com convicção, que há muitos de nós que não devemos estar aqui, que temos de ir embora. Acusa-se, com todas as letras, quem diverge de ter interesses clientelares ou políticos obscuros. E sempre, em tudo isto, um dedo acusador, moralista, de quem acha que no CDS só pode estar quem confirme uma suposta pureza cristã”, reconheceu.
O ex-deputado deixou ainda críticas à decisão de adiar o congresso do partido, onde Francisco Rodrigues dos Santos e Nuno Melo devem disputar a liderança centrista. "O Conselho Nacional de ontem, em que o CDS desistiu, enquanto partido, de discutir e decidir em Congresso com que liderança e com que estratégia deve enfrentar as próximas eleições legislativas é apenas a confirmação de que o partido deixou de existir, com pensamento e estratégia autónoma, aceitando com entusiasmo o caminho para a nossa irrelevância, dependendo da bondade e caridade de terceiros".
"Como é possível que o CDS aceite que uma direção retire aos militantes o direito de escolher o seu líder e a sua estratégia; e que o faça num Conselho Nacional ilegalmente convocado e ignorando as decisões do órgão jurisdicional do partido; e ainda para mais para manter uma direção cujo mandato termina em Janeiro?", questionou.
O antigo dirigente do partido lamenta que o CDS se tenha transformado "noutra coisa". "É legítimo que o faça. Assim como é legítimo que eu escolha desfiliar-me agora que essa transformação se cristalizou. Até ao último dia acreditei que era possível inverter este rumo. Vejo hoje que este se tornou irreversível".
Admitiu ainda que deixa o CDS, após 25 anos, "sem uma gota de arrependimento" pelo percurso que fez. "Foi uma honra ter servido e representado o CDS e é com orgulho que olho para o que, com erros e acertos, fomos capazes de fazer em nome da direita das liberdades. Nunca fiz esse caminho sozinho".
"O meu valor primeiro é o da liberdade. Nunca o comprometi ao ser do CDS. E é em nome dela liberdade que me desfilio", rematou.
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