Uma mão cheia de baixas. O retrato de um sábado 'negro' para o CDS
Em (apenas) um dia, seis militantes abandonaram os centristas: Adolfo Mesquita Nunes, Manuel Castelo-Branco, Inês Teotónio Pereira, João Maria Condeixa, Michael Seufert e António Pires de Lima. Já João Almeida anunciou que vai deixar a Assembleia da República.
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Política CDS-PP
Um dia (complicado) para o CDS-PP terminou com (mais de) uma mão cheia de baixas. Seis militantes abandonaram o partido, com os democratas cristãos a verem ainda João Almeida a deixar a Assembleia da República. A acrescentar, o adiamento do Congresso para depois das Legislativas e a luta interna pela liderança do partido são temas que - também - estão a causar tumulto.
Este dia 'negro' para o partido começou com o 'bater com a porta' de Adolfo Mesquita Nunes. Militante centrista há 25 anos, o anúncio da saída foi feito através das redes sociais. "O partido em que me filiei deixou de existir", considerou, afirmando ainda que a decisão de tratou do "mais difícil ato político da minha vida".
Atualmente, acusou, a "diversidade é vista como fraqueza, perda de identidade, como se só houvesse uma única e legítima forma de ser do CDS". "Nunca me imaginei em discussões sobre se alguém do CDS pode não gostar de touradas, se pode ser vegetariano, se pode divorciar-se, se pode amar quem quiser, se pode não ser crente. Mas essas discussões vieram para ficar e dão bem conta das novas prioridades do partido", destacou também na mesma mensagem.
Entretanto, o militante do CDS Manuel Castelo-Branco, filho de uma das vítimas das FP-25, também anunciou a sua desfiliação do partido através de uma publicação no Facebook na qual diz que se revê em "tudo aquilo" que disse Adolfo Mesquita Nunes e que "assume" sua "orfandade ao projeto". "Isto acabou. É fechar a porta e também me vou embora. Está semana, depois de mais de 10 anos da liderança e uns 15 de filiação, assumo a minha orfandade ao projeto e apresentarei o meu pedido de desfiliação desta organização", frisou.
Argumento semelhante foi o usado por Inês Teotónio Pereira e João Maria Condeixa. A ex-deputada e o ex-dirigente nacional centrista anunciaram também a respetiva desfiliação do partido, explicitando que já não reconhecerem a formação política em que acreditaram e a que se 'juntaram' há décadas.
"Todos aqueles que votaram nesta direção deviam hoje pedir desculpa aos militantes do CDS e aos seus apoiantes pela humilhação a que sujeitaram o partido. Pelo menos aqueles que têm um mínimo de decência. O CDS não é o mesmo partido que sempre foi - está mais perto do PCTP-MRPP - e eu não pertenço ali. Por isso, e ao fim de décadas de militância, desfilio-me hoje com enorme tristeza", justificou Inês Teotónio Pereira, numa publicação na rede social Facebook.
Já João Maria Condeixa, que militava há 24 anos nos centristas, vincou que a decisão que toma não é "circunstancial, embora os mais recentes acontecimentos e o tribalismo vivido no seio do CDS a tenham precipitado". O centrista, que chegou a subscrever moções de pendor liberal com João Almeida e Adolfo Mesquita Nunes, entre outros, afirma ter acreditado "num partido capaz de dizer a palavra progresso sem se assustar ou ver nela fantasmas". "Acreditei num partido, pluralista e aberto, onde os costumes não tivessem de ser apenas os que costumam. Acreditei no tal partido que fosse capaz de ir libertando o Homem do Estado e fosse construindo o Estado em função do Homem e não o Homem em função do Estado. Esse partido não veio. Pior, foi adiado", argumentou, na carta de desfiliação que partilhou na rede social Facebook.
A quarta baixa foi Michael Seufert. O antigo deputado (também) revelou a decisão nas redes sociais e deixou críticas à atual liderança. "O CDS que eu conheci, morreu. Não porque está liderado pelas pessoas erradas - que está, mas isso é sempre passageiro - mas porque desistiu de si mesmo, dos seus militantes e de ter um projeto para Portugal", escreveu no Facebook.
E mais: "Porque face a eleições legislativas que ainda nem estão marcadas se acobardou de encontrar a clarificação interna e um projeto nacional de que os partidos não podem ter medo sob pena de o deixarem de ser. Quem tem medo de no seu partido ir a votos, não vai convencer mais ninguém", continuou o antigo deputado, presidente da Juventude Popular entre 2009 e 2011.
Já à noite, em entrevista à SIC Notícias, foi a vez de António Pires de Lima anunciar que iria abandonar o CDS. Afirmando que o faz com "enorme tristeza", o ex-ministro considerou que não tem "condições" para continuar a ser militante depois do Conselho Nacional de sexta-feira. "Há um dever sagrado que um presidente do partido tem, e um direito sagrado que os militantes do CDS têm, que é poderem reunir-se em Congresso e poderem escolher o seu presidente e, em função disso, esse presidente estar ou relegitimado ou refrescado na direção do CDS para se apresentar às legislativas. Portanto, aquilo que o atual presidente do CDS fez nas últimas 48 horas é a maior desqualificação dos militantes do CDS", apontou.
O que aconteceu?
O Conselho Nacional do CDS-PP aprovou o adiamento, para depois das eleições legislativas, do congresso eletivo do partido, que deveria realizar-se a 27 e 28 de novembro, em Lamego. O cancelamento do congresso por proposta do presidente do partido foi aprovado com 144 votos a favor (57,8%), 101 contra (40,6%) e quatro abstenções (1,6%), disseram à Lusa várias fontes que assistiram à reunião.
O 29.º Congresso do CDS-PP estava agendado para 27 e 28 de novembro, em Lamego, distrito de Viseu. São candidatos à liderança do partido o atual presidente, Francisco Rodrigues dos Santos, e o eurodeputado Nuno Melo.
'Chicão' ressalvou que o resultado do Conselho Nacional representa "um mandato claro a esta direção para começar a preparar as próximas legislativas", enquanto o seu adversário interno defendeu que a legalidade do partido "está em causa" e que "quem foge aos votos dos militantes" não merece a "confiança dos eleitores".
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