No debate parlamentar de apreciação do relatório final elaborado pela comissão, cujo trabalho foi limitado pela anunciada dissolução da Assembleia da República, Luís Testa disse que o mandato destes deputados "foi cumprido na medida do possível" e agradeceu os contributos de personalidades e instituições ouvidas nos trabalhos, deixando ainda um repto para o futuro.
"O que nos coloca o futuro? A necessidade imperativa de continuarmos o trabalho iniciado e não concluído. É por isso que exorto aqueles que venham a ser eleitos, os grupos parlamentares que venham a ter representatividade, para que na próxima legislatura este trabalho tenha continuidade", afirmou.
Coube ao presidente da comissão encerrar o debate após ter ouvido várias críticas dos outros partidos, que o deputado socialista fez questão de ligar à realização de eleições.
"A aparente dissensão dos partidos, porventura pelo clima pré-eleitoral que já se vive no país, contrasta com o trabalho na comissão", comentou, destacando ainda os grupos parlamentares do PS e do CDS-PP por terem sido os promotores da criação da comissão: "Foi deles que nasceu a iniciativa de que o parlamento também tivesse uma palavra a dizer no assunto provavelmente mais importante dos últimos anos".
Na leitura da pandemia feita pelas diferentes forças partidárias, o deputado André Pinotes Batista (PS) vincou que "o Serviço Nacional de Saúde [SNS] e a escola pública não falharam" e exaltou ainda o trabalho do governo socialista nos apoios sociais. Por outro lado, reforçou que não houve falhanço na economia e que o país conseguiu evitar o aumento do desemprego.
Na resposta, a social-democrata Sandra Pereira fez questão de notar a postura "construtiva e de colaboração" do PSD "desde a primeira hora" no combate à covid-19 e lamentou a falta de atenção manifestada pelo executivo.
"Não concordámos sempre com a atuação do governo, nem sempre fomos ouvidos e considerados, mas continuámos a estar presentes e a viabilizar a ação do governo", disse, salientando que "o governo não foi adequadamente célere na resposta à pandemia" e que "uma ação mais rápida e assertiva teria salvado mais vidas".
Moisés Ferreira, pelo Bloco de Esquerda (BE), abriu a sua intervenção com a justificação do fim "abrupto" da comissão de acompanhamento não por responsabilidade dos bloquistas, "mas porque a atração do governo pelas eleições assim o ditou" e passou às críticas ao executivo, em particular à ministra da Saúde, Marta Temido.
"O SNS é imprescindível ao país, por oposição ao setor privado que faz da saúde um negócio. Os profissionais do SNS são de uma dedicação e de uma resiliência inexcedíveis que não podem ser postas em causa. O SNS não falhou, mas é verdade que o governo falhou em diversos momentos da pandemia", frisou, concluindo que "o governo insiste em não querer aprender nada com a pandemia e o país dirá que tira as suas conclusões".
O tom crítico foi, por razões distintas, comum a PCP e CDS-PP, com a comunista Alma Rivera a notar que "se já tivessem desmantelado o SNS, tudo teria sido diferente" na resposta à covid-19; por sua vez, o centrista Miguel Arrobas destacou o trabalho do seu partido na fiscalização das medidas, sem deixar de apontar a "desorganização" do governo.
Nelson Silva, pelo PAN, considerou que a "pandemia foi uma aprendizagem" e que a sociedade deve olhar para os seus hábitos perante esta "crise", enquanto Mariana Silva, dos Verdes, observou que com a covid-19 "ficou patente o crónico subfinanciamento do SNS" e criticou as decisões que "tardaram e foram aplicadas em dimensão insuficiente".
Finalmente, o líder do Chega, André Ventura, rebateu o discurso do PS, ao apontar Portugal como "o país da União Europeia com menos apoios económicos" e o atraso nas consultas e cirurgias, bem como na entrega de computadores aos alunos na área da Educação.
João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, denunciou a "ação errática e lenta do governo".
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