Depois de virar as costas ao Bloco de Esquerda quando este chumbou o Orçamento de Estado 2022, e de passar grande parte da campanha eleitoral a pedir uma maioria, referindo poucas vezes a expressão quase tabu "maioria absoluta", António Costa parece estar agora a recuar.
O secretário-geral do Partido Socialista (PS) abordou algumas das principais temáticas que têm marcado a atualidade política do país, em entrevista à CNN Portugal, e admitiu um possível regresso da geringonça, ainda que de forma cautelosa.
Com a aproximação do dia das eleições, 30 de janeiro, e com o objetivo de maioria a parecer cada vez mais distante, o primeiro-ministro já pondera negociações para manter-se no poder.
O líder socialista diz-se disponível para "promover o diálogo com todos", à exceção do partido de Ventura. Admite ainda criar "soluções de estabilidade" para os próximos quatro anos, caso não seja capaz de atingir a tão desejada maioria absoluta. "Cumprirei o mandato que me derem, sejam quais forem as condições", garantiu.
Quanto à possibilidade de se coligar ao Bloco de Esquerda e à CDU para garantir uma eventual maioria, Costa garante que "na política não há zangas" e que "o que importa é o futuro".
Porém, há duas semanas a sua posição relativamente ao Bloco divergia do que afirmou esta terça-feira.
No frente a frente realizado na RTP1 com a coordenadora bloquista, Catarina Martins, Costa mostrava não se ter esquecido do chumbo do OE2022 e vincou isso por diversas vezes ao longo do debate. Nessa altura, o primeiro-ministro ainda acreditava na maioria, algo que se foi desvanecendo com o avançar da campanha e com os resultados das sondagens que apontavam para o PSD muito próximo do PS (embora com os socialistas à frente na grande maioria das vezes).
Na altura, dia 11 de janeiro, dizia Costa que "o Bloco já rompeu [o diálogo à esquerda], não foi este ano, já foi o ano passado". Acrescentava ainda que, por "vontade do Bloco o governo do PS já tinha sido derrubado há um ano atrás".
"Nós maioria vamos ter, resta saber se vamos ter uma maioria do PS para continuar a avançar ou se temos uma maioria da oposição cujo único efeito é bloquear", dizia ainda.
Costa mostrava-se inflexível e a morte da geringonça parecia certa, mas o avançar da campanha ditou uma mudança de planos. Catarina Martins foi a que deu o 'primeiro passo' para um possível entendimento.
No passado domingo, a coordenador bloquista convidou Costa para uma reunião no dia 31 de janeiro, pós-eleições, no sentido de se chegar a acordo para um governo de quatro anos. Uma reunião rejeitada pelo primeiro-ministro até ontem, com Costa a mostrar-se agora aberto a essa possibilidade.
Com estes avanços e recuos, o secretário-geral do PS foi acusado pelo líder da oposição de "ziguezagues". Rui Rio disse esta terça-feira que "António Costa tem andado notoriamente aos ziguezagues. Ora diz uma coisa, ora diz outra”.
Rio referia ainda que Costa já disse em tempos não dialogar com ninguém e que "há dois dias, disse que afinal dialogava com toda a gente". “Não sei em que acreditar. Sei é que voltamos a ter a possibilidade de uma geringonça”, concluía.
Recorde, neste link, todos os temas discutidos por Costa em entrevista à CNN.
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