O dirigente e fundador do Livre, Rui Tavares, defendeu hoje que, no ano em que o Brasil "se vai livrar de Bolsonaro", Portugal não pode "estar a fazer uma maioria depender da extrema-direita".
"Nós vemos o que tem feito a vitória dos populismos em países como o Brasil ou os Estados Unidos. Não pode Portugal, no ano em que o Brasil se vai livrar de Bolsonaro, estar a fazer uma maioria depender da extrema-direita", defendeu o historiador, que cumpre o último dia de campanha a distribuir folhetos no centro de Lisboa.
Rui Tavares considera que "a situação do bloco central" também "não é desejável" e, por isso, voltou a apelar a uma maioria "tão ampla quanto possível" para haver "uma boa base de apoio".
Rui Tavares apontou que, "entre os dois maiores partidos", Rui Rio "desde sempre revelou uma quase obsessão pela revisão constitucional, por causa das magistraturas, por causa do poder judicial e agora tem no programa do PSD uma revisão por causa das alterações climáticas que é de facto um exemplo de total branqueamento e de total utilização das alterações climáticas para um assunto que nada tem a haver com elas".
"Pior, é se PS e PSD estiverem a fazer um acordo de governação, evidentemente que Rio porá uma revisão constitucional em cima da mesa e, portanto, é preciso ter muita atenção", advertiu Tavares, argumentando que "quem está indeciso em votar no PS ou no PAN" para não ter Rui Rio no governo pode estar a votar "de uma forma e ver o seu voto ser utilizado de outra".
Tavares defendeu que "chega de uma direita a propor austeridade", mas também de uma "esquerda que só reage em vez de propor modelos de futuro", afirmando que o Livre pode fazer essa diferença.
"Chega de haver uma direita a propor ou austeridade, ou privatizações, mas depois uma esquerda que só reage em vez de propor modelos de futuro. O Livre trouxe a esta campanha assuntos de futuro e a partir do próximo dia 31 quer levá-los ao parlamento", declarou.
"Quem está indeciso, por exemplo, entre votar no PS ou até no PAN para não ter um governo de Rui Rio e acabar por ver o seu voto utilizado - porque nem PS nem PAN excluem apoiar um governo de Rui Rio ou entenderem-se com Rui Rio para apoiar um governo de PS - é estarem a votar de uma forma e verem o seu voto utilizado de outra forma", explicou aos jornalistas.
"Felizmente, o Livre desde o início sempre se apresentou com meridiana clareza aos nossos concidadãos: se houver uma maioria à Esquerda, é parte da solução; se houver uma maioria à Direita, muito bem, é legítima, seremos parte da oposição", concluiu.
Para o dirigente do Livre, as prioridades após as eleições são "viabilizar um programa de governo, mas ter já em cima da mesa até ao próximo mês de abril a agenda para um novo modelo de desenvolvimento a ser apresentado em linhas gerais", no qual se deve discutir "o que se passa com as nossas casas e porque são tão frias no inverno", o "salário mínimo", entre outros temas.
Questionado sobre o que pode haver de diferente à esquerda depois de não ter havido um entendimento para aprovar o Orçamento do Estado para 2022, Tavares apontou o Livre como uma possível solução.
"O que pode haver de diferente é efetivamente o Livre estar na Assembleia da República e isso não havia até agora", respondeu Tavares, em declarações aos jornalistas.
O dirigente quer levar à Assembleia da República uma maneira de fazer política que "leva uma cultura de diálogo e compromisso" que, para já, "põe exigência à esquerda".
"Porque não tenha dúvidas de quando PS, PCP e Bloco virem que o Livre com posições de convergência foi eleito, voltou à Assembleia da República o que é aparentemente, segundo as sondagens, o único partido à esquerda que cresce entre 2019 e 2022, eles entenderão a mensagem que é que o eleitorado de esquerda favorece essas convergências", vincou.
O historiador sustentou que é preciso um "modelo de desenvolvimento de futuro para o país", baseada numa "economia do conhecimento e da descarbonização".
[Notícia atualizada às 17h21]
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