Este aviso consta de um artigo que o membro do Secretariado Nacional do PS hoje publica no seu blogue pessoal, intitulado "Máquina Especulativa", em que também afirma ter "pena que tenha sido necessário lutar por uma maioria absoluta do PS para garantir que a esquerda seja capaz de dar uma estabilidade progressista à governação de Portugal".
Sobre os desafios resultantes das eleições legislativas de domingo, Porfírio Silva assinala que os ciclos políticos longos "têm os seus próprios escolhos e alçapões".
"O problema básico dos ciclos políticos longos é a tendência deslizante para a concentração do poder no topo da pirâmide e o deslaçamento do enraizamento na base (seja em relação à base de apoio popular, seja em relação à base institucional que organiza o conjunto)", escreve.
Porfírio Silva diz depois acreditar que a liderança socialista "tem a noção completa desse risco e quererá combatê-lo com método".
"Não é preciso inventar: promover que o Grupo Parlamentar do PS expresse a pluralidade do país e a diversidade do nosso eleitorado, sem temer que isso prejudique a liderança executiva do Governo; assumir o parlamento como um lugar de verdadeira deliberação, usando mais a arma da argumentação, da negociação e do compromisso interpartidário do que a arma da maioria dos votos, procurando mais convencer do que vencer; apostar ainda mais na concertação social, a todos os níveis, procurando que todos os parceiros entendam -- e sintam no concreto -- que vale mais negociar do que ficar de fora", indica.
O membro do Secretariado Nacional do PS cita e elogia o discurso proferido por António Costa na noite eleitoral de domingo, quando salientou pontos como a "responsabilidade do diálogo e da concertação".
"Para evitarmos absolutamente que nos possa acontecer secar com a arrogância ou com a auto-suficiência. Como todos os outros, também o nosso ciclo vai terminar, mas temos de saber fazer este caminho atentos à diversidade do país, amigos da diferença, promotores da pluralidade", defende.
Neste seu artigo, Porfírio Silva critica Bloco de Esquerda e PCP, dizendo que "a esquerda da esquerda, fazendo do Governo do PS o bombo da festa, no meio de uma pandemia sem precedentes e de uma crise económica e social gravíssima, perdeu a noção da realidade e, com isso, deu uma oportunidade à direita".
"A esquerda da esquerda deu ao PSD um bónus (poder argumentar que a esquerda foi incapaz de garantir a governabilidade e acenar com a alternativa de um bloco central assumido ou implícito) e deu ao partido do protofascista uma janela de oportunidade que não teria daqui a dois anos, se a legislatura não tivesse sido interrompida", sustenta.
Em relação ao PSD, o "vice" da bancada do PS entende que Rui Rio "viu bem a necessidade de ter um partido de centro-direita que se libertasse do radicalismo do ir além da 'troika', mas não teve a coragem política de ser consequente".
"Queria ser de centro e, ao mesmo tempo, amigável para o protofascista, até ao ponto de vir, à última hora da campanha, sugerir uma geringonça de direita, desdizendo tudo o que vinha anunciando há semanas como o seu compromisso político", considera.
No que respeita à Iniciativa Liberal (IL), Porfírio Silva defende que "é preciso fazer um trabalho mais rigoroso no debate ideológico" e "não deixar que este partido se aproprie - para dourar a pílula de propostas políticas que só servem grupos privilegiados - das coisas boas que a inspiração filosófica do liberalismo teve na evolução do pensamento da humanidade".
"Obrigar a IL a sair dos chavões e a posicionar-se perante as diversas questões que cindem o campo alargado do liberalismo. Não esquecer que a tradição liberal em política vai desde a escola de economistas que suportou o facínora Pinochet até aos liberais que estão no Governo com o SPD na Alemanha", acrescenta.
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