Na última intervenção do debate da Comissão Permanente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva disse mesmo que esta posição sobre o mercado energético apresenta uma linha de continuidade na política externa portuguesa, sendo atualmente preconizada pelo primeiro-ministro, António Costa, mas também já era defendida pelo seu antecessor no cargo, Pedro Passos Coelho.
"As dependências económicas que se tolera transformam-se tarde ou cedo em dependência políticas e até em dependências estratégicas. Por isso, é que o primeiro-ministro de Portugal dirá mais uma vez - como tem dito ao longo dos seus seis anos de exercício do cargo e como antes dele disse o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho -- que a Europa não pode contornar mais a questão da excessiva dependência em que se encontra face à Rússia em matéria de energia", declarou.
O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros considerou depois que essa excessiva dependência energética "dá uma alavanca à Rússia e uma debilidade à Europa que só contribuem para um desequilíbrio estratégico e político".
Numa alusão aos resultados que espera da cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Europeia, Augusto Santos Silva deixou a seguinte nota: "É muito importante reagir agora, mas é também muito importante tratar agora da diversificação das fontes de abastecimento de energia na Europa, nas interligações que devem percorrer, organizar e estruturar o mercado europeu de energia em todo o seu território".
"É assim que nos tornamos menos dependentes, mais autónomos e, portanto, mais soberanos", acentuou.
Na sequência das intervenções da líder parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes, e do deputado socialista e presidente da Comissão e Assuntos Europeus, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros acusou a Rússia de ter rompido os acordos de Minsk em relação à Ucrânia e elogiou "a racionalidade e a contenção " de Kiev perante a atuação agressiva de Moscovo.
"Desde a madrugada de hoje que a Rússia franqueou mais uma linha vermelha, mais um limiar e está em plena agressão militar contra um Estado soberano. Está a causar a maior crise de segurança da Europa", apontou o membro do executivo português.
Augusto Santos Silva foi ainda mais longe no seu ataque ao regime de Moscovo, depois de mencionar as regras do Direito Internacional que vigoraram desde o pós II Guerra Mundial e que regulam a relação entre Estados soberanos.
"Esse mundo de regras é incompatível com atos de ameaça, com atos de intimidação, muito menos é compatível com atos de agressão, com o objetivo de querer resolver as questões negando ao interlocutor o direito à existência e negando-lhe qualquer espécie de dignidade", disse.
O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros frisou em seguida que o Direito Internacional é incompatível com a resolução dos problemas "á lei da bala".
"E é a lei da bala que está hoje a imperar por responsabilidade da Rússia, que está há várias horas a agredir e a invadir militarmente as Ucrânia", acrescentou.
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