Durão Barroso, ex-presidente da Comissão Europeia, alertou que “toda a vigilância” é pouca. Considerando que o presidente russo, Vladmir Putin, costuma concretizar as suas ameaças, o ex-primeiro-ministro não exclui um possível conflito nuclear.
Numa entrevista à Renascença e ao jornal Público, Durão Barroso comentou a invasão russa à Ucrânia e afirmou que Putin só aceitará dialogar quando anexar parte do país vizinho.
“Ele [Putin] modernizou as forças armadas russas. Não tanto, pelos vistos, como talvez se pudesse esperar. Temos visto algumas dificuldades (...) Mas há uma conversa que ele teve aqui há tempos com Trump, onde ele chamou à atenção, porque já tinha armas nucleares de novo tipo, nomeadamente em termos do dispositivo para as utilizar”, começou por referir.
“São, digamos, armas nucleares de alcance médio, cuja probabilidade de serem utilizadas é mais do que as armas, digamos, mais potentes. É um bocado irónico, mas é assim. E, portanto, ele há dias falou nisso. Falou nisso, em aumentar o alerta nuclear, e eu acho que já o passado nos mostrou que, às vezes, as ameaças que ele faz, têm mesmo, depois, concretização. Toda a vigilância é pouca”, notou.
O antigo presidente da Comissão Europeia entende ainda que a União Europeia (UE) deve responder à crise energética como respondeu à pandemia de Covid-19 e criar um mecanismo de mutualização de dívida que responda a custos adicionais de energia, mas também de defesa – uma proposta que diz já ter apresentado “a pessoas no poder”.
“Eu acho que a solução era – aliás, tenho discutido isso já com algumas pessoas que estão, atualmente, no poder – a criação de uma espécie de ‘bonds’ ou obrigações, para os custos adicionais de energia e também para o esforço adicional de defesa. Da mesma forma que se criou o Plano de Resiliência, com mutualização da dívida, por razões que foram, digamos, de emergência - a emergência que foi a pandemia - agora estamos numa situação que não é de menos emergência”, sublinhou.
Na ótica do antigo governante, é necessária uma resposta “coerente e unificada” por parte dos estados-membros ou corre-se o “risco” de os mercados começarem a reagir – o que pode levar a um “cenário de ‘estagflação’” - tal como alertou, por exemplo, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
“É muito importante que os países europeus, se possível, respondam a isto de forma coerente e unificada. Porque, se não, podemos ter um risco (..) Os diferentes países já estão a fazer, por exemplo, uns dão 20 euros para subsidiar a compra de gasolina, outros têm outras medidas. Bom, mas se há uma grande desigualdade, isto pode levar a que os chamados mercados comecem a distinguir, outra vez entre a dívida soberana dos diferentes países”, indicou.
“Temos que completar a política monetária com a política orçamental e tem que haver um mix das duas, porque, a meu ver, é muito possível, que a Europa venha a ter um cenário de estagflação, ou seja, recessão económica, com inflação”, alertou.
Recorde-se que a Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou, segundo dados da ONU, pelo menos 564 mortos e mais de 982 feridos entre a população civil. Mais 4,5 milhões de pessoas já fugiram do país.
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