"As comemorações devem ser abertas, plurais e em torno do arco constitucional, em relação ao qual os partidos se reveem. Nem concebo umas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril que não envolvam ativamente o PSD", declara Pedro Adão e Silva em entrevista à agência Lusa.
Professor universitário, comentador político, antigo membro do Secretariado Nacional do PS entre 2002 e 2004, mas que depois se afastou da militância partidária, Pedro Adão e Silva aponta que um dos temas que "terá de ser necessariamente celebrado é importante para compreender a história do PSD: A ala liberal e a forma como se deu o seu fim na sequência da vigília da Capela do Rato e da saída de Miller Guerra e de Sá Carneiro da Assembleia Nacional".
"A vigília da Capela do Rato cumpre 50 anos em dezembro. Logo em janeiro, há um importante discurso de Miller Guerra na Assembleia Nacional, insurgindo-se precisamente face à forma como o regime lidou com a vigília da Capela do Rato. Há temas fundadores da nossa democracia e que se prendem com a génese do PSD", salienta.
O PSD, segundo o comissário executivo das comemorações, "é um partido que celebra e sempre celebrou o 25 de Abril".
"Portanto, não acompanho essa ideia de que o PSD tem uma reserva. Pelo contrário, com vários autarcas do PSD com quem tenho contactado, há manifestação de total envolvimento e disponibilidade para as comemorações", sustenta.
Confrontado com as críticas que foram feitas no ano passado pelo presidente do PSD à estrutura que dirige, advertindo para o peso das remunerações até dezembro de 2026, Pedro Adão e Silva contrapõe que não têm qualquer sentido.
"Esta estrutura é exígua e não corresponde nada àquilo que foi sendo dito. Sempre pensei que a melhor forma de responder a essas críticas é o momento em que as comemorações se iniciam e aquilo que vai ser feito e a natureza das comemorações. Sempre atribuí às críticas do doutor Rui Rio ao calor do momento político e não tanto à natureza das comemorações", afirma.
Pedro Adão e Silva recorda depois que "foi assumido pelo Presidente da República e pelo primeiro-ministro -- e foi isso que também justificou que tivesse aceitado o convite -- a importância de haver umas comemorações longas daquilo que é o arco temporal que explica por um lado o fim do Estado Novo e o 25 de Abril e, depois, por outro lado, o processo de consolidação democrática".
"Não se trata de comemorar um dia, mas um período que abrange o processo de democratização. Como professor universitário, continuo a dar aulas, tendo suspendido o meu vínculo. Dou aulas de graça e troquei o meu salário de professor universitário por um salário de diretor-geral. Acho que nem vale a pena falar", diz.
Já sobre o facto de as comemorações ocorreram numa conjuntura política em que o Chega, que não se revê no atual regime, é a terceira maior força política no parlamento, o docente universitário e sociólogo entende que essa é uma reflexão que o regime democrático deve fazer", não a interpretando como uma dificuldade para o cumprimento do plano de comemorações.
"É preciso perceber o que motiva e justifica que uma parte dos eleitores se reveja nessa formação política. Isso torna mais atual e necessária a celebração e evocação de princípios fundadores das democracias liberais e pluralistas", advoga.
Para Pedro Adão e Silva, "a chave destas comemorações está precisamente se elas foram em torno daquilo que une, esse chão comum democrático, liberal e pluralista".
"Como reforçamos esse chão comum, como somos capazes de diminuir o espaço para a desconfiança, para o ceticismo e para a descrença nas instituições da democracia", especifica, numa alusão a um dos principais desafios inerentes ao plano de comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.
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