Ana Gomes considera que as negociações entre a Rússia e a Ucrânia servem apenas para que Moscovo tenha espaço para “reorganizar” as suas tropas e defende que aqueles que querem ajudar Kyiv têm de ser “mais consequentes e radicais”.
No seu comentário habitual na SIC Notícias, este domingo, a antiga eurodeputada revelou que não tem “acreditado muito” nas negociações entre os dois países e que não vê “boa-fé” da Rússia.
“À medida que se vão sentando à mesa, vão também continuando os ataques impiedosos contra civis”, notou. “Eu sou daquelas que pensam que estas negociações têm sido para dar um espaço de recuo e de reorganização das forças e da estratégia russa, face ao descalabro que tem sido a execução do plano de agressão russo”, acrescentou.
Ana Gomes entende que é preciso “assumir” perante os cidadãos que esta é já a “terceira guerra mundial” e que “temos de a parar”. Contudo, a comentadora sublinha que o travar do conflito não pode ser “à custa da rendição dos ucranianos”.
Para a ex-eurodeputada, a força demonstrada pelos ucranianos pode estar nos três milhões de mortos sofridos pelo país no tempo de Estaline e acredita que o país não se irá render.
“Eu penso que é completamente imoral, é uma indignidade, ver pessoas que não estão lá (...) a tentar dar justificações para que os ucraniano se rendam com o objetivo de poupar mais vidas. Isso era um desastre para todos nós, não apenas para a Ucrânia”, destacou.
Ana Gomes não acredita que Vladimir Putin vá aceitar qualquer acordo e entende que o presidente russo tem de ser derrotado.
“Aqueles que dizem que querem ajudar a Ucrânia têm de ser muito mais consequentes e radicais nas medidas que tomaram”, defendeu, acrescentando que Putin está em permanente escalada e que entende “as nossas mensagens como manifestações de fraqueza”.
“Ele [Putin] está a dar-nos uma mensagem e se nós nos mostramos intimidados é evidente que isso é mais um convite à escalada”, apontou, exemplificando com a utilização de mísseis hipersónicos por parte da Rússia na Ucrânia, nomeadamente junto à fronteira com outros países.
“É preciso compreender a cabeça de um homem que tem uma lógica perversa, pérfida, mas que está a seguir um determinado plano”, disse
Desta forma, a comentadora entende que temos de ser “consequentes” no “esforço de guerra” e que o Ocidente deve dar à Ucrânia, por exemplo, armas que “podiam fazer a diferença”.
“Os ucranianos pedem: 'Então, deem-nos armas'. (...) O Ocidente já estar a dar umas quantas armas, os próprios russos dizem que no fundo consideram que nós somos parte do conflito exatamente por estarmos a fornecer muito armamento, e depois, aquelas armas que podiam fazer a diferença, para ajudar de facto os ucranianos não só a defenderem-se, mas a derrotar militarmente de forma mais clara a Rússia, não o estamos a fazer. Do meu ponto de vista é errado”, afirmou.
Por outro lado, a antiga eurodeputada considerou que a “solidariedade” de Portugal tem sido muito importante, sobretudo no acolhimento de refugiados, incluindo refugiados russos. Contudo, entende que é preciso um trabalho “sério” na identificação do dinheiro que é preciso congelar, devido às sanções económicas à Rússia, uma vez que muito desse dinheiro irá ajudar na reconstrução da Ucrânia.
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