Cecília Meireles, deputada do CDS-PP nas últimas quatro legislaturas, disse, num espaço de comentário na CNN Portugal, que o presidente russo, Vladimir Putin, "é um tipo de líder e de político que se impressiona com argumentos de força". Ou seja, com "argumentos bélicos" ou, por outro lado, "económicos".
Na sua perspetiva, estes são os únicos argumentos que o chefe de Estado russo "reconhece". A este propósito, a centrista falou da "ameaça do corte de gás à Polónia e à Bulgária", que considerou como sendo "grave". "É evidente que um espaço como a Europa, que tem uma dependência em relação à Rússia, está limitado em relação ao que pode fazer" a propósito desta dimensão, argumentou.
Analisando as recentes deslocação do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, a Moscovo e a Kyiv, a centrista considerou que as "expetativas em relação" à viagem à Rússia "eram bastante baixas". Isto porque "estamos a falar de um interlocutor, que é Putin, que é um interlocutor que reconhece uma lógica, que é a lógica da força. Ora, essa não é a lógica das Nações Unidas".
Cecília Meireles destacou ainda, neste sentido, que "quando Guterres surge" enquanto mediador do conflito, "já surgiram vários outros interlocutores" - fazendo assim referência ao "tempo" em que o encontro se realizou. Porém, esses outros tratavam-se de "interlocutores com um exército e com um poder de decisão que o secretário-geral das Nações Unidas não tem", visto que "a sua esfera de influência é outra".
Num outro âmbito, a antiga deputada referiu que a mensagem de Guterres foi "clara" - nomeadamente "naquele momento em que ele diz que há um invasor e que há tanques russos na Ucrânia, e não tanques ucranianos na Rússia". Mas, por outro lado, também o foi a mensagem de Putin. "Cada um disse o que se esperava que cada um dissesse", asseverou.
Considerando que, "para já, não resulta muito desta viagem de Guterres" a Moscovo, Cecília Meireles defendeu ainda que caso resulte deste encontro "alguma mudança substancial, em matéria humanitária", o mesmo já terá valido a pena.
Lembrando as duas propostas apresentadas pelo secretário-geral da ONU no âmbito desse encontro - uma para o estabelecimento de "corredores humanitários", outra para uma resolução da situação em Mariupol - Cecília Meireles diz que só será possível conseguir ver se tal viagem "serviu para alguma coisa" se "virmos o resultado prático" destas propostas.
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, desencadeando uma guerra que provocou um número de baixas civis e militares ainda por determinar. No entanto, a ONU confirmou na quarta-feira que pelo menos 2.787 civis morreram e 3.152 ficaram feridos, embora tenha mantido o alerta para a probabilidade de os números serem consideravelmente superiores.
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