"É como se fizesse um corte de mais de 50% no subsídio de Natal dos portugueses. Que diria o PS se outro Governo tomasse esta medida: cortar mais de metade do subsídio de Natal aos trabalhadores?", perguntou Rui Rio, na Assembleia da República, dando em seguida a resposta: "Diria, certamente, que estamos em austeridade".
No encerramento do debate do Orçamento do Estado para 2022 na generalidade, Rui Rio insistiu que a proposta do Governo não respeita o compromisso de aumento dos salários e introduz austeridade por via da inflação, justificando também o voto contra do PSD com divergências de estratégia económica.
"A inflação é nesta proposta de Orçamento a galinha dos ovos de ouro do Governo. É através dela que o Governo se propõe enganar as pessoas, não cumprindo as promessas feitas escassos meses atrás após as eleições legislativas", afirmou o presidente do PSD.
Segundo Rui Rio, "ao se propor subir os salários apenas 0,9% quando a inflação na zona euro já passou os 7%, é evidente que os salários irão perder, pelo menos, 4% de poder de compra neste ano de 2022".
O presidente do PSD acrescentou que "isto representa uma perda superior a meio salário mensal por cada trabalhador", o equivalente a "um corte de mais de 50% no subsídio de Natal dos portugueses".
"Prometeram subir o salário médio. Prometeram um forte aumento do salário mínimo. Prometeram aumentar o peso dos salários no rendimento nacional. Prometeram que, com eles, jamais haveria austeridade", apontou.
Dirigindo-se a António Costa, o presidente do PSD, que cessará essas funções daqui a cerca de um mês, manifestou-se convicto de que "se houvesse a tal segunda volta que o senhor primeiro-ministro aqui usou para se vangloriar", os resultados seriam diferentes dos das legislativas de 30 de janeiro, que o PS venceu com maioria absoluta.
"Não adiam explicações técnicas sobre o que quer que seja. As condicionantes técnicas deviam ter sido apresentadas na campanha eleitoral. Foi isso que, transparentemente, o PSD fez", reivindicou.
Rui Rio terminou o seu discurso considerando que a proposta de Orçamento do Estado para 2022 "é mais do mesmo", não dá os devidos apoios às empresas, falha na consolidação da despesa e "restringe o investimento público às verbas europeias".
"Não queremos ser cúmplices de uma estratégia económica que, em vez de procurar rasgar novos horizontes, insiste e persiste no que até aqui tão fraco resultado deu", declarou.
No fim deste debate, a proposta do Governo foi aprovada na generalidade, com votos a favor do PS e abstenções dos deputados únicos do PAN e do Livre.
A votação final global do Orçamento do Estado para 2022 será daqui a um mês, em 27 de maio, após o período de debate na especialidade.
Esta proposta de Orçamento é em grande parte igual à que foi rejeitada logo na generalidade em outubro do ano passado, com votos contra também de BE, PCP e PEV, o que levou à dissolução do parlamento e a eleições legislações antecipadas.
Rui Rio, presidente do PSD desde janeiro de 2018, irá deixar daqui a cerca de um mês a liderança deste partido, decisão que tomou na sequência da derrota nas legislativas.
A equipa das Finanças, liderada pelo ministro Fernando Medina, prevê para 2022 uma redução da dívida pública para 120,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em relação aos 127,4% registados em 2021 e uma descida do défice para 1,9% do PIB, meta revista em baixa face aos 3,2% previstos em outubro.
A proposta de Orçamento mantém a previsão de taxa de desemprego de 6% para este ano, o que constitui também uma revisão em baixa face aos 6,5% previstos em outubro.
[Notícia atualizada às 19h03]
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