"A prova de que o atual Governo do PSD, CDS-PP e PPM se desinteressou pelo projeto e pela ilha Terceira é que, após cerca de 300 candidatos concorrerem para formação de programadores a iniciar em 2022, o grupo final selecionado obteve a notícia de que não há garantia da continuidade dos cursos serem suportados pelo Governo dos Açores", afirmou o dirigente do PS/Terceira Luís Leal, numa conferência de imprensa em Angra do Heroísmo.
Lançado em 2017 pelo executivo regional do PS, com o objetivo de mitigar o impacto da redução militar norte-americana na base das Lajes, que eliminou cerca de 400 postos de trabalho, o projeto Terceira Tech Island visava a criação de um polo de empresas tecnológicas na ilha.
O Governo Regional assegurava o pagamento de formação de curta duração em programação e o custo das rendas dos espaços onde se instalavam as empresas, estando prevista a recuperação do edifício onde funcionava a escola da Força Aérea norte-americana na base das Lajes para esse efeito no futuro.
Entre 2018 e 2020, instalaram-se na Praia da Vitória mais de 20 empresas da área digital, que criaram cerca de 170 empregos.
Luís Leal disse que, desde que o novo executivo tomou posse, em novembro de 2020, "não foi capaz de atrair uma única empresa para o projeto" e que algumas das que estavam instaladas já abandonaram a ilha Terceira.
"Das 20 empresas, sabemos que três saíram e sabemos que outras ponderam sair. Esta incapacidade de atrair empresas depois reflete-se, designadamente na capacidade de absorver os recursos", afirmou.
Em causa está, segundo o dirigente socialista, "a falta de acompanhamento" e de "confiança de que haja mais recursos humanos que possam captar".
O responsável do PS/Terceira adiantou que "houve a garantia de que em 2022 continuariam as formações", mas, depois de feitas provas de seleção, o grupo de formandos "foi surpreendido há duas semanas com a não continuidade da formação ou de o Governo eventualmente suportar os custos da formação".
Luís Leal, ex-vogal do conselho de administração da extinta Sociedade para o Desenvolvimento Empresarial dos Açores (SDEA), que estava responsável pela captação de empresas para o projeto, defendeu que era a formação de recursos humanos que permitia à ilha Terceira concorrer com outros polos digitais do país.
"Eu acho que, sem essa comparticipação, dificilmente as empresas conseguem perceber que há um investimento local que justifique a sua deslocalização ou a criação de um polo cá", apontou.
"O que interessa para as empresas de novas tecnologias são os recursos humanos e a capacidade de eles desenvolverem as suas competências", acrescentou.
O dirigente do PS/Terceira alertou ainda para a possibilidade de o projeto "ser reconfigurado para outro local e com outro nome, só porque foi uma iniciativa do Governo do Partido Socialista", alegando que há "investimentos que estão a ser feitos na ordem de milhões noutros sítios sob o mote de necessidade de expansão".
A Lusa tentou obter uma reação da Secretaria Regional da Juventude, Qualificação Profissional e Emprego, mas até ao momento não obteve resposta.
No final de 2021, o Governo Regional assinou um contrato ARAAL (regime de cooperação técnica e financeira entre a administração regional e a administração local) com a Câmara Municipal da Praia da Vitória, que previa a transferência de 700 mil euros (350 mil relativos a 2021 e 350 mil relativos a 2022) para a execução do projeto Terceira Tech Island.
Esse contrato não incluía a formação em programação, cobrindo apenas as rendas dos espaços onde se instalam as empresas, a sua manutenção e despesas fixas.
Em janeiro deste ano, à margem de uma reunião com a autarca da Praia da Vitória, o deputado social-democrata Rui Espínola frisou, no entanto, que estava "garantido no Plano e Orçamento [da região] a verba necessária para a formação dos jovens através da Academia de Código", num montante de 300 mil euros.
Já a autarca, Vânia Ferreira, admitiu que duas empresas tinham abandonado o projeto, antes de ter tomado posse, em outubro de 2021, mas que existiam outras quatro interessadas em fixar-se na Praia da Vitória.
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