Várias figuras da política nacional têm reagido, ao longo da tarde desta sexta-feira, à decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos de revogar a proteção do direito ao aborto.
Nas redes sociais, são sobretudo os políticos de esquerda que têm mostrado contestação e incredulidade perante a revogação daquele direito.
À direita, o presidente do Chega aproveitou para apelar a uma reflexão em Portugal "sobre a importância da vida", mas disse não querer reabrir o debate sobre a descriminalização da interrupção voluntária da gravidez após a decisão nos Estados Unidos da América.
A deputada socialista Isabel Moreira reagiu à notícia no Twitter, onde escreveu: "Que pavor de dia. Que destruição. Que ataque mortal às mulheres." Por seu lado, o também socialista Tiago Barbosa Ribeiro comentou a incongruência dos republicanos em falar em "direito à vida" quando insistem em manter a permissão da venda de armas que tem levado a "massacres sucessivos".
É oficial: Supremo dos EUA anula decisão que deu direito ao aborto
— Isabel Moreira (@IsabelLMMoreira) June 24, 2022
https://t.co/N3sGYPm2p7 - eu sou americana . Que pavor de dia . Que destruição. Que ataque mortal às mulheres .
“Direito à vida” pelos mesmos que impedem a proibição da venda de armas que levam a massacres sucessivos? Não, é mesmo ideologia. No dia em que os EUA sofrem um revés de décadas, em especial as mulheres pobres, lembrar que nenhuma conquista social está garantida.
— Tiago Barbosa Ribeiro (@tbribeiro) June 24, 2022
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, classificou a decisão como "infame" e "um enorme recuo nos direitos da mulheres".
"O feminismo é a luta dos direitos humanos. É a luta dos nossos dias", escreveu.
Nos Estados Unidos foi revogado o direito ao aborto seguro. Uma decisão infame e um enorme recuo nos direitos da mulheres e que não pode deixar ninguém indiferente. O feminismo é a luta dos direitos humanos. É a luta dos nossos dias #rowvswade
— Catarina Martins (@catarina_mart) June 24, 2022
Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda, defende que está "na hora de lutar pelas mulheres norte-americanas e assim lutaremos pelo futuro dos nossos direitos".
Está na hora de lutar pelas mulheres norte-americanas e assim lutaremos pelo futuro dos nossos direitos. #RoevsWade
— Joana Mortágua ️️️ (@JoanaMortagua) June 24, 2022
José Gusmão, também do BE, alerta para recuos semelhantes na Europa e avisa: "os direitos das mulheres, ou quaisquer outros, não estão conquistados para sempre. Têm e terão de ser defendidos".
Uma decisão que mostra que os direitos das mulheres, ou quaisquer outros, não estão conquistados para sempre. Têm e terão de ser defendidos. Também na Europa temos exemplos de recuos. Ao cuidado de quem pensa que já não é preciso feminismo.https://t.co/DXcgGrVrEv
— José Gusmão (@joseggusmao) June 24, 2022
Fabian Figueiredo, membro da Comissão Política do Bloco de Esquerda, recorda que votou a favor da legalização do aborto, algo que nos trouxe "para o século XXI". "Como os EUA provam, não voltar ao passado depende da nossa vigilância cidadã", aponta.
O meu primeiro voto juntou-se a outros milhares iguais ao meu para tirar as mulheres dos vãos de escada e acabar com arcaicas humilhações penais. O aborto legal e seguro trouxe-nos para o século XXI. Como os EUA provam, não voltar ao passado depende da nossa vigilância cidadã.
— Fabian Figueiredo (@ffigueiredo14) June 24, 2022
Inês Sousa Real fala em "dois pesos e duas medidas, ambos marcados pelo conservadorismo ideológico". À Lusa, a porta-voz do PAN já tinha defendido que a decisão do Supremo Tribunal dos EUA de anular o direito constitucional ao aborto naquele país é "um retrocesso grave" e disse temer que possa ter um efeito de contágio.
Dois pesos e duas medidas, ambos marcados pelo conservadorismo ideológico. Um precedente que vai ter consequências para a vida e a saúde reprodutiva das mulheres e um grande revés para os seus direitos.
— Inês de Sousa Real (@lnes_Sousa_Real) June 24, 2022
Já o Livre, que reagiu à notícia em declarações à Lusa, mostrou-se hoje solidário com as "mulheres e famílias norte-americanas" que estão contra a decisão do Supremo Tribunal dos EUA de revogar a proteção do direito ao aborto no país, falando em consequências do 'trumpismo'.
"Vamos seguir atentamente todos os aspetos da política norte-americana e estamos solidários com as mulheres e as famílias norte-americanas que creem que as decisões fundamentais da sua vida sexual, familiar e reprodutiva, em determinadas condições que já estavam reguladas, devem ser tomadas por parte das próprias pessoas", declarou Rui Tavares.
A Iniciativa Liberal (IL) considera um retrocesso nos direitos, liberdades e garantias a decisão de hoje do Supremo Tribunal dos EUA de anular a proteção do direito ao aborto, recusando qualquer recuo na legislação equilibrada em vigor em Portugal.
O Supremo Tribunal dos EUA anulou hoje a proteção do direito ao aborto em vigor no país desde 1973, numa decisão classificada como histórica que permitirá a cada Estado decidir se mantém ou proíbe tal direito.
Esta decisão não torna ilegais as interrupções da gravidez, mas devolve ao país a situação vigente antes do emblemático julgamento, quando cada Estado era livre para autorizar ou para proibir tal procedimento.
[Notícia atualizada às 22h51]
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