Cinco dos seis deputados do PCP (Jerónimo de Sousa não estava presente) aproveitaram as trocas de turno da Autoeuropa, em Palmela, no distrito de Setúbal, para levar as reivindicações do partido àqueles trabalhadores.
Uma folha A4, de um dos lados com as propostas para aumentar salários no público e no privado, aumentar as pensões no mínimo em 20 euros, fixar preços máximos na alimentação e combustíveis, ou contratos de arrendamento de dez anos.
Do outro estava impresso aquilo que o PCP diz que são as evidências da inação do Governo face ao momento que o país vive: um "corte real de 40 euros" nos salários e pensões de 800 euros; "no passado recente cortavam-se salários e pensões por decreto. Agora impõe-se o corte por via da recusa da sua atualização".
Paula Santos, Bruno Dias, João Dias, Alma Rivera e Diana Ferreira. Todos com dezenas de panfletos nas mãos, a tentar entregá-los a quem tinha acabado o turno ou se preparava para entrar ao serviço.
Esta iniciativa fez parte das Jornadas Parlamentares do PCP, as primeiras desta legislatura, que se realizam entre esta segunda-feira e terça-feira na Península de Setúbal, com enfoque no aumento dos preços, a necessidade de valorizar salários e pensões e de investir na saúde.
Uns aceitavam panfletos, outros não e Alma Rivera parecia ser aquela que mais sucesso tinha quando estendia o braço. Mas nem todos ficavam contentes por ver os deputados à porta.
"Quando foi preciso vocês estavam aqui? O PCP não estava cá na altura em que houve alterações aos horários, alterações sociais", disse à líder parlamentar, Paula Santos, um dos trabalhadores que estava de saída, deixando a deputada sem resposta.
Apesar deste episódio, houve "uma boa recetividade por parte dos trabalhadores em relação às propostas do PCP", comentou aos jornalistas Paula Santos.
A dirigente da bancada comunista acrescentou que o partido também se deslocou até à fábrica para demonstrar solidariedade aos trabalhadores face aos "elevados ritmos de trabalho, que está a levar ao aumento da exploração" e que é "um ataque aos seus direitos".
"Há condições de trabalho que não estão asseguradas. Por um lado os elevados ritmos de trabalho, por outro as questões de poder de compra que foi perdido", completou.
Uns metros à frente do torniquete que regista a entrada e a saída dos trabalhadores está Lina Melo, de cigarro na mão, sentada num banco com duas colegas, enquanto não chega o autocarro.
"Sou preparadora de cozinha", respondeu perentoriamente quando foi questionada sobre que função desempenhava no colosso industrial que é a Autoeuropa. Lina Melo trabalha cá há 29 anos, mas a empresa para a qual trabalha foi mudando. Atualmente é a Eurest.
Ao dirigente e ex-deputado Duarte Alves disse que antigamente recebia um pouco mais, "uns 30 euros" pelas suas funções, em comparação com colegas mais recentes, mas "as categorias estão congeladas há uns bons aninhos".
"O patrão não dá aumento", suspirou a preparadora de cozinha que todos os dias é responsável por ajudar a confecionar entre 1.200 a 1.400 refeições para os trabalhadores da Autoeuropa.
"Estamos aqui para ajudar a resolver essa situação", respondeu Duarte Alves depois de ouvir estas preocupações.
Lina Melo respondeu simplesmente "era bom", levantou-se e dirigiu-se ao autocarro, que chegara entretanto, já que amanhã também é dia de trabalho.
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