O antigo deputado do Partido Socialista (PS) João Soares, num espaço de comentário da CNN Portugal, considerou que "nunca houve eleições livres e justas em Angola" e que, "portanto, se vier a acontecer no processo" que se inicia com a ida às urnas nesta quarta-feira, será "qualquer coisa de novo".
Neste âmbito, João Soares fez questão de salientar aquilo que disse ser "uma das graves entorses a um processo democrático que existem na sociedade angolana, que é o controlo pelo mesmo partido político". Um partido que, prosseguiu, "está no poder há 47 anos", prestes "a ultrapassar o recorde da ditadura de [António de Oliveira] Salazar e de [Marcelo] Caetano", em Portugal.
Assegurando que "o que está a acontecer em Angola [...], não passaria em qualquer observação independente", o também antigo presidente da Câmara Municipal de Lisboa ressalvou que os líderes do país "começam por não praticar sequer a democracia internamente".
"O MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola] nunca elegeu democraticamente o seu líder. José Eduardo dos Santos sucedeu a Agostinho Neto, tendo sido designado por Agostinho Neto, e João Lourenço sucedeu a José Eduardo dos Santos, tendo sido designado por José Eduardo dos Santos", explicou.
Acrescentando que esta é, assim, "a mesma equipa, as mesmas pessoas e a mesma ladroagem", detentoras das "maiores fortunas do mundo", João Soares apontou que está aqui em causa "o modelo pós-soviético do sr. Vladimir Putin", o presidente da Rússia. "É aquilo que conhecemos na Rússia e que agora está a aparecer de uma forma mais clara para a opinião pública internacional", destacou.
O ex-deputado socialista disse ainda que existe "outra coisa que é absolutamente indiscutível. Angola é um dos países mais ricos do mundo, mas é também um dos países onde o poder político é mais corrupto. E nós em Portugal sabemos isso muitíssimo bem", afirmou.
João Soares foi ainda recuperar aquele que considerou ser "um dos exemplos mais dramáticos" dessa afirmação, o "Banco Espírito Santo Angola (BESA)".
"Espatifaram sete mil milhões de euros [...], mais do que custava o Serviço Nacional de Saúde (SNS) nessa altura em Portugal, com o BESA Angola. E não é dinheiro que foi para crédito mal parado, é dinheiro que foi levado em caixas pela nomenclatura que está no poder: José Eduardo dos Santos e, agora, João Lourenço", concluiu João Soares.
De recordar perto de 14,4 milhões de angolanos começaram esta quarta-feira a ser chamados a votar nas eleições gerais angolanas, que pretendem determinar a constituição da Assembleia Nacional e, consequentemente, o presidente e vice-presidente do país.
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