"Não que nos surpreenda -- não nos surpreende -- mas esta decisão de hoje, da Direção Nacional do PPD/PSD, cujo primeiro responsável é o doutor Luís Montenegro, diz bem ao que vem a direita em Portugal: não há linhas vermelhas contra a extrema-direita antidemocracia, não há linhas vermelhas para quem faz discursos xenófobos, racistas, não há linhas vermelhas para quem tenta introduzir no código penal penas que são violadoras da dignidade do ser humano", considerou Eurico Brilhante Dias.
Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, Eurico Brilhante Dias afirmou que "é um dia particularmente triste para a democracia portuguesa", referindo-se ao apelo da direção da bancada do PSD para que os deputados votassem a favor do nome do deputado do Chega para a vice-presidência do parlamento.
"Pela primeira vez, um partido fundador da democracia, um partido que se diz da social-democracia, um partido que teve como fundadores democratas que eram democratas ainda antes do 25 de abril" deu uma orientação de voto "num candidato da extrema-direita antidemocrática", disse.
Brilhante Dias reforçou que se trata de "um mau dia para a democracia": "Nós perdemos, neste combate contra a extrema-direita antidemocrática populista, um partido fundador da democracia", considerou.
O deputado socialista defendeu que "ficou o PS e a esquerda parlamentar a defender a democracia e ficaram, é preciso dizer, alguns deputados, ou uma parte dos deputados do PPD/PSD, que, naturalmente, perante esta gravidade, não seguiram a orientação de voto".
O Chega falhou hoje, pela terceira vez, a eleição de um vice-presidente do parlamento, apesar de o candidato Rui Paulo Sousa ter recolhido mais cerca de três dezenas de votos favoráveis do que os deputados indicados no início da legislatura.
De acordo com o resultado anunciado no final do plenário, Rui Paulo Sousa, deputado eleito por Lisboa e vice-presidente da bancada do Chega, obteve 64 votos favoráveis e 137 brancos, quando precisava de 116 votos a favor para ser eleito.
Ao contrário das duas anteriores votações, em que o PSD deu liberdade de voto aos seus deputados, hoje o líder parlamentar social-democrata, Joaquim Miranda Sarmento, apelou ao voto favorável da sua bancada no candidato do Chega, invocando a "prática parlamentar" que atribui esse cargo aos quatro partidos mais votados.
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