Marcelo Rebelo de Sousa falava na sessão solene de abertura do ano académico de 2022/2023 do Instituto da Defesa Nacional (IDN), em Lisboa, numa intervenção em que descreveu Portugal como "um país vulnerável" à conjuntura externa, mas que também pode ter "ganhos objetivos em tempos de maior incerteza, risco ou aleatoriedade".
"O investimento externo em curso, o turismo, a procura de residência segura aí estão para o confirmar, como o estiveram durante a II Guerra Mundial", apontou.
Em tom de alerta, o chefe de Estado afirmou que "o mundo em 2022 é caracterizado, entre outras dimensões, por uma profunda pressão sobre as democracias, com a concorrência alastrada de modelos autoritários e híbridos cujo encanto colhe não só em países dentro e fora da Europa mas também em partidos que conquistaram espaço nos sistemas democráticos ocidentais do que nos últimos anos".
"Hoje mais do que nunca precisamos que a democracia seja capaz de mobilizar os cidadãos para os grandes debates contemporâneos, para os grandes desígnios de Portugal, para os perigos que assolam a nossa segurança coletiva", considerou Marcelo Rebelo de Sousa.
"Essa mobilização deve partir de compromissos políticos sólidos e estáveis, dando a consistência indispensável à permanência dos nossos interesses nacionais, independentemente dos sucessivos contextos estratégicos, fazendo da previsibilidade na execução das políticas públicas uma virtude comparativa", acrescentou, sem especificar a que compromissos se referia.
O Presidente da República salientou que existem atualmente "à escala global menos democracias do que há dez, vinte anos".
"A democracia precisa de ser cuidada na forma e no conteúdo, preservada nos seus valores inegociáveis, reformada nos seus elementos mais cristalizados, rejuvenescida nos seus protagonistas, numa adaptação às grandes transições que o mundo de facto atravessa e numa capacidade de resposta a problemas concretos de pessoas de carne e osso que formam as comunidades e são tantas vezes tão diferentes da visão dos ciclos políticos e mediáticos específicos", defendeu.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, o mundo está "em turbulência acelerada" e para isso contribui "um caldo explosivo de fatores".
"Falo de secas prolongadas, escassez de água, aumento do nível do mar, alterações de fronteiras, maior insegurança alimentar, alta de preços de bens essenciais, deslocação massiva de pessoas para as grandes cidades e pressão descontrolada sobre os seus recursos e serviços, revoltas sociais, guerras civis e, como se não chegasse, uma tendência global para o nacionalismo capaz de minar muito do que resta dos bons ofícios diplomáticos", elencou.
O Presidente da República apelou uma vez mais a que não se deixe "cair o combate às alterações climáticas por razões económicas conjunturais".
Neste contexto, manifestou confiança em Portugal e aconselhou: "Precisamos de mobilizar em constância para os grandes debates estratégicos, antecipar as grandes tendências, fazer as opções com permanente acerto, evitar cisões temerárias, alocar recursos com maior equidade intergeracional, decidir com base em melhor informação, sensatez e horizonte de longo prazo".
[Notícia atualizada às 15h42]
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