PSP e GNR 'disparam' ódio nas redes? O que dizem os partidos
O alegado discurso de ódio partilhado por agentes de segurança é o tema desta quinta-feira. Ainda nem todos os partidos reagiram, mas o Ministério da Administração Interna já deu 'luz verde' para um inquérito.
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Política Racismo
A SIC emitiu, na quarta-feira, uma reportagem na qual dava conta de mensagens de ódio partilhadas pelas forças de segurança portuguesas nas redes sociais. De acordo com a investigação, levada a cabo por um Consórcio de Jornalista Portugueses - do qual fazem parte jornalistas da SIC, Expresso, Setenta e Quatro e Público -, há, pelo menos, 591 agentes de segurança que praticam crimes de ódio nas redes sociais, partilhando mensagens de caráter racista e xenófobo, sendo também muitos dos conteúdos associados à extrema-direita.
A reportagem, que terá continuação esta quinta-feira, dá conta de diversos casos de publicações de caráter “discriminatório, incitadoras de ódio e violência contra determinadas pessoas". "Procura-se sniper com experiência em ministros e presidentes, políticos corruptos e gestores danosos", lia-se numa destas mensagens, mostrada sobre a imagem do cano de uma espingarda que um militar da GNR de Vendas Novas publicou no Facebook.
"Enquanto não limparem um ou dois políticos, não fazem nada...", sugeria um outro militar da GNR de Setúbal, no grupo fechado 'Colegas GNR'.
No rescaldo de 'Quando o ódio veste a farda'
Após a emissão da reportagem, o ministro da Administração Interna, responsável pelo setor, esclareceu, de acordo com uma nota a que o Notícias ao Minuto teve acesso, que iria ser aberto um inquérito. “Estas alegadas mensagens, que incluem juízos ofensivos da honra ou consideração de determinadas pessoas, são de extrema gravidade e justificam o caráter prioritário do inquérito agora determinado à IGAI [Inspeção Geral da Administração Interna]", lia-se no comunicado do ministério tutelado por José Luís Carneiro.
Partido Socialista
Já o grupo parlamentar do Partido Socialista (PS) disse, esta quarta-feira, que ia esperar pelos resultados da investigação. "Tudo aquilo que for de apurar, apurar-se-á em momento oportuno", garantiu a deputada socialista Joana Sá Pereira em declarações aos jornalistas, alertando ainda que o "pior contributo" que a sociedade pode dar é colocar "em causa as forças de segurança".
Bloco de Esquerda
Os bloquistas apressaram-se a entregar um requerimento para que José Luís Carneiro seja ouvido pelo Parlamento acerca deste assunto, por forma a perceber se este é um "problema estrutural". "É importante garantir que o Governo tem tolerância zero relativamente a este tipo de crimes", afirmou Mariana Mortágua aos jornalistas esta tarde, sublinhando que é "extremamente preocupante quando as denúncias revelam uma infiltração da extrema-direita violenta dentro das forças de segurança, que devem defender todas e todos".
Partido Comunista Português
Também os comunistas abordaram esta questão, considerando "gravíssimo" que profissionais da PSP e GNR expressem "ódio racista" e façam ameaças nas redes sociais, ao arrepio da lei, e assinalou que a investigação jornalística fez aquilo que as instituições deviam ter feito. "O PCP não pode deixar de assinalar que uma investigação jornalística fez aquilo que as instituições respetivas não fizeram", notaram, em comunicado.
Iniciativa Liberal
A Iniciativa Liberal condenou também "tudo o que sejam manifestações de racismo", e sublinhou que vai acompanhar o requerimento pedido pelos bloquistas. "Teria sido melhor que aquilo que foi trazido a lume agora tivesse resultado de uma investigação do próprio IGAI 'a anteriori' e não 'a posteriori'", alertou o ainda líder do partido, João Cotrim Figueiredo.
Livre
Menos de 24 horas depois da reportagem ser emitida, também o Livre reagiu, apelando que o inquérito levado a cabo para averiguar os casos denunciados na reportagem seja "eficaz e célere". "O Livre vê este caso com muita preocupação e esperamos que todas as partes pertinentes e que a tutela tomem ações decisivas para abordá-lo e para tentar resolvê-lo", disse o dirigente do partido Tomás Cardoso Pereira.
Quase 600 agentes mancham imagem das forças de segurança?
Os partidos acima consideraram que não se deve tomar 'o todo pela parte', mas deixaram alertas. Durante a sua intervenção, e depois de ter dito que a imagem destes profissionais não ficava manchada, Joana Sá Pereira afirmou que, a confirmar-se esta situação, as mensagens "podem pôr em causa a confiança dos cidadãos nas forças de segurança [...]".
Já Mortágua, também fez questão de salientar: "Acho que a maioria das forças de segurança não são racistas, não cometem crimes". Já o PCP, "não confunde todos os polícias" com os que "mancham a farda que envergam".
E mais à direita? O que diz o Chega?
O presidente do partido, André Ventura, acusou o Governo de ter uma "atitude persecutória" e de "humilhação" dos polícias e afirmou vai denunciar o caso à Comissão Europeia. Diz o líder partidário que dará este passo para "denunciar o clima de intimidação e de humilhação à polícia que algumas entidades estão a levar a cabo, sobretudo o Ministério da Administração Interna e o ministro da Administração Interna".
Já sobre as declarações do responsável, o grupo parlamentar do PS foi peremptório: "São lamentáveis. Num quadro do Estado de Direito nenhum cidadão pode achar que está acima da lei. Há a investigação aberta, esperaremos pelos resultados. Achar que há cidadãos acima da lei, acho que não é correto. Todos nós estamos sujeitos à lei", acusou.
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