O jornal 'Expresso' noticiou hoje que o ex-ministro da Defesa e atual ministro dos Negócios Estrangeiros foi informado em março de 2020 de que o custo das obras no antigo Hospital Militar de Belém estava a derrapar.
Segundo o jornal, que cita um ofício de março de 2020, com as obras já a decorrer, o diretor-geral de Recursos de Defesa Nacional (DGRDN), Alberto Coelho, --- hoje arguido por corrupção e branqueamento na Operação Tempestade Perfeita ---, informou o ministro sobre "trabalhos adicionais" que já somavam quase um milhão de euros extra.
Em declarações aos jornalistas no parlamento, o deputado e coordenador do PSD na Comissão de Defesa, Jorge Paulo Oliveira, considerou que esta notícia reforça o entendimento dos sociais-democratas.
"Há um mundo de questões por responder, um mundo de contradições por esclarecer quanto à atuação do ministro João Gomes Cravinho em torno das obras de conversão do antigo Hospital Militar de Belém em centro Covid (...) A verdade do senhor ministro em vários momentos não coincide com a verdade dos factos", criticou.
O deputado do PSD recordou que, recentemente no parlamento, o ministro afirmou que "nunca autorizou nem lhe foi solicitado" que autorizasse um aumento do custo das obras.
"Ora, os factos hoje conhecidos vêm demonstrar de forma cabal que pelo menos metade dessa derrapagem foi do conhecimento do senhor ministro, que a essa derrapagem da despesa não se opôs e que, pelo menos tacitamente, autorizou essa mesma despesa", considerou Jorge Paulo Oliveira.
O deputado defendeu que "os portugueses têm direito à verdade e que essa não prescreve", lembrando que os sociais-democratas têm feito várias diligências nos últimos dois anos para esclarecer este assunto.
Na quarta-feira, a comissão parlamentar de Defesa aprovou, com a abstenção do PS, a audição do ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, e do secretário de Estado da Defesa, Marco Capitão Ferreira, sobre a investigação "Tempestade Perfeita", a pedido do PSD.
"Esperamos que na audição ainda não marcada -- que seja o mais breve possível -- na Comissão de Defesa o senhor ministro ofereça as respostas que os portugueses exigem e têm direito", afirmou.
Questionado se as notícias hoje conhecidas não são suficientes para o PSD pedir a demissão de Gomes Cravinho. Jorge Paulo Oliveira reiterou que "a principal preocupação do PSD é o apuramento da verdade".
"O PSD tem feito inúmeras diligências, não é primeira vez que interpelamos o ministro e, no final dessa audição, o PSD será consequente com a avaliação que fizer dessa mesma audição, da prestação do ministro", disse.
No passado dia 20 de dezembro, no debate de urgência requerido pelo Chega no parlamento sobre o tema, Gomes Cravinho garantiu não ter autorizado um aumento de despesa além dos 750 mil euros inicialmente previstos para a requalificação do antigo Hospital Militar de Belém quando tutelava a Defesa.
"Se eu autorizei algum acréscimo de despesa para além dos 750 mil euros? Não, a resposta é não, não autorizei, nem aliás me foi solicitado que autorizasse", assegurou.
A operação "Tempestade Perfeita" foi desencadeada em dezembro pela Polícia Judiciária (PJ), em coordenação com o Ministério Público, e resultou em cinco detenções, entre as quais três altos quadros da Defesa e dois empresários, num total de 19 arguidos, que respeita ao período em que João Gomes Cravinho tutelou aquele ministério.
Um dos cinco detidos é o ex-diretor-geral de Recursos da Defesa Nacional Alberto Coelho, alegadamente envolvido na derrapagem nas obras de requalificação do Hospital Militar de Belém -- e que mais tarde presidiu a uma empresa pública do setor da Defesa, a ETI (EMPORDEF - Tecnologias de Informação, S.A).
Em causa estão gastos de cerca de 3,2 milhões de euros na empreitada para reconverter o antigo Hospital Militar de Belém, em Lisboa, num centro de apoio à covid-19, obra que tinha como orçamento inicial 750 mil euros -- derrapagem revelada por uma auditoria da Inspeção-Geral da Defesa Nacional (IGDN)
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