José Manuel Pureza pede que Igreja encare indemnização a vítimas

O professor universitário e antigo deputado do Bloco de Esquerda José Manuel Pureza defende que os bispos devem equacionar o cenário de indemnizar as vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica, cujos testemunhos foram revelados pela Comissão Independente.

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Lusa
03/03/2023 07:00 ‧ 03/03/2023 por Lusa

Política

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algo que a Igreja deve encarar. Não pode estar, de maneira nenhuma, excluída essa hipótese. Noutras situações, idênticas àquelas que se viveram em Portugal, outras igrejas adotaram essa medida de reparação pecuniária às vítimas e às suas famílias. É de encarar com toda a determinação essa possibilidade, porque não sendo senão uma ferramenta, é uma ferramenta que deve ser mobilizada pela Igreja Católica", refere, em declarações à Lusa.

No dia em que se realiza a assembleia da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), em Fátima, para debater e apresentar as respostas ao relatório da comissão liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, o ex-deputado bloquista - assumidamente católico e um dos mais de 130 subscritores de uma carta enviada ao organismo presidido pelo bispo José Ornelas - exige mudanças no comportamento da Igreja e avisa que é preciso ir além dos pedidos de perdão.

"É absolutamente necessário que a resposta dada pela hierarquia católica não seja minimalista. Tem de ser uma resposta de plena determinação e com todas as consequências que é necessário tirar daquele relatório trágico", diz, continuando: "Se ficarmos apenas por um pedido de perdão genérico e que não seja um pedido de perdão diretamente e pessoalmente a cada uma das vítimas que esteja diante de nós, valerá alguma coisa, mas muito pouco".

José Manuel Pureza assume um "antes e depois" do relatório sobre os abusos sexuais na Igreja e apela à "lucidez e humildade" dos bispos para harmonizarem a sua posição relativamente a esta matéria com a mensagem do Papa Francisco, considerando que será preciso "coragem, lucidez e determinação" para mudar comportamentos, práticas e mentalidades na instituição.

"Para que não venham a eclodir fenómenos deste tipo, é preciso que a relação de poder seja completamente transformada. Isso leva tempo, passa pela formação e por uma conceção de organização da igreja que previna este tipo de relação de poder -- aquilo que o Papa Francisco corajosamente vem chamando o pecado do clericalismo. É preciso erradicar esse pecado da vida da Igreja", explica, sem deixar de notar que estará atento para avaliar a resposta da CEP.

Os bispos reúnem-se durante o dia em Fátima, em assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), e apresentam as suas conclusões às 18:00, em conferência de imprensa, sendo esperado o anúncio de medidas imediatas por parte da hierarquia católica.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, que validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815, alertou desde logo que os dados "devem ser entendidos como a 'ponta do iceberg'".

Leia Também: Eutanásia. BE diz que interpretação do TC é "um pouco surpreendente"

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