"Eu penso que o professor Cavaco Silva, com as declarações que hoje proferiu, revela uma profunda desatenção à estratégia do Governo e ao conjunto de medidas que foi anunciado há algum tempo, muitas das quais encontram-se ainda em discussão pública", disse à Lusa João Torres.
O número dois do PS reagia às declarações de hoje do também antigo primeiro-ministro social-democrata para o setor da habitação e da sua conclusão de que a crise nesse domínio "é resultado do falhanço da política do Governo", manifestando "muitas dúvidas" quanto ao sucesso do pacote do executivo, que considerou ter um "problema de credibilidade".
"Ao longo dos últimos anos habituámo-nos a ouvir o professor Cavaco Silva quase sempre com um espírito destrutivo em relação ao Governo e em relação ao PS, e hoje não foi exceção", considerou João Torres.
Para o antigo secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor, "seria esperável, por parte de um antigo chefe de Estado, que tivesse uma postura mais construtiva".
João Torres recusou ainda "com veemência" a crítica de que a crise na habitação é culpa do Governo PS, dizendo que "há vários fatores, muitos deles com natureza complexa, que explicam o momento que se está a atravessar do ponto de vista dos custos do acesso à habitação".
João Torres disse que a "profunda desatenção" de Cavaco Silva se revela por não assinalar, por exemplo, que "há hoje em execução no país 230 estratégias locais de habitação que foram concebidas em parceria com os municípios".
"Não há nenhum tipo de enviesamento ideológico por parte das medidas que o Governo apresentou", acrescentou o responsável do PS, já que "grande parte dos incentivos e benefícios fiscais são justamente destinados aos proprietários e aos senhorios".
Cavaco Silva falou hoje na conferência que assinalou os 30 anos do Programa Especial de Realojamento (PER), uma iniciativa da Câmara de Lisboa, onde também esteve presente o presidente do PSD, Luís Montenegro, que considerou "justificada e fundamentada" a crítica de Cavaco Silva.
"Nós temos vindo a alertar para esta opção de o Governo trazer tudo menos aquilo que se pretende, que é confiança, estabilidade, previsibilidade e capacidade de executar um verdadeiro programa que aumente a oferta da habitação em Portugal", enfatizou o líder do PSD.
O número dois do PS disse à Lusa que a crítica de Montenegro "é absolutamente infundada", e que as medidas do Governo assentam "na confiança que é preciso gerar entre todos os agentes do setor".
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