Mudar voo de Marcelo? "Tenho dúvidas de que não estejamos perante crime"
André Ventura fala numa "teia de tráfico de influências" do Governo e do Partido Socialista e pede consequências políticas. "Hoje podíamos estar a falar de um Presidente da República enredado numa teia de tráfico de influências absolutamente lamentável", atirou.
© Global Imagens
Política TAP
O líder do Chega, André Ventura, afirmou, esta quarta-feira, que pode estar em causa um "crime de tráfico de influências" no caso que diz respeito ao pedido de alteração de um voo do Presidente da República, feito pelo ex-secretário de Estado das Infraestruturas Hugo Mendes à TAP.
Em declarações aos jornalista na Assembleia da República, numa reação à audição de Christine Ourmières-Widener na comissão parlamentar de inquérito à tutela política da gestão da TAP, que ontem decorreu, André Ventura começou por falar numa "teia de influência" e de "cumplicidades, referindo-se à "forma de trabalho do Governo e de membros do Governo", que "está ou esteve a capturar o Estado nos últimos anos".
Destacando alguns aspetos particularmente "preocupantes", para os quais pede "consequências políticas", o líder do Chega acabou por se referir diretamente ao caso que envolve um voo do Presidente da República de Maputo para Portugal.
"A tentativa de alteração de um voo do senhor Presidente da República mostra bem a forma como o Governo e como o PS estão habituados a trabalhar, sem se preocupar com as pessoas que tinham voo marcado ou com as suas agendas. Houve um governante que procurou alterar um data de voo, de forma unilateral, sendo depois bloqueado nessas intenções pela mesma CEO que foi exonerada pelo Governo", afirmou.
"Vou dizer isto sabendo que certamente as autoridades já estão neste momento a fazer o seu papel. Tenho as maiores duvidas de que não estejamos perante um crime de tráfico de influências ou outros", considerou.
Para Ventura, cabe agora ao Ministério Público investigar.
"Esse é um papel que agora caberá ao Ministério Público e que não precisará de denúncia. Essa troca de mensagens, a tentativa abusiva de influenciar o funcionamento de uma companhia aérea, alterando um voo, apenas foi bloqueada pelo bom senso aparente da Presidência da República e da própria CEO", disse.
"Se este bom senso não tivesse imperado, hoje podíamos estar a falar de um Presidente da República enredado numa teia de tráfico de influências absolutamente lamentável e isto mostra bem como o Governo e o Partido Socialista têm lidado com negócios do Estado", atirou.
Outro caso preocupante para o presidente do Chega diz respeito a uma reunião, mantida em 17 de janeiro, na véspera de Christine Ourmières-Widener ir ao parlamento prestar esclarecimentos sobre a demissão da ex-administradora Alexandra Reis, em que terão estado presentes deputados do PS, nomeadamente Carlos Pereia, e assessores e chefes de gabinete de membros do Governo.
"Mostra bem a falta de ética e a cumplicidade que existe nesta investigação. É evidente que o PS tentou dizer à CEO da TAP com o que iria ser confrontada e a forma como deveria responder. É evidente que não houve nenhuma ética, mas é evidente também que Carlos Pereira não tem nenhumas condições para continuar na comissão parlamentar de inquérito", defendeu Ventura, que afirmou ainda que também Eurico Brilhante Dias, líder parlamentar do PS, e António Costa, primeiro-ministro, devem "explicações" sobre este assunto.
De realçar que a iniciativa da reunião em causa partiu, de acordo com a CEO, do gabinete do ministro das Infraestruturas, João Galamba.
Questionado se acompanha o pedido de demissão do ministro das Infraestruturas, feito pela Iniciativa Liberal, o presidente do Chega respondeu que "tendencialmente sim", mas ressalvou que é preciso "ouvir uma explicação dos governantes antes de fazer um pedido formal de demissão".
"Se a resposta que o PS tiver para dar for a resposta que deu ontem à noite [terça-feira], de que foi apenas uma reunião de preparação, então sim, eu acho que ou há consequências políticas ou o país deixa de acreditar no que se passa aqui no parlamento", defendeu.
Ventura apontou que a situação dos ministros das Infraestruturas, João Galamba, e das Finanças, Fernando Medina "já estava difícil e fica cada vez mais periclitante".
"Isto tudo junto mostra bem ao que chegámos – a um Governo que quis capturar uma empresa e que é uma forma de atuar no Estado, que provavelmente terá consequências ate de forma penal", rematou.
Recorde-se que a ainda presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, foi a terceira personalidade de uma lista de cerca de 60 a ser ouvida nesta comissão parlamentar de inquérito, que foi constituída por iniciativa do Bloco de Esquerda. Numa longa audição, na qual se emocionou, a gestora disse ser um "mero bode expiatório". Já sobre a sua demissão, afirmou que foi afastada por justa causa "por evitar ceder às pressões" para se demitir, tendo tido conhecimento do seu afastamento pela televisão.
[Notícia atualizada às 13h12]
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