Em entrevista à RTP, transmitida hoje à noite, na qualidade de secretário-geral do PS, António Costa alegou que Luís Montenegro "quer manter uma situação equívoca" e está a ajustar a sua atuação política para "que se distinga pouco o PSD para os eleitores do Chega".
Interrogado se não ficou descansado quando Luís Montenegro numa entrevista recente excluiu governar ou aceitar o apoio de partidos "racistas, nem xenófobos, nem oportunistas, nem populistas", o líder dos socialistas e primeiro-ministro realçou nessa frase "o que não diz".
"Não disse o que era necessário dizer: não haverá nenhum acordo com o Chega", realçou.
Para António Costa, o que o presidente do PSD deveria ter dito era "com o Chega nada, nada, nada", mas "não disse, e era isso que deveria ter dito".
"O grande problema", segundo o secretário-geral do PS, "não é a dimensão do Chega em si -- que já é significativa --, mas é o que o Chega condiciona e determina a ação política da direita democrática".
No seu entender, "hoje o PSD tem muitas vezes um comportamento, uma atitude, um vocabulário que não corresponde àquilo que é um partido institucional".
António Costa deu como exemplo ter havido "um vice-presidente do partido" -- Paulo Rangel -- "a dar uma conferência de imprensa pondo em causa a visita de um chefe de Estado de um país irmão como é o Brasil" e identificou uma "enorme degradação no debate político no vocabulário que hoje a direita vai utilizando".
"Pior do que a situação equívoca, é que todo o posicionamento político do PSD, todo o tipo de discurso que o PSD vai tendo sobre as questões das migrações, sobre o funcionamento das instituições, o vocabulário que vai utilizando revela uma preocupação fundamental do doutor Montenegro, que é que se distinga pouco o PSD para os eleitores do Chega", sustentou.
O secretário-geral do PS comparou o populismo a "um vírus que se vai transmitindo" e contra o qual é preciso proteção e vacinação, "uma pandemia política".
Nesta entrevista, António Costa foi questionado sobre a exigência de Luís Montenegro para que se pronuncie sobre a polémica em torno da fundamentação jurídica das exonerações na TAP, mas evitou o tema.
O secretário-geral do PS disse antes querer saber "qual é a alternativa do PSD" para o futuro da companhia aérea portuguesa.
Interrogado se não entende que deve falar da existência ou não de um parecer jurídico e se não considera que houve "uma trapalhada" na articulação entre ministérios sobre este assunto, António Costa não respondeu diretamente à pergunta.
Falando em termos gerais da Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAP, defendeu que o Governo não deve interferir nas competências de outros órgãos de soberania e que as comissões de inquérito não devem ser "arma de arremesso político, ou se não perdem a sua credibilidade".
Segundo António Costa, também o presidente do PSD deveria "aguardar pelos resultados", mas "a cada depoimento quer transformar num episódio da semana".
[Notícia atualizada às 22h07]
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